O Papa Francisco convocou jovens economistas, empreendedores e empresários dos cinco continentes para um evento em Assis, entre os dias 26 e 28 de março, para que todos juntos possam começar a pensar e caminhar para uma economia mais inclusiva, solidária e que tem por base modelos sustentáveis. Tenho a alegria de ser uma das economistas que participará nesta ocasião.
O nome do evento, Economia de Francisco, faz referência a São Francisco de Assis, o exemplo de um santo que viveu em plena harmonia com tudo o que o rodeava. Num mundo que se transforma tecnológica e cientificamente a um ritmo acelerado, mas que não verifica o mesmo ritmo de desenvolvimento social, torna-se relevante olharmos para este santo e percebermos que, sem cuidarmos de quem e do que nos rodeia, a pobreza vai persistir, a desigualdade aumentar e a natureza vai continuar a degradar-se. Os modelos de produção e consumo atuais tornam a indiferença, o desperdício, o descarte e o lixo na normalidade, e muitos deles não integram qualquer tipo de responsabilidade social.
A preparação que tenho vindo a realizar para o evento é feita através de um curso pós-laboral organizado pela Acegenext, com sessões de debate sobre variados temas como a exclusão social, a pobreza, a desigualdade, e o ambiente. Paralelamente, passa pela pesquisa individual de boas práticas e modelos alternativos que possam ser replicados na construção desta nova economia que vão contra aquela primeira aula de microeconomia em redor da equação da maximização de lucros, e que apenas tem como condicionante os próprios recursos. E o impacto ambiental? E as consequências sociais? Tanto valor potencialmente criado ou destruído que fica por calcular…
A economia não é dos economistas e dos empreendedores, mas de todos nós como pessoas. Seja como consumidores, produtores, empresários, é preciso começar a fazer caminho.
Vejo o desafio de uma nova economia como uma alínea da proposta revolucionária que Jesus nos coloca de amarmos os nossos inimigos. O mote é “cuidai de quem não vos é próximo e do que não vos pertence”, porque é fácil amar os nossos amigos e cuidarmos das pessoas que nos são próximas e das nossas coisas. Num mundo com tantas guerras e mortes, amar apenas os nossos amigos não é suficiente. Num mundo com tanta pobreza e indiferença, cuidarmos apenas de quem nos é próximo e do que nos pertence também não é suficiente. É preciso a dose extra, que vai contra a natureza humana, mas que nos dá uma alegria enorme, porque nos permite, com pequenas mudanças de comportamento, distanciarmo-nos da mediocridade da sociedade que fecha os olhos aos sofrimentos do mundo.
A Economia de Francisco desperta em mim o desejo de começar a fazer parte da solução. Porque ou fazemos parte da solução ou do problema. Cresce em mim um sentido de responsabilidade, que se materializa em escolhas e ações. Com um exemplo é mais fácil concretizar. A semana passada organizei uma ceia de anos e sobrou comida ótima, que se não fosse consumida em dois dias deitar-se-ia fora. Desde que comecei este caminho, a consciência passou a ter mais atitude. Só me custou meia hora do meu tempo a fazer telefonemas para dar a comida a quem precisa.
A economia não é dos economistas e dos empreendedores, mas de todos nós como pessoas. Seja como consumidores, produtores, empresários, é preciso começar a fazer caminho. Por isso, para este ano que começa, deixo o desafio de leitura da Carta Encíclica Laudato Si sobre o cuidado da casa comum que considero crucial para compreender a urgência de sermos firmes nesta mudança comportamental para um maior cuidado com o que nos rodeia. Temos de assumir responsabilidades, com o próximo e com o mundo.
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.