Existem pessoas que fazem do seu trabalho e da sua vida uma “caminhada” conjunta. Que marcam trajetos nas comunidades onde se inserem, através de serviço e dedicação. É com admiração que partilho abaixo o testemunho de Vicente Boa Morte, um homem com quem os LD têm o privilégio de privar há largos anos. Com ele, muitas vezes senti, que não somos nós (Leigos para o Desenvolvimento) que acompanhamos os projetos, mas que é ele (e muitos outros) que nos encaminham e ensinam como acompanhar.
Agradecemos o tanto deste caminho partilhado – “todos num só”.
Maria Lagos
S. Tomé e Príncipe, 2019-2021
“Que caminhada!…
…estávamos nos finais da década de 70, mais precisamente em principio da década de 80 (1981), quando terminei a minha formação em Magistério Primário, na EFOPE (Escola de Formação de Professores e Educadores de STP), ex escola Viana da Mota.
Os meus professores do CIDAC (Centro de Informação e Documentação Amílcar Cabral), diziam:
«- Eis que vocês estão terminando a vossa formação… A vossa missão deverá ser a de se dirigirem aos locais mais recônditos do vosso país onde as populações mais precisam, a fim de disseminarem conhecimentos, como prova de patriotismo e gratidão ao país…»
Creiam que isto martelava na minha mente e despertou em mim um espírito que me revolucionou e logo, em 1982, parti para o norte do país, mais concretamente Santa Catarina, onde exerci com zelo as minhas funções de docente durante 3 anos. Após isso, regressei ao centro do país até que em 1987/88, parti para o sul, concretamente Porto Alegre, onde dei tudo da minha vida até à reforma que já está à porta, a fim de disseminar o saber aos aí residentes, não foi tarefa fácil mas hoje, congratulo-me com os esforços consentidos e, após retirar-me, fá-lo-ei com o sentimento de dever cumprido, pois já tenho hoje, tantos alunos que são professores, médicos, engenheiros, advogados, e muitos outros em formação. Ainda me lembro quando me dirigia aos meus alunos e dizia-lhes: “reparem que todos os professores vêm da cidade; todos os enfermeiros vêm da cidade; todos os médicos vêm da cidade e por aí fora… é preciso inverter a situação… têm que estudar, e muito, para o conseguirem…”
…Em 1998, fui ao Brasil fazer “Gestão Participativa e Docência para a transformação”, na Universidade Federal do Paraná em Curitiba. Após o meu regresso, fui eleito por aclamação em 1999 o 1º Presidente da Associação de Moradores de Porto Alegre, da qual fiz 3 mandatos de 3 anos cada, em prol da população. Assessorados pela ONG – Zatona ADIL , quantas associações do país para lá se dirigiam a fim de buscar subsídios e experiências para as suas comunidades…
Em 2012, assumi as rédeas da direção das escolas do Pólo III de Caué, que engloba as escolas de Monte Mário, Porto Alegre e Ilhéu das Rolas – 1º e 2º ciclos do básico, e onde em 2019, após uma visita ministerial, a mesma foi considerada a escola de referência no distrito de Caué.
…Desde que a ONGD – Leigos para o Desenvolvimento se instalou em STP nos finais da década de 80, inicio de 90, que acompanho os projetos de apoio ao desenvolvimento das comunidades do sul da ilha de São Tomé e, após largos anos de luta conseguimos construir de raiz, um Centro de Recursos Educativos e Formativos (CREF) com várias valências e, neste ano 2021, o mesmo foi brindado com a instalação da internet, em prol do desenvolvimento das comunidades periféricas (Porto Alegre, Vila Malanza, Ponta Baleia e Ilhéu das Rolas)!
… Mas que caminhada!…
Ainda não chegámos ao fim!… Temos muitos desafios pela frente e espero que com os colaboradores que temos em regime de voluntariado, chegaremos a bom porto…
…Após estes anos de luta, esta é a minha reflexão em Março de 2021, e dedico-a a todos os voluntários da ONGD – LD (do topo à base) que, com mestria, perseverança e dedicação, colaboraram desde a essência do projeto , até hoje, na consumação das aspirações destas comunidades.
Bem hajam…»
Vicente Boa Morte
Porto Alegre – março de 2021