Faltavam três semanas para as eleições legislativas do dia 10 de março, quando li pela primeira vez: “Travar a crise climática não está na mesa de voto”. A mensagem vinda do coletivo Climáximo, pretendia alarmar, mas também incentivar a inquietação: Se a resposta não está na democracia, está onde?
Segundo o Acordo de Paris, as emissões de CO2 têm de ser reduzidas em 45% até 2030, a verdade é que se a atual legislatura encontrar meios para governar durante os próximos quatro anos, estaremos em 2028 quando este mandato acabar, a dois anos desta meta ambiciosa que obriga os países a assumirem responsabilidades e a construírem soluções e alternativas ecológicas.
Olhar para os programas eleitorais dos diferentes partidos, mas sobretudo, ouvir os debates mostrou que a crise climática não está nas prioridades da maioria dos políticos e talvez também não esteja no topo das preocupações dos eleitores. Mas é uma preocupação real para muitos outros, particularmente os mais jovens, que querem garantir não só qualidade de vida, mas que há condições de vida em 2030, em 2050, em 2100…
São Francisco de Assis, no século XII, louvava a Deus agradecendo-lhe pelo equilíbrio perfeito da natureza, pelo sol que ilumina o dia, a lua e as estrelas que iluminam a noite, pela água, o vento e o fogo que nos dão sustento. Foi também um homem radical na sua forma de viver a fraternidade junto dos mais pobres, escandalizando uma Igreja corrupta.
Muitas vezes a forma mais eficaz de espalhar uma mensagem é através de ações extremas. Por isso, o padroeiro dos animais e da natureza deve servir de inspiração para vivermos uma vida mais sóbria em harmonia com a natureza e respeito pelo meio ambiente. No entanto, as ações extremas têm de ter um propósito. Francisco anunciava a paz. O Climáximo cria o caos na tentativa de alertar as pessoas para a crise climática, acabando por perder aliados na forma como o faz.
A hipótese ética de que “os fins justificam os meios”, supõe que o objetivo final de alertar para a crise climática é uma causa maior e justifica as ações dos ativistas climáticos de se colarem a pinturas, bloquearem estradas, atirarem latas de tinta a políticos, ou vandalizarem os cartazes dos partidos.
No entanto, criam um alarido e um escândalo tão grande que acabam por desviar a atenção da causa nobre que é defender o futuro de um planeta mais verde. Ao invés, viram o cidadão comum contra a sua causa. Muitas destas ações prejudicam mais as pessoas comuns, do que as grandes empresas que se recusam a fazer a transição energética necessária.
Por vezes, é necessário destruir algo para poder reconstruir, mas destruir só porque sim, sem qualquer perspetiva de construção ou sugestão de alternativas, não pode ser o caminho. O caso dos seis jovens portugueses que estão a levar 32 países perante o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos pela inação para evitar a crise climática, é um excelente exemplo de uma forma construtiva de exigir justiça climática.
Ser radical é isso mesmo. É ser persistente, humilde e sensato, e saber usar a inteligência como S. Francisco.
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.