Vivemos num mundo cada vez mais polarizado. Andamos entre os extremos políticos, da extrema-esquerda e da extrema-direita. As recentes eleições na Suécia, que deram força aos partidos nacionalistas (facto que originou a demissão da, até agora, primeira-ministra, oriunda do partido social-democrata, que, apesar de tudo, é um partido moderado), são um exemplo disso.
Infelizmente, na nossa Igreja também há muito que caminhamos para um excesso de polaridade, entre o mais rigoroso e irredutível tradicionalismo (que, em muitos casos, faz tudo para manter uma Igreja anacrónica) e uma Igreja marcadamente inovadora (que, de tanto procurar a novidade, chega a ser completamente desencarnada da vida quotidiana dos cristãos).
Pode ser que uma das causas desta bipolaridade seja a falta de crença no significado e investimento na educação de/para os media. Isto, porque a presença destes na evangelização é frequentemente percebida em termos de luta dura e exigente, na qual o diálogo com a cultura pós-moderna contemporânea será sempre espinhoso. E desistir, abandonando este “ambiente”, por só se ver nele uma área de disputa problemática, geradora de dúvidas, apostando no trabalho de evangelização orgânica, será o caminho?
A presença mediática é encarada, por muitos dos que fazem grande uso de plataformas e redes, como um cuidado pastoral no qual a evangelização parece esgotar-se em mensagens “flash”, eventos e espetáculos religiosos com evangelizadores carismáticos. Acredito que tais eventos são necessários, mas sendo o rosto da evangelização que se vê de modo mais evidente no digital, não sei se contribuirá para o correto entendimento das potencialidades deste espaço. De igual modo, não defendo que possam constituir-se como um programa para a nova evangelização.
E quando vejo que esta lógica que assenta na criação de momentos visualmente e sensorialmente muito impactantes chega aos templos e ao quotidiano das paróquias, valorizando-se a espetacularidade das celebrações, pergunto-me onde está o mais importante, que, no meu entender, é o conhecimento sobre aquilo em que acreditamos e a consciência das razões que nos fazem ter Fé.
E quando vejo que esta lógica que assenta na criação de momentos visualmente e sensorialmente muito impactantes chega aos templos e ao quotidiano das paróquias, valorizando-se a espetacularidade das celebrações, pergunto-me onde está o mais importante, que, no meu entender, é o conhecimento sobre aquilo em que acreditamos e a consciência das razões que nos fazem ter Fé.
Não estaremos demasiado entusiasmados com um estilo de narrativa “pseudo-mediática”, que por um lado criticamos duramente, apontando o dedo aos media por tudo o que de mau acontece na sociedade (o distanciamento dos outros, a difusão de informação falsa, a pouca profundidade de visões e análises, etc.), mas por outro trazemos para dentro da nossa comunidade eclesial, exacerbando a dimensão emocional da comunicação acima de todas as outras?
A Fé recebida e estruturada no coração leva à transformação religiosa, mas proclamá-la pressupõe, do meu ponto de vista, um ato racional de compreensão. Precisamos de reflexão, mas de uma reflexão que não exclua, que não demonize os pontos de vista opostos. Precisamos, diria eu, de equilíbrio, para que qualquer polaridade seja ultrapassada e, sobretudo, para que a Igreja, na sua diversidade inevitável (porque somos todos seres humanos diferentes), encontre um meio termo entre o mais rígido tradicionalismo e o mais pseudomoderno “apimbalhado”. E, mais que tudo, necessitamos de cristãos que pensem, que expressem esse pensamento e que vivam a Fé de uma forma esclarecida, não se limitando a cumprir preceitos, a encantar-se com as longas procissões de acólitos, a perder-se na névoa do incenso.
Assim, o caminho que me parece mais produtivo é o de apostar na abertura de portas, na alfabetização mediática de instituições e indivíduos. Sem isto, não compreenderemos os meios de comunicação e, consequentemente, não seremos capazes de comunicar de uma forma correta e alcançar os destinatários da mensagem do Evangelho.
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.