As respostas sociais inacianas

A Companhia de Jesus nasce associando a profunda espiritualidade, a proximidade aos pobres e a compreensão intelectual dos processos humanos.

Uma das perguntas que a sociedade faz com frequência é sobre as respostas sociais da Igreja e das suas instituições. Uns perguntam, onde estão? E outros consideram que se faz pouco. E há mesmo quem pense que a sua resposta aos problemas sociais é residual. Bem, faz-se muito, muito mesmo. Instituições como a Cáritas, as Conferências Vicentinas, as Irmãs Hospitaleiras e por aí fora, são bons exemplos. Eu diria mesmo que todas as congregações e institutos religiosos ou paróquias oferecem, de muitas e diversas formas, algum tipo de apoio social. Também nós, jesuítas, desde a nossa fundação, sempre tivemos um cuidado especial não só pela educação, mas também pelos mais desfavorecidos.

Logo nos inícios da Companhia de Jesus (CJ), os “primeiros companheiros”, entre os vários ministérios que exerciam (pregação, exercícios espirituais, catequeses, confissão e reconciliação dos desavindos), prestavam serviços nas prisões e hospitais em espírito de caridade concreta. Santo Inácio cuidou sempre esta dimensão no modo de ser e de estar da CJ, que vem expresso nas Constituições. Hoje, esta, continua a ser uma prioridade para a CJ, como salientam as Congregações Gerais 32 e 34, e as preferências apostólicas para a década de 2019-2029 – “Caminhar com os mais pobres…” e “Colaborar no cuidado da Casa Comum”.

No Congresso do Apostolado Social que decorreu em Roma, em 2019, o P. Arturo Sosa, atual Geral da Companhia de Jesus, recordou que “a Companhia de Jesus nasce associando a profunda espiritualidade, a proximidade aos pobres e a compreensão intelectual dos processos humanos”. Nas últimas décadas, a Companhia tem desenvolvido, por todo o mundo, uma enorme diversidade de respostas com o fim de responder ao “grito” dos que mais sofrem. Recordemos a título de exemplo o Serviço de Jesuítas aos Refugiados, o Ecojesuit que pretende promover a preocupação pela ecologia, a AJAN que trabalha com as vítimas da Sida no continente africano, e a rede de escolas “Fé y Alegria” na América do Sul.

Aqui em Portugal, para além das respostas clássicas através dos colégios e da educação, foram surgindo, sobretudo nas últimas décadas, novos caminhos. Como diz a Congregação Geral 34 (1995), os desafios renovam-se e ganham novos contornos ao longo do tempo. É por isso necessária uma constante atualização do estudo destas realidades e das respostas que as mesmas requerem.

A partir da década de 60, na Província Portuguesa da Companhia de Jesus surge uma renovada atenção aos mais pobres e marginalizados, o que levou à abertura de comunidades junto dessas populações, permitindo aos jesuítas viver e trabalhar com eles. Isso verificou-se de um modo especial na abertura das comunidades de Portimão, Santo André, do Centro Social da Musgueira, e mais tarde no Monte da Caparica/Pragal, no Concelho de Almada. Dessa forma, os jesuítas passaram, não só a servir os pobres, mas a viver e a trabalhar junto deles. Nesse serviço próximo, as populações economicamente mais desfavorecidas também nos ensinam muito sobre a vida, sobre a fé e sobre a justiça.

Dessa forma, os jesuítas passaram, não só a servir os pobres, mas a viver e a trabalhar junto deles. Nesse serviço próximo, as populações economicamente mais desfavorecidas também nos ensinam muito sobre a vida, sobre a fé e sobre a justiça.

Assim, ainda nos anos 60 do século passado, a nossa província abriu, em Évora, um Instituto de formação e investigação nas áreas da economia e sociologia. E, mais recentemente, foram surgindo novas obras, com a inspiração e o apoio de vários jesuítas na sua génese, umas das CJ, outras não.

Em setembro último, assumi as funções de coordenador da Comissão do Apostolado Social da CJ (CAS) e da qual fazem parte várias instituições (ver abaixo). Confesso que fui surpreendido com a diversidade e a qualidade do trabalho que estas obras fazem no cuidado aos mais pobres e marginalizados. Ao mesmo tempo dou-me conta do empenho que cada uma das pessoas põe na atenção aos mais carenciados. Desde o trabalho com refugiados e imigrantes, com crianças e jovens, com os sem abrigo, os presos, estendendo-se ao trabalho de desenvolvimento das comunidades, na educação para o desenvolvimento, no cuidado da casa comum e na reflexão. Vou-me apercebendo da diversidade e exigência das respostas sociais. Sabemos que hoje tudo acontece e muda com muito mais rapidez que no passado. É por isso maior a velocidade com que chegam os desafios sociais e a necessidade de resposta. Este é um dos grandes desafios que se coloca às instituições e à necessidade constante que têm de irem discernindo o seu caminho e tomando as melhores opções, tendo em conta a sua missão.

Vivemos um período particularmente desafiante do ponto de vista social, cujas consequências que ainda desconhecemos em grande parte. Por um lado, surgem novas formas de pobreza, novos tipos de marginalização e a preocupação com a ecologia integral continua nas agendas de governos. Por outro lado, temos todo o espectro das consequências da pandemia que traz, e trará, novas frentes e necessidades de resposta material e espiritual.

Fiel a esta missão, a Companhia de Jesus continua empenhada, juntamente com muitos leigos, em trabalhar por testemunhar com a sua vida a fraternidade humana, em acompanhar o encontro pessoal com o Deus de Jesus e em colaborar com Ele na luta pela construção de um mundo mais justo e mais fraterno.

Fiel a esta missão, a Companhia de Jesus continua empenhada, juntamente com muitos leigos, em trabalhar por testemunhar com a sua vida a fraternidade humana, em acompanhar o encontro pessoal com o Deus de Jesus e em colaborar com Ele na luta pela construção de um mundo mais justo e mais fraterno.

O Papa Francisco realçou recentemente que “fraternidade significa estender a mão, fraternidade significa respeito. Fraternidade significa ouvir com o coração aberto. Fraternidade significa firmeza nas próprias convicções. Não existe verdadeira fraternidade se as próprias convicções forem negociadas. Somos irmãos, nascidos do mesmo pai. Com culturas e tradições diferentes, mas todos irmãos”. São palavras que confirmam a nossa opção de proximidade com os mais pobres e excluídos e de diálogo com a diversidade cultural. Tudo isso desafia o nosso estilo de vida.

Obras que fazem parte da CAS:

Serviço Jesuíta aos Refugiados;

Fundação Gonçalo da Silveira;

Centro Comunitário São Cirilo;

Colégio das Caldinhas;

Colégio São João de Brito;

Associação Padre Amadeu Pinto;

Associação Rabo de Peixe;

Associação Gambozinos;

Casa Velha

Centro Académico de Braga (CAB)

Centro de Reflexão e Encontro Universitário (CREU)

Centro Universitário Manuel da Nóbrega (CUMN)

Centro Universitário Padre António Vieira (CUPAV)

Brotéria

Leigos para o Desenvolvimento

Centro Social da Musgueira

Grão

FASrondas

Foste visitar-me

Paróquia de São Pedro – Covilhã

Paróquia São João Baptista – Lumiar, Lisboa

Paróquia São Francisco Xavier – Monte da Caparica

Paróquia Nossa Senhora do Amparo – Portimão

Centro Paroquial da Mexilhoeira Grande

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.