Começaram as férias; finalmente. Acabaram as aulas, os testes, exames. Estamos livres e felizes! Reina lá em casa um entusiasmo palpável, audível, quase que se lhe pode tocar.
Gosto de ver os filhos felizes; mas fico sempre a pensar que isto é um absurdo. Porque é que os alunos “odeiam” a escola? Nem sequer é uma questão só dos meus filhos; também eu antes deles me exasperei com a escola. Não com os amigos, as brincadeiras e os desportos; mas com as horas sentado em cadeiras a ouvir, o nervosismo dos testes, o sacrifício das tardes. Tem mesmo de ser assim? Temos hoje bons exemplos de que não. Num colégio em Coimbra, há pais que ficam desconfiados porque os filhos “andam felizes; gostam de vir à escola; certamente algo de errado se passa…”. Muitos outros estão a tentar seguir o mesmo caminho: repensar totalmente o modo como educam. E tudo isto me dá muita alegria.
Inesperadamente, encontro muitas pessoas preocupadas com “esta inovação toda”. Penso que não têm razão para tal. Aprender é um processo interior que exige interesse, esforço, treino e aperfeiçoamento. É um processo que necessita da mobilização da nossa cabeça, mas antes disso do nosso coração e depois das nossas mãos. E ensinar? Ensinar é um processo semelhante. Também exige interesse, esforço, treino e aperfeiçoamento. E também necessita da mobilização da nossa cabeça, mas antes disso do nosso coração e depois das nossas mãos. Não sou eu que o digo; é o que o Papa Francisco diz constantemente aos educadores católicos.
Se chamo o Papa Francisco à colação é porque me parece que a escola católica tem especial obrigação de fazer este caminho de renovação pedagógica.
Se chamo o Papa Francisco à colação é porque me parece que a escola católica tem especial obrigação de fazer este caminho de renovação pedagógica. Jesus não veio anunciar o desespero; anuncia a esperança. Jesus não aconselha o jejum pelo sofrimento mas pela renovação interior. Ao peso e desespero do antigo testamento, Jesus contrapõe um testamento do amor. Procurado, trabalhado, resiliente, esforçado. Mas sem tirar os olhos do alvo: o amor.
Se não estudas, não passas no teste; se não passas no teste, não avanças; se não avanças, não consegues trabalho; e se não consegues trabalho, vais ser infeliz. Quando esta é a proposta de valor feita aos nossos alunos, é natural que a coisa não funcione. Até podem passar no teste e avançar e conseguir trabalho; mas provavelmente não serão felizes. Não felizes daquele modo inteiro de quem encontra sentido nas coisas e para as coisas. De quem foi entusiasmado a ser curioso e a procurar com persistência e a questionar e recomeçar de novo. De quem foi entusiasmado a espantar-se com a realidade que o circunda. Seja a realidade natural, seja o mundo das ideias. Quem se interessa e se espanta dedica muito esforço e tempo aos assuntos que lhe são apresentados. Quem se interessa e se espanta é rigoroso com os detalhes e repete até à exaustão. Exaustão física mas não exaustão interior porque quem se interessa e se espanta encontra sempre força interior para perseverar. Não conseguirei perceber porque é que há quem meça o sucesso dos seus filhos na escola (e o sucesso desta na educação dos seus filhos) pelas notas nos testes e não pelo interesse e espanto que eles demonstram na vida.
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.