Paulino Paissone, uma vida de sabedoria na entrega

A história dos Leigos para o Desenvolvimento em Moçambique é indissociável do Paulino Paissone, aliás, são facilmente confundíveis. A presença LD em Moçambique remonta a 1993, após uma intervenção inicial, dois anos antes, no vizinho Malawi em campos de refugiados durante a guerra civil moçambicana. A convite de D. Luís Gonzaga, jesuíta, depois da intervenção … Saber mais

A história dos Leigos para o Desenvolvimento em Moçambique é indissociável do Paulino Paissone, aliás, são facilmente confundíveis.

A presença LD em Moçambique remonta a 1993, após uma intervenção inicial, dois anos antes, no vizinho Malawi em campos de refugiados durante a guerra civil moçambicana.

A convite de D. Luís Gonzaga, jesuíta, depois da intervenção com o JRS no país vizinho, eis que os LD chegavam finalmente Moçambique, estruturando projetos de educação nas províncias de Tete e Niassa em parceria com as respetivas Dioceses.

Assim se chegou a Muheia, localidade do distrito de Cuamba, província do Niassa, sítio que há 60 anos, no dia 25 de Abril, viu nascer o Sr. Paulino, como é conhecido por muitos dos anciãos LD, apesar de reconhecer que prefere ser chamado de Paissone. Ainda sob domínio colonial, esta pequena aldeia estava longe de imaginar que acabara de receber um dos sorrisos mais honestos e genuínos existentes à face da Terra, bem como um dos grandes futuros impulsionadores do Ensino Pré-Escolar da província do Niassa no pós-independência, exatamente 10 voltas ao Sol depois do nascimento do Paissone, e no pós-guerra civil.

Depois deste período conturbado da história moçambicana, começaram a florescer as Escolinhas Comunitárias do Niassa (ECN), em 1997. Projeto de base comunitária assente na sustentabilidade, as ECN dão forma ao provérbio africano: “é preciso uma aldeia para educar uma criança”.

Com a restauração da paz, em vários distritos do Niassa as Escolinhas iam crescendo e na paróquia de Etatara, à qual pertence Muheia, estava um tal de Paulino Paissone. Sempre pronto. Sempre atento. Sempre disponível. Sempre a sorrir!

Apesar de gostar muito de estar com as crianças, rapidamente se percebeu, pela sua integridade e compromisso, que era um recurso valioso e cedo começou a desempenhar tarefas de formação e supervisão nas Escolinhas ao nível da zona de Etatara.

O seu entusiamo e compromisso com as Escolinhas é tal que, inclusivamente, arrastou a família, tornando-se uma das filhas monitora da escolinha de Muheia.

Não tem medo de assumir que a zona onde vive é pobre, isso não o envergonha. As pessoas à sua volta, como ele mesmo, são maioritariamente camponeses e com baixos rendimentos e os recursos existentes são limitados, até há bem pouco tempo nem sequer energia tinham. Porém, isso nunca o impediu de ver a riqueza que são as crianças e o papel que a educação tem para elas. Deixaria certamente orgulhoso Samora Machel, um dos pais da independência moçambicana que afirmava que: “as crianças são flores que nunca murcham”.

O Paissone nunca se refugiou na pobreza para virar a cara à luta. Assumiu afincadamente a missão de contribuir para um futuro melhor para as crianças e conta, sempre de sorriso rasgado, que: “em 2006 fui convidado pela coordenação das Escolinhas para ser Supervisor Geral [da província do Niassa]. Havia dias que saia daqui [Muheia] de manhã ia até Cruzamento [60 km de distância] de bicicleta, fazia a supervisão e regressava ao final do dia.”

Para ele não há desculpas, há desafios. Faz 120 km de bicicleta para desempenhar alegremente a missão a que Deus o chamou. Não há desculpas, há contexto e é nesse contexto que vive e no qual procura soluções.

Com o seu humor e boa disposição, conta que finalmente conseguiu comprar uma televisão e a primeira coisa que fez foi colocá-la do lado de fora de casa para que todos pudessem ver. Porém, arranjou uma forma inteligente de todos poderem contribuir para os gastos. Quem queria assistir tinha de contribuir para a energia e podia fazê-lo de duas formas: pagando 2 meticais (3 cêntimos!) ou limpando uma linha da sua machamba (horta). Simples e justo.

Recebe qualquer pessoa de braços abertos em sua casa, mas, quando se fala nos LD, o coração abre-se ainda mais. Nomeia um por um os voluntários dos LD com que trabalhou e tem sempre uma estória para contar com cada um deles.

Se há pessoas que deviam ter direito a ser eternas aqui na Terra, o Paissone é sem dúvida uma delas, porque o mundo é melhor porque ele existe.