D. Abílio Ribas, um Homem inspirado, ousado e Amigo!

“Querido D. Abílio” foi o que sentimos quando soubemos da sua partida para o Pai. A primeira sensação é de ternura, gratidão, humanidade e alegria.

Sr. D. Abílio Ribas acolheu com entusiasmo a ideia do P. António Vaz Pinto e fez tudo o que lhe foi possível para que se concretizasse o projeto dos Leigos para o Desenvolvimento a bem da população de São Tomé e Príncipe. Ao seu interesse, acolhimento e dinâmica muito devemos na partida da primeira comunidade de seis Leigos para aquela ilha. Esperava-nos às 7h da manhã, num calor já abrasador, para nos abraçar como se faz a um amigo.

Entendendo o potencial evangelizador e de desenvolvimento que a Associação Leigos para o Desenvolvimento podia vir a ter, no seu modelo inovador de comunidades mistas de voluntários, enviadas em missão apostólica e profissional, acolheu, acompanhou e apoiou sempre, com decisão, amizade, empenho e imensa generosidade. Identificava nas ideias propostas o maior serviço de Deus e logo se envolvia entusiasta, sossegado, confiado em Deus.

Passámos momentos muito agradáveis de partilha fraternal nas celebrações religiosas seguidas de confraternização, quer fosse nas comunidades, como no Paço Episcopal, ou na Casa dos Leigos, que D. Abílio disponibilizou à nossa Associação, perto da cidade de São Tomé, para viabilizar a continuidade da presença logo a partir do segundo ano, 1989/90.

Foi sempre uma presença amiga e discreta, um homem sem receios, que não temia defender os valores cristãos e os missionários, de quem ouvimos histórias de uma intensidade impressionante, contadas com a tranquilidade e confiança de um verdadeiro Homem de Deus. As vivências em Angola, o acidente com a mina, a recuperação e a dedicação à missão de Bispo são memórias emotivas e marcantes ainda hoje.

Fielmente rezava o terço ao fim da tarde na varanda do Paço, muitas vezes acompanhado pelo Miguel que tanto apreciava este momento. Fica-nos como memória marcante e emotiva a sua postura no momento da Consagração!

Para dar corpo ao projeto que é agora a Escola Portuguesa de São Tomé, D. Abílio disponibilizou espaços do Paço que todos os dias aos fins de tarde eram “invadidos” por várias dezenas de alunos santomenses que frequentavam os últimos anos do liceu.

A determinado momento, D. Abílio identificou a necessidade de ter um apoio administrativo e organizacional na Diocese. O João foi o enviado a essa tarefa, e trazia-nos um testemunho de proximidade de um homem de oração, entregue, confiado, resiliente.

Algumas histórias divertidas foram vividas em primeira mão pelo Alberto e pelo João, ambos engenheiros, mas sem conhecimento de fotocopiadoras ou máquinas de stensil. As primeiras eram raras e muito protegidas por quem as tinha, pois eram bens preciosos e qualquer avaria ou falta de consumíveis podia representar meses de inação. A fotocopiadora teve um achaque e D. Abílio pediu ao Alberto que fosse tentar socorrer. O Alberto, astuto e bem disposto, fez tudo o que sabia (que era pouco) à fotocopiadora. O Sr. Bispo não arredou pé, animando e incentivando o Alberto a desmontar a máquina e com imensa esperança na solução, mas também tranquilidade com a situação não melhorada. Dadas as dificuldades com as fotocopiadoras, e querendo contribuir para que os alunos do IDF- Instituto Diocesano de Formação João Paulo II, estabelecido no Paço, tivessem mais materiais de estudo, D. Abílio foi retirar de um arrumo um antigo stensil supostamente ainda funcional, e foi nova ocasião de empenho para tentar que alcançasse a performance suposta. Em momentos de tensão, com o João engalfinhado na máquina, o Sr. Bispo libertava controladamente a sua contrariedade e enervamento repetindo de volta do João “Que mistério! Que mistério!”. Passados uns meses de estarmos na ilha, houve um evento para que fomos convidados os seis. Um entusiamo, a primeira saída, estávamos os seis prontos e arranjados para a ocasião e, de repente, a nossa “boleia” tinha desaparecido e a deceção foi grande! Como é que o Sr. Bispo o soube, já não poderei dizer, mas veio ter connosco dizendo que ia buscar o “turismo” (o seu carro normal, não o jipe) para nos levar. E lá fomos, aperaltados, contentes, surpreendidos pela generosidade, apertados no pequeno carro para o tal evento que ficou devidamente registado em imagens!

Depois do regresso de todos a Portugal, D. Abílio continuou a ser presença marcante nos encontros regulares desta primeira comunidade de Leigos, juntando-se com imenso gosto e alegria à celebração da Eucaristia e à refeição que era um momento de recordações intensas e alegres e de muita gratidão por parte de todos.

Obrigada, D. Abílio, pela sua genuinidade, testemunho, alegria e fé!

Ana Guimarães com contributos dos companheiros de missão do ano 1988-1991: Alberto, Inês, João, Manel, Maria, Maria, Maria Amélia, Maria João, Miguel e Vasco.

 

Fotografia: celebração dos 25 anos de partida da primeira comunidade de Leigos para o Desenvolvimento, com a segunda comunidade e D. Abílio.