Jesus, este ano (re)nasço conTigo

O desafio para o Advento que se aproxima é o de parar, olhar para Jesus, ouvir o Espírito e fazer caminho para acolhermos de verdade Cristo, com tudo o que isso exige. O Natal é tempo favorável para a conversão.

Como se relaciona a justiça com o Natal? Peguei na Bíblia e pus-me à procura de respostas.

Pela fé em Cristo, somos chamados a viver uma vida nova: deixarmos o homem velho que vive segundo a Lei da carne e abraçarmos o homem novo que vive com justiça cristã segundo a Lei do Espírito (Ef 4, 20-24).

Vivermos segundo a Lei do Espírito, falando e procedendo de forma justa, torna-nos irmãos de Jesus, permitindo-nos participar na filiação divina (1 Jo 2, 29). Dito por outras palavras, a justiça cristã é caminho de santificação (Rom 6, 19), com a promessa de que por este caminho seremos felizes em tudo o que fizermos (Tgo 1, 25).

Mas como podemos avaliar se vivemos como justos segundo a Lei do Espírito? Uma das formas é pelos frutos da justiça cristã, nomeadamente pela ausência destes, nas várias dimensões da nossa vida. Os frutos da justiça cristã que identifiquei são a caridade (Fil 1, 9-11), a unidade (Ef 2, 15-16), e a paz (Is 32, 17).

Uma das formas é pelos frutos da justiça cristã, nomeadamente pela ausência destes, nas várias dimensões da nossa vida. Os frutos da justiça cristã que identifiquei são a caridade (Fil 1, 9-11), a unidade (Ef 2, 15-16), e a paz (Is 32, 17).

Caridade

«Pelo amor, fazei-vos servos uns dos outros. É que toda a Lei se cumpre plenamente nesta única palavra: ama o teu próximo como a ti mesmo. (…) Carregai as cargas uns dos outros» (Gal 5, 13-14; 6, 2).

Importa reconhecer onde falta caridade na nossa vida e perceber de que forma podemos colocar-nos ao serviço dos outros, em particular dos que sofrem. Procuremos atuar como justos que, por amor a Deus, desejam dar aos outros o que lhes é devido. Talvez consigamos identificar um amigo em sofrimento. Um familiar que vive em solidão. Um vizinho com fome. Uma instituição a precisar de apoio.

O Papa Francisco, na sua mensagem para o dia mundial dos pobres (15 de novembro de 2020), refere a importância de mantermos o nosso olhar voltado para o pobre, ainda que seja difícil, “para imprimirmos a justa direção à nossa vida pessoal e social”.

Unidade

«É um movimento da separação para a comunhão, do egoísmo para o amor, do ego para Deus. E, embora grande parte disto possa parecer abstrato, retorcido e muito afastado dos problemas e das preocupações da vida quotidiana, trata-se, na prática, de uma experiência de maravilhosa simplicidade – a simplicidade que vemos espelhada em Jesus» (em Jesus Hoje, de Albert Nolan).

Importa reconhecer situações da nossa vida que são caracterizadas pela divisão (a indiferença é também divisão!). Procuremos um estilo de vida que acolha o desejo de Jesus de sermos um só (Jo, 17, 21), e de vivermos como irmãos, responsabilizando-nos pelas batalhas contra situações de injustiça a que assistimos no mundo.

Procuremos um estilo de vida que acolha o desejo de Jesus de sermos um só (Jo, 17, 21), e de vivermos como irmãos, responsabilizando-nos pelas batalhas contra situações de injustiça a que assistimos no mundo.

Este processo começa com a consciência do impacto das nossas ações, nas mais pequenas decisões. Um bom exemplo é a forma como escolhemos consumir. Talvez possamos planear as compras de Natal de forma sustentável, analisando a pegada social, económica e ambiental. Podemos ponderar apoiar vendas sociais, priorizar marcas portuguesas, apostar em negócios mais pequenos ou em marcas ambientalmente sustentáveis.

Nesta dimensão, aconselho a leitura (essencial) da nova Encíclica do Papa Francisco sobre a fraternidade e a amizade social, Fratelli Tutti, que nos convida a sonhar com uma única Humanidade.

Paz

«O processo de paz é um empenho que se prolonga no tempo. É um trabalho paciente de busca da verdade e da justiça, que honra a memória das vítimas e abre, passo a passo, para uma esperança comum, mais forte que a vingança» (mensagem do Papa Francisco para o dia mundial da paz, 1 de janeiro de 2020).

Importa reconhecer situações marcadas pelo conflito e inquietação, na nossa vida e no mundo. Procuremos compreender o nosso papel como obreiros da paz (Mt 5, 9) nestas situações onde persiste a discórdia. Santo Agostinho descreveu a paz como a “tranquilidade da ordem”, estando a ordem associada à instauração da verdade. É a Lei do Espírito que suscita em nós a sede de verdade, seja na nossa relação com Deus, seja connosco próprios, seja com o mundo à nossa volta. Desejemos ser capazes de ouvir o Espírito e agir em conformidade. Talvez sejamos chamados a pedir perdão a um amigo, ou a perdoar um familiar. Talvez o nosso papel na instauração da paz passe por dar voz a vítimas de injustiças sociais, expondo as suas realidades (verdades).

Para que Jesus nasça este Natal em nossas casas, temos de desejar renascer também, segundo os Seus critérios. Queiramos ser justos como o Justo (Jer 23, 5), procurando viver com verdade, amor e misericórdia. Que este Natal seja sobre Jesus, e que tudo o resto venha por Sua graça.

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.