Esperar custa. Dá trabalho. É desagradável. Temos dificuldade em esperar, porque requer “gastar” tempo sem fazer nada, inútil. Num mundo em que a rapidez e a velocidade são valorizados nos vários âmbitos da realidade humana, quem espera parece perder alguma coisa. Corremos contra o tempo, vivemos apressados, querendo chegar a todo o lado, apanhar todas as oportunidades. Quando nos pedem para esperar por algo, vem-nos rapidamente a tentação de desistir, pois isso é uma perda de tempo. Esperar numa fila para sermos atendidos, esperar no trânsito, esperar pela resposta de alguém a um assunto… Por isso, nos momentos em que somos obrigados a esperar, na paragem ou no médico, todos temos uma forma prática de ocupar e preencher esse tempo aparentemente inútil: usar o telemóvel. Não que isso venha diminuir a nossa espera, mas pelo menos mantém-nos ocupados, (aparentemente) activos. Criámos uma enorme resistência aos tempos de espera, de tal modo que exigimos que tudo seja para ontem.
Mas há esperas que valem a pena, porque se avizinha algo de bom e agradável que vai chegar: o encontro com um amigo, o regresso do pai do estrangeiro, o dia do concerto, o aniversário, as férias! Já dizia o Principezinho à raposa: “se souber a que horas vens amanhã, um tempo antes começo a preparar o meu coração”. O tempo de espera pode ser vivido como “perdido”, ou então ajudar-nos a preparar o coração, cheio de expectativa, para algum grande momento que virá. Esperar pelo crescimento da natureza, requer uma confiança de que a semente dará uma raiz, depois uma planta e finalmente folhas, ramos e frutos.
Os mais novos parecem ter desenvolvido uma alergia à espera. As redes sociais e o mundo digital habituaram-nos a uma velocidade estonteante em que tudo tem que ser vivido agora, já! O que se passou ontem já é velho, já caducou. Daí que tenham tanta dificuldade em ler um livro, pois requer investimento de tempo e o desenrolar da história é lento. Os jogos já não podem ser de tabuleiro (em que se passava uma tarde inteira a jogar) têm que ser rápidos, cheios de estímulos e imagens, que passam rapidamente. Do mesmo modo, têm dificuldade em esperar pelo tempo próprio para viver algumas experiências, querendo saltar etapas, como sair à noite, fazerem viagens sozinhos, ou adquirir um aparelho electrónico sofisticado.
Os mais novos parecem ter desenvolvido uma alergia à espera. As redes sociais e o mundo digital habituaram-nos a uma velocidade estonteante em que tudo tem que ser vivido agora, já!
Como educadores, devemos ajudar as crianças e os jovens a saber esperar pelo momento próprio, para experimentarem aquilo que é mais adaptado à sua idade. Até porque, quando não se tem a idade ou a maturidade certa para determinadas experiências, em vez de as apreciarem devidamente, pode criar-se uma sensação de frustração, a qual depois será difícil de corrigir. Aprender a esperar o tempo oportuno, o momento apropriado, exige sabedoria.
Esperar que algo se realize ou que alguma obra se complete leva o seu tempo, pede paciência. Esta qualidade é também difícil para os mais novos. Quando não se faz a sua vontade, quando algo leva o seu tempo, ou quando surgem dificuldades ou obstáculos, logo vêm a ansiedade, a impaciência e a precipitação. A impaciência comanda a vida. Tudo o que não se realize imediatamente, perde o interesse, ou nem sequer era digno de se esperar à partida.
É necessário educar para valores que conduzem à esperança, tais como a fidelidade, a perseverança ou a paciência. Estes valores são difíceis de aceitar numa sociedade onde abundam promessas instantâneas. À medida que se vai crescendo, aprende-se que as grandes obras pressupõem uma base de muito trabalho, muito esforço e, normalmente, levam tempo a completar. Também nas relações, o tempo tem um papel importante. O namoro serve para conhecer a outra pessoa em profundidade, tornando-se esse tempo essencial para solidificar a amizade e a confiança no outro.
O Advento é um tempo de espera. Esperamos o Senhor que vem, que vai nascer. Uma espera paciente, como quem se prepara para uma viagem. Os tempos de Deus não são os nossos. As coisas eternas levam tempo, precisam de ser esperadas, desejadas, queridas. Como um bebé, como uma medalha, como um bolo no forno. Esperar Jesus que vem, de novo, ao nosso encontro, que nasce. Deseja encontrar um lugar na nossa vida, não apenas nestes dias que antecedem o Natal, mas todos os dias. Mas esta espera é lenta, paciente, pois tal como o Principezinho, serve para preparar o nosso coração. Deus pede-nos uma espera activa e não apenas passiva – de quem contempla, recebe os sinais, faz sentido da realidade. É uma espera de quem se prepara para algo entusiasmante, novo, renovado.
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.