Como guiaria Santo Inácio um aluno em véspera de exames? - Ponto SJ

Como guiaria Santo Inácio um aluno em véspera de exames?

“Não é o muito saber que sacia a alma, mas o sentir e saborear internamente.” — O conselho de Santo Inácio que pode mudar a forma como vivemos este tempo de exames.

Chegam os dias em que os horários se viram do avesso, as agendas se reduzem a fichas e sebentas, e os grupos de estudo substituem os convívios e os passeios. Os exames nacionais, previstos para junho e julho, marcam o calendário escolar dos alunos do ensino secundário em Portugal, servindo de porta de entrada para o ensino superior e para conclusão do Ensino Secundário. São decisivos. Para muitos, avassaladores.

Mas será possível encarar esta exigência com esperança? É aqui que a pedagogia inaciana — nascida da experiência espiritual e humana de Santo Inácio de Loiola — pode oferecer luz, mesmo em plena maratona de exames.

O que diria Santo Inácio a um aluno em tempo de exames?
Provavelmente, começaria por lembrar algo que escreveu nos Exercícios Espirituais: “Não é o muito saber que sacia a alma, mas o sentir e saborear internamente.” Inácio reconhecia o valor do estudo, mas sabia que o conhecimento só é fecundo quando desce ao coração. Quando é assimilado, integrado, transformado em vida.

Isto pode parecer estranho num tempo de exames, onde tudo se mede, avalia e compara. Mas talvez seja precisamente aí que este conselho ganhe mais sentido. Estudar com liberdade interior é mais do que cumprir um plano ou acumular matéria. É estar presente. É estudar com desejo, com atenção, com gosto — mesmo que isso não signifique prazer constante, mas sentido profundo.

Santo Inácio não era alheio ao estudo. Estudou tarde, com dificuldades, e percorreu um caminho académico árduo, desde Barcelona até Paris. Sabia o que era repetir aulas, sentir-se perdido nos livros, ter colegas mais preparados. Mas nunca desistiu. O que o movia? Um propósito. Um “para quê” maior. E é aqui que os alunos de hoje podem reencontrar ânimo: perguntar-se “para quê estudo eu?”, “com que sentido?”

“Não é o muito saber que sacia a alma, mas o sentir e saborear internamente.”

A excelência que nasce do discernimento
Santo Inácio propunha uma pedagogia exigente, mas humanizadora. Valorizava o autoconhecimento e a liberdade interior. Se um aluno hoje lhe perguntasse como estudar melhor, talvez a resposta não fosse uma técnica milagrosa, mas sim um convite ao discernimento: saber quando estudar e quando parar, quando insistir e quando pedir ajuda, quando é o medo a falar ou a consciência.

Não basta estudar muito. É preciso estudar bem. Com método, com descanso, com sentido. E, acima de tudo, sem deixar que o valor de uma pessoa se confunda com o valor de uma nota.

Uma luz para pais e educadores
Este é também um tempo exigente para famílias e educadores. Pais que não sabem como ajudar, professores que sentem a pressão dos resultados. A todos eles, Santo Inácio diria: confiem. Apoiem com presença, não com pressão. Relembrem os vossos filhos e alunos de que são amados independentemente das classificações. Que vale a pena lutar, mas nunca à custa da saúde ou da alegria.

Num tempo em que tanto se fala de saúde mental nas escolas, o apoio emocional e espiritual é fundamental. Um lanche deixado com carinho, uma oração partilhada ao fim do dia, uma palavra de encorajamento, podem fazer a diferença.

O papel dos adultos nesta etapa é também o de recentrar no essencial: que o caminho educativo não termina com um exame. Que a missão de cada jovem se constrói muito para além dos rankings e das médias. Que há um lugar único no mundo que só eles podem ocupar — e que a nota final de um exame não lhes tira nem acrescenta valor.

Um exame pode abrir ou fechar portas no imediato, mas não define o talento, a bondade, a criatividade ou a vocação de uma pessoa. Mais importante do que o resultado é a capacidade de enfrentar desafios com responsabilidade, sem perder a alegria de aprender e o sentido de quem se é. Educar é formar pessoas inteiras.

Conclusão
Os exames têm um papel relevante: ajudam a estruturar o conhecimento, a cultivar a disciplina e a preparar para desafios futuros. São momentos de avaliação, sim, mas também de crescimento. Reconhecer a sua importância não significa absolutizá-los, mas sim integrá-los num caminho mais largo, onde o que está em jogo é aprender a dar o melhor de si, com equilíbrio, liberdade e sentido. Nesse percurso, Santo Inácio seria um bom guia.

Os exames são importantes. Mas não definem uma vida. A pedagogia inaciana convida a viver este tempo com verdade, esforço e fé. A confiar que, mesmo entre fórmulas e textos, Deus trabalha em nós. E que, como Santo Inácio bem sabia, a liberdade interior nasce quando tudo o que fazemos é orientado para um bem maior — mesmo que seja apenas estudar para a prova de amanhã.

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.