Não faço ideia. Andava nisto há anos sem fim, tentei de tudo e a pergunta continuava sem resposta. Até que percebi o quanto estava errada e descobri a solução. Explico no fim (para saber a solução vai ter de ler o texto todo porque existe aqui um raciocínio, um encadeamento lógico).
Tudo começou quando eu tentava o impossível para que os meus bebés parassem de chorar. Ficava desesperada por não conseguir perceber a razão do choro até que eles davam um pum e sorriam. Foi a primeira vez que desconfiei da minha inutilidade. Uma vez que um simples pum conseguia fazer mais pela felicidade do meu bebé do que o meu colo, baloiço, beijos, leite ou assistir ao nascer do sol depois de uma noite em claro.
Os anos passaram e as crianças foram-me enganando sucessivamente com beicinhos, amuos, abracinhos, a “mãe é linda” e essas coisas que viciam os pais. Achei, infantilmente, que estava a fazer um bom trabalho em prol da felicidade dos meus filhos, que estava a criar filhos felizes, sempre que eles que me davam um abracinho, deixavam de amuar e derretia-me com uma gargalhada em troca de gomas. Até que percebi que a bitola para conseguir aquilo a que eu chamava de felicidade ia subindo. Se os deixasse partir coisas, se lhes desse todos os bolos do café só para experimentarem o melhor, se os deixasse guiar o carro com cinco anos, se permitisse que bebessem a água dos cães ou pintassem os sofás eles seriam cada vez mais felizes. O nirvana poderia ser deixá-los subir a um telhado ou encontrar um urso para eles darem uma festinha.
Achei, infantilmente, que estava a fazer um bom trabalho em prol da felicidade dos meus filhos, que estava a criar filhos felizes, sempre que eles que me davam um abracinho, deixavam de amuar e derretia-me com uma gargalhada em troca de gomas.
Desconfiei, obviamente, do caminho para a felicidade que tinha escolhido seguir. O dia em que se passa do “só podem escolher uma coisa” para “também podem beber um sumo” é o dia em que devemos mudar de estratégia. Sumo num café, nunca.
Encontrei então o que me pareceu ser o norte: educá-los para serem felizes um bocadinho mais tarde. Já, já, também não… Foi então que me rendi a ideias como o sucesso, a popularidade, a grandeza e todas essas coisas que os pais querem para os filhos. Cada filho é único, mas os meus são certamente mais únicos do que os outros. É só preciso descobrir em quê. Confesso-vos que foi uma estafadeira. Procurar o Mozart, o Einstein ou o Ronaldo que há em cada dos nossos filhos dá uma trabalheira que não se imagina. Não tentem que até é perigoso. Ora, nem eles nem eu aguentámos o desafio.
Consolei-me por saber que são poucos os vultos de sucesso que não acabam a cortar a orelha ou excentricidades do mesmo tipo. E nenhuma mãe quer que um filho corte orelhas.
Retive-me, então, no dinheiro. Bem sei que o dinheiro não traz a felicidade mas ajuda. Quer dizer, se calhar até traz, mas não se diz que é feio e nós não somos protestantes. Educar os filhos para serem ricos podia ser a solução para os problemas deles e um objetivo de educação. Talvez assim não deitassem a roupa para o chão, substituíssem o papel higiénico e adquirissem um bem que lhes proporcionasse a paz interior de realização terrena. Por outro lado, um rico não se preocupa com essas coisas. Até que caí em mim: se eu soubesse como educar alguém para ser rico, seria rica. Desisti. “Meninos, o dinheiro só traz inveja, problemas, responsabilidades e nunca chega. É um caminho sem fim que leva à infelicidade e ao desânimo, uma vez que a natureza humana é insaciável aos bens materiais”. Não os convenço. Bem sei que eles acham que o Iphone X faria mais pela sua felicidade do que um passeio em família, mas a questão aqui é educá-los e não convencê-los.
Então como educar os filhos para serem felizes? Ajudá-los a concretizar um sonho? Bem, se é um sonho… é deixá-lo dormir.
Então como educar os filhos para serem felizes? Ajudá-los a concretizar um sonho? Bem, se é um sonho… é deixá-lo dormir. Além disso, eles não sabem o que é melhor para eles, ninguém sabe ou as televisões exibiriam outros programas.
Ainda ponderei o amor. O amor traz a felicidade, ou não é? Ora bem, mas isso já está muito para lá do meu alcance: como é que eu conseguirei educar os meus filhos a serem amados pela loira mais gira do liceu? Nem que soubesse.
Concluí, então, que criar filhos felizes não deve ser um objetivo. A solução, meus caros, é mesmo essa: não se preocupem com a felicidade dos vossos filhos. Por mais que se esforcem, a felicidade deles depende fundamentalmente deles: das suas virtudes e dos seus defeitos. Nós, pais, apenas iluminamos os caminhos que eles vão seguindo, não os definimos. Assim, recomendo, com tristeza, que a solução para os nossos problemas é baixar a fasquia dos objetivos: criar filhos íntegros, verdadeiros, trabalhadores, generosos, humildes e bondosos. Se forem felizes, melhor ainda.
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.