As eleições europeias estão a porta. É também tempo de manifestar desejos. Para além da preferência de cada um, desejo que seja uma eleição que areje o nosso sistema eleitoral. Em concreto, gostava de ver o sucesso de alguns dos pequenos partidos nestas eleições.
Em economia, os mercados com elevadas barreiras à entrada são sempre candidatos naturais a comportamentos desviantes. As barreiras à entrada permitem que as empresas já instaladas se tornem complacentes. As ineficiências acabam por crescer. O resultado final é claro: o consumidor fica pior. Tem menos opções porque não entram empresas que desafiam as instaladas. Mas, pior ainda, a única opção do consumidor é dirigir-se a empresas que tipicamente não se centram em servi-lo. São empresas com custos altos, com processos desnecessários, barricadas em burocracia, que demasiadas vezes se servem a elas próprias, antes de se centrarem no cliente. Não é difícil imaginar casos próximos.
Este padrão de degeneração de sistemas fechados não ocorre só na economia. Em muitas áreas, fechar sistemas a interferências exteriores resulta em sistemas mais fracos ou degenerados. É por isso que os sistemas físicos fechados tendem para estados de energia mínima e de desordem máxima. É por isso que a diversidade biológica na natureza é um valor tão importante. É por isso que o Papa Francisco reforça a importância de viver e olhar para as periferias.
A política não é diferente. Os sistemas políticos fechados por altas barreiras à entrada não produzem partidos eficientes centrados em servir. Os estímulos exteriores permitem um alargamento de representação (que pode ser um valor em si); mas principalmente, obrigam os agentes já existentes no sistema a reexaminar e reforçar o seu foco no valor que podem trazer à sociedade.
Parece-me que o nosso sistema partidário é relativamente fechado. Não registamos um grande número de entradas no mainstream político, nem registamos uma grande rotação nos nomes centrais da nossa política. Temo que isso, em parte, se deva ao desenho institucional que temos. Este tende a apoiar mais os partidos maiores e a dificultar o surgimento de alternativas.
Parece-me que o nosso sistema partidário é relativamente fechado. Não registamos um grande número de entradas no mainstream político, nem registamos uma grande rotação nos nomes centrais da nossa política. Temo que isso, em parte, se deva ao desenho institucional que temos. Este tende a apoiar mais os partidos maiores e a dificultar o surgimento de alternativas. Nestas eleições, a pressão resultante do sucesso dos pequenos partidos seria provavelmente um grande contributo a que os partidos históricos e centrais do nosso sistema político elevassem o nível de exigência que têm tido nos últimos tempos em Portugal.
Se o sistema está desenhado para ser relativamente fechado, será nosso dever apoiar a sua abertura. A forma mais direta, concreta e realisticamente alcançável de contribuir para esse objetivo é votar num partido pequeno. Se está na dúvida entre o “voto do costume” ou um “voto um pouco ao lado”: arrisque, contribua para arejar o nosso sistema político.
Não apelo com isto ao voto em partidos de ideologias radicais e destrutivas. Estes são pequenos porque são (felizmente) pouco representativos. Também não apelo com isto ao voto a partidos com pessoas pouco preparadas. Esses não crescem porque não aumentam a exigência do sistema. No entanto, especialmente nestas eleições, parece-me que não faltam alternativas com um discurso razoável que poderão ser exploradas.
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.