Educar para uma cultura de Paz

Educar para a não-violência não significa tolerância passiva. Pelo contrário, exige empenhamento na construção de um mundo em que ninguém se sinta excluído.

Num momento da História da Humanidade em que o ritmo das mudanças sociais se torna mais célere sob a influência da comunicação – a questão é saber se essa mudança acontecerá por ciclos de violência e opressão ou através da não-violência.

A violência tende a tornar-se um fenómeno natural e inevitável. Vivemos com ela, diariamente.
Em todos os meios de comunicação no mundo, todos os dias a violência é-nos apresentada como uma fatalidade social a que não se pode fugir.
Somos bombardeados com imagens cuja missão, muitas vezes, é chocar, manipular e dirigir a atenção, em vez de se apresentarem como uma proposta de reflexão.

Esta proliferação de imagens, encarada como informação “a que todos têm direito”, precipita a tendência para a passividade. Pode dizer-se que este ataque contínuo do olhar visa, muitas vezes, a inércia do espectador que, incapaz de refletir e controlar, regista e sofre uma espécie de hipnotismo. As técnicas de informação e comunicação de massas correm o risco de uniformizar os juízos de valor e os comportamentos.

Para sair desta espiral vertiginosa, a solução pode estar em aprender a conviver, orientado pela educação numa cultura de paz.
Estaremos nós disponíveis para construir e participar na vida de uma sociedade de paz e não-violência? E será possível uma educação sem conflitos?

De acordo com a Unesco, a cultura de paz está intrinsecamente relacionada com a prevenção e a resolução não violenta de conflitos e fundamenta-se nos princípios da tolerância e solidariedade.
A cultura de paz pode e deve nascer na escola, porque a escola é o ponto de encontro privilegiado da comunidade para transmitir valores, incentivar a autoestima e impulsionar atitudes que cultivem a não-violência.
Sendo a escola um espaço de convivência é também uma caixa-de-ressonância das turbulências sociais que ocorrem nos diferentes meios dos que a integram. Assim, não é desprovida de conflitos que podem gerar violência, embora o conflito faça parte da natureza humana.

Muitas vezes, assistimos no seio da comunidade educativa a conflitos com objetivos colaborativos de mudança e inovação. E até constituem instrumento essencial para a transformação das estruturas educativas.

A construção da paz começa a partir de uma atitude pessoal de reflexão sobre se estamos ou não disponíveis para escutar, ajudar, ceder e participar.

Assim, acredito que pode haver conflitos que apenas correspondem a necessidades de competição, afirmação e participação e que nada têm com violência.

No entanto, nem sempre a escola tem o feeling necessário para entender os sinais dos tempos. Questiona-se o funcionamento de algumas instituições escolares que, numa perspetiva zelosa de poder, ocultam e silenciam os possíveis conflitos. Como forma de perpetuar o status quo da sua instituição escolar.

Educar para a não-violência não significa tolerância passiva. Pelo contrário, exige empenhamento na construção de um mundo em que ninguém se sinta excluído.
Uma cultura de paz assenta no respeito pela diferença, individual ou cultural, sendo incompatível com qualquer dogmatismo ou fundamentalismo, sejam eles religiosos, ideológicos, políticos ou tecnológicos.
Exige aprendizagem, através de projectos criativos que possibilitem ter iniciativas orientadas para a resolução de conflitos. E não podemos cingir-nos a esquemas pré-estabelecidos e inalteráveis.
Mas tem de se ir mais além! A aprendizagem da convivência e resolução de conflitos não está confinada unicamente às escolas. Também se deve aprender a conviver e a caminhar no sentido da não-violência nas famílias, em diversos grupos de pessoas e nos meios de comunicação.

E porque a guerra é uma forma extrema de conflitos, não se pode responsabilizar exclusivamente o sistema educativo pela suposta deterioração da sociedade.
Uma vida em comunidade exige que cada pessoa esteja ao serviço de todos e que a comunidade favoreça a realização individual através da sua plena integração.
Contudo, para que a mudança aconteça, temos em primeiro lugar, de aprender a conhecer-nos a nós próprios. Só assim nos podemos tornar disponíveis para ajudar os outros. E tomar consciência das transformações necessárias para viver numa cultura de não-violência.

A construção da paz começa a partir de uma atitude pessoal de reflexão sobre se estamos ou não disponíveis para escutar, ajudar, ceder e participar.
Depende de cada um de nós a vontade de viver e construir uma cultura de paz e não-violência.

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.