A guerra chegou ao Líbano

País tem sofrido grande instabilidade politica e económica que culminou em 2020 com explosão no porto de Beirute, gerando grande revolta e impotência para encontrar soluções. O problema não é religioso, é político, fruto da ganância humana.

A guerra chegou ao Líbano. Nada de novo. A guerra parece nunca ter deixado o Líbano. Não há uma única geração neste país que não tenha conhecido conflitos e guerra.

O Líbano, como país, é criação francesa, em 1920. O Médio Oriente tinha então sido dividido entre franceses e ingleses. A Síria e o Líbano eram a parte francófona.

O país é constituído por uma grande diversidade religiosa e por vários grupos étnico/religiosos: os maronitas (católicos), caldeus ortodoxos e católicos, arménios ortodoxos e católicos, católicos latinos, sírios ortodoxos e católicos, greco ortodoxos e católicos e coptas ortodoxos e católicos. Estes são cerca de 40% da população. Existem também os grupos muçulmanos divididos entre xiitas e sunitas, que são também cerca de 40% da população. Por fim os drusos, que são cerca de 10% da população.

O país torna-se independente em 1943. Em 1948 inicia-se um período muito conturbado na região e na relação com o recém-criado estado de Israel.

Desde então o Líbano vai passar por vários conflitos. Em 1975 eclodiu uma guerra civil devido ao aumento de tensões sectárias, em parte impulsionadas pela chegada dos palestinianos, expulsos da sua terra. Em 1976 a Síria intervém neste conflito. Nos anos seguintes aumentam as tensões entre o Líbano e Israel. Em 1982 Israel invade o Líbano e, desde então, sempre existiu uma grande tensão entre os dois países. Em 2005 as tropas sírias retiram-se do Líbano. Entra então em cena o Hezbollah, gerando novos conflitos internos. Em 2012 a guerra civil síria gera nova instabilidade, ameaçando espalhar-se para o Líbano, tendo levado à chegada de milhares de refugiados sírios.

Nos últimos anos, o Líbano tem sofrido uma grande instabilidade politica e económica que culminou em 2020 com a explosão no porto de Beirute, gerando uma grande revolta e ao mesmo tempo uma impotência para encontrar soluções para o país.

O problema não é religioso. É político. É fruto da ganância humana e das forças políticas que têm governado o país.

O problema não é religioso. É político. É fruto da ganância humana e das forças políticas que têm governado o país.

Falei, ao longo destes últimos dias, com alguns amigos libaneses. Estão muito apreensivos e algo amedrontados. Ainda que a zona onde vivem não tenha sido bombardeada, dizem que são audíveis e visíveis os bombardeios e a fuga de pessoas. Algumas igrejas estão a servir de abrigo.

No santuário de Nossa Senhora do Líbano, o Papa João Paulo II, aquando da sua visita, tinha deixado uma mensagem: “o Líbano é mais do que um país, é uma mensagem para o mundo.”

Esta mensagem que tive a oportunidade de ver in loco, acompanhou o meu pensamento durante o ano que ali vivi. A mensagem é real e visível. Conheci gente fabulosa, gente muito bem formada e uma grande diversidade cultural e religiosa. Observei uma boa coabitação e respeito pela fé e pela cultura do outro.

Pareceu-me, no entanto, haver sempre uma certa tensão no ar que se refletia nas conversas. Têm uma longa história de guerras. No ultimo século tiveram uma enchente de refugiados palestinianos e, depois, sírios, o descalabro económico, corrupção, a explosão no porto de Beirute. Percebe-se que há uma certa impotência diante do fracasso como nação. Eram a Suíça do Médio Oriente, a Beirute chamavam a Paris do Médio Oriente. Gente bonita, culta. E agora uma nova guerra…

A mensagem que tive a oportunidade de captar tinha todos estes ingredientes: uma grande história, terras por onde Jesus caminhou, montanhas, mar, água, vales férteis, diversidade cultural e religiosa. A mensagem é rica e iluminadora. Agora, mais uma vez interrompida pela guerra.

A Rede Xavier, através das suas várias organizações e da qual a Fundação Gonçalo da Silveira (FGS) faz parte, está a promover uma campanha de angariação de fundos para ajudar os nossos parceiros no Líbano.
Para contribuir para esta campanha consulte o site em baixo
https://xavier.network/news/emergency-aid-crisis-in-lebanon/

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.