Ter filhos é uma enorme alegria. É uma graça que Deus nos entrega no colo e que, desde o primeiro dia, nos expande o coração para um amor que vai crescendo e nos transformando todos os dias. Mas é também um caminho de crescimento e de aprendizagem, na medida em que somos continuamente desafiados. A mudar, a aprender, a fazer melhor.
Imagino um gráfico onde é registada a minha evolução pessoal (e até espiritual) como se fosse uma tabela de registo de crescimento de um bebé: uma curva que cresce gradualmente ao longo do tempo, mas com pontos de inflação bastante acentuados a partir do nascimento de cada um dos meus filhos.
Como diz o provérbio, “quem tem filhos tem cadilhos”, ou seja, tem preocupações e inquietudes que nos testam e que se tornam autênticos exercícios de criatividade. Talvez seja por isso que noto um fenómeno curioso entre pais da minha geração. Seja em almoços, casamentos, encontros no parque ou à porta da escola, onde estão dois ou três pais reunidos, há conversa sobre filhos entre eles. Na realidade, acredito que a necessidade de partilha com outros pais e mães é algo que nasce com a chegada de um bebé, mas apercebo-me que vai se intensificando com o passar do tempo e com o crescimento dos filhos.
Há uns anos, tinha eu apenas o meu primeiro filho que ainda se passeava de fraldas, conversava com um casal de amigos sobre algo que me inquietava bastante acerca da chegada dos famosos “terrible two”, justamente quando tinha conseguido fechar o capítulo das noites mal dormidas. E entre troca de ideias, teorias e partilha de pérolas de sabedoria e de experiência de quem já tem filhos mais velhos, este meu amigo disse-me uma coisa que me ficou gravada: “Educar filhos é como jogar videojogos. Quando acabas um nível, vem outro logo a seguir ainda mais difícil.”
E entre troca de ideias, teorias e partilha de pérolas de sabedoria e de experiência de quem já tem filhos mais velhos, este meu amigo disse-me uma coisa que me ficou gravada: “Educar filhos é como jogar videojogos. Quando acabas um nível, vem outro logo a seguir ainda mais difícil.”
Isto, por momentos, pareceu-me assustador. Mas não há descanso? Quando estivermos a começar a dominar uma técnica, vão aparecer mais dificuldades? E se for muito difícil? E se eu não conseguir? Depois comecei a perceber como é que funcionava. Como nos videojogos, avançar de nível implica alguma maestria e muita persistência. Tentativa e erro é uma constante e, quando estamos a perder energia ou ficamos sem vidas, podemos usar os pontos extra que ganhámos com moedas e diamantes que encontrámos no caminho. Também há truques e túneis secretos, que normalmente é o irmão mais velho que nos ensina a passar, porque já passou aqueles níveis todos e facilita-nos um bocado a vida. E lá vamos avançando no jogo, aumentando a dificuldade a cada nível que passamos, mas também a tornar-nos cada vez melhores jogadores e aprendendo com todos os erros que fizemos.
Isto, por momentos, pareceu-me assustador. Mas não há descanso? Quando estivermos a começar a dominar uma técnica, vão aparecer mais dificuldades? E se for muito difícil? E se eu não conseguir? Depois comecei a perceber como é que funcionava. Como nos videojogos, avançar de nível implica alguma maestria e muita persistência.
Também com os nossos filhos é assim. Muitas vezes precisamos de ir buscar os pontos extra a outras pessoas com mais experiência, a livros, à escola ou até a especialistas. Outras tantas precisamos de truques para os saber levar. Em concreto, a Tabela de Recompensas é o meu túnel secreto favorito. E o engraçado é que não é pelas recompensas que as crianças se movem, mas pelo acumular de pontos diários consoante atingem os objetivos propostos (empenho nos trabalhos de casa, arrumar o quarto, serem amigos dos irmãos). Porque também eles gostam de jogos, descobrimos que educar a usar este tipo de recursos pode ser uma estratégia muito boa para todos – divertida, criativa e pela positiva.
E o melhor deste jogo, desta missão incrível que temos de educar e criar pequenos seres humanos, é que também nós vamos crescendo e evoluindo. Temos de sair da nossa zona de conforto, trabalhar os nossos limites e fraquezas, aceitar falhar e repetir os mesmos erros e perceber que sozinhos não conseguimos fazer caminho. E, com isso tudo, aprender que só tentando imitar Jesus, amando com todo o coração e pondo o melhor de nós em cada momento, é que conseguiremos passar todos os níveis e chegar ao fim do jogo.
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.