Recorda-nos a Laudato si’ (LS), mais ou menos universalmente aceite, que a ecologia integral inclui as dimensões humanas e sociais. “Tudo está interligado… Não há duas crises separadas: uma ambiental e outra social; mas uma única e complexa crise sócio-ambiental.” (LS, 139). É deste pressuposto que parto.
Vivemos numa sociedade onde se exalta cada vez mais o eu e que responde cada vez mais com o ele ou o eles. É ele ou são eles os responsáveis, são eles os culpados… Será fuga, distração, será falta de autoconhecimento de nós próprios, ignorância…? Compreende-se a facilidade de dizer: ele ou eles. Não compromete, não sou eu. E mais, alivia a minha consciência.
Que justiça é esta? Uma justiça pouco justa porque falha na essência. Uma justiça que diz que tudo tem de ser perfeito. Uma justiça que exige do outro sem que eu me tenha de implicar. Uma injustiça que diz: eu nunca faço por mal, o outro, sim, faz muitas vezes por mal.
A preocupação pelas mudanças climáticas tem vindo a ganhar cada vez um maior relevo, e não só nas agendas políticas. A ecologia é cada vez mais tema e este é cada vez mais pronunciado na segunda pessoa do singular ou na terceira pessoa do plural. Os governantes, as empresas, as instituições, eles são os maiores poluidores.
São muitas as manifestações que pedem uma maior atenção à necessidade de cuidarmos do nosso planeta. O assunto parece, e é, realmente sério. São muitos os indicadores que nos alertam para a destruição séria do nosso planeta e para a degradação das condições humanas, em muitos sítios . Esta chamada de atenção vem da esquerda, da direita, de organizações ambientalistas, de cientistas, da Igreja, etc. Estamos preocupados com o ambiente ecológico e social.
Já vamos na COP 28, de onde têm saído uma série de indicações e metas a atingir. Reparo que os protestos se dirigem, de modo geral, aos governos e às empresas, mas tem-me vindo à cabeça uma pergunta: quem são os consumidores? Quem são os promotores dessas lógicas consumistas? Não seremos nós? São eles ou sou eu também?
Reparo que os protestos se dirigem, de modo geral, aos governos e às empresas, mas tem-me vindo à cabeça uma pergunta: quem são os consumidores? Quem são os promotores dessas lógicas consumistas? Não seremos nós? São eles ou sou eu também?
Tenho assistido, pela televisão, a algumas manifestações, tenho lido muito comentários e até artigos sobre o tema, mas confesso que dificilmente, para não dizer nunca, ouço alguém a chamar a atenção para o eu e para a responsabilidade de cada um de nós. Os jovens estão na cimeira das manifestações e nunca viajaram ou consumiram tanto como agora.
São eles que poluem,
São eles que são consumistas,
São eles que passam tempo excessivo nas redes sociais,
São eles que usam demasiado o automóvel ou fazem demasiadas viagens de avião,
São eles que se esquecem do outro,
São eles que vivem acelerados,
São eles que não separam o lixo,
São eles que gastam demasiada água,
São eles que fazem todas estas coisas que eu não gosto.
Tantos afazeres, tantos compromissos. Vivemos imersos num ativismo louco. Tudo tem vindo a acelerar. E ninguém parece disposto a abrandar. Enchemo-nos e enchemos o outro de afazeres, de consumos e de necessidades de consumo. Toda a gente tem muitas ideias. Toda a gente tem muitas propostas. Que pena que o devagar e o silêncio tenham tão pouco espaço nas nossas vidas. Nunca se viajou tanto, nunca se comprou tanto. Como querer reduzir as emissões de ozono quando é necessário produzir cada vez mais e cada vez mais rápido para uma massa humana ávida por consumir? Como ter uma vida mais harmoniosa com os outros e com a natureza quando passamos a vida a correr?
Parece-me fundamental, se queremos que realmente algo mude, que mudemos a atitude pessoal. É necessário conjugar mais vezes a denúncia na primeira pessoa do singular. É necessário passar do eles ao eu.
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.