Existem pessoas que conseguem especificar o dia mais feliz da vida delas, o nascimento de um filho, o casamento com a pessoa amada, o terminar um curso superior ou um mestrado, a conquista de um sonho há muito esperado e conseguido com muito trabalho. Eu já disse tantas vezes, aquele foi o dia mais feliz da minha vida, mas depois, mudei de ideias e tive outro que o superou e mais outro.
Em missão há dias mais felizes, em que acordas entusiasmada, em que um projeto corre bem, em que uma conversa dá frutos, em que um momento em comunidade será uma memória que vais guardar para sempre. Mas, também, há dias mais difíceis, em que todo o teu trabalho não dá os frutos que tu esperavas, em que as saudades apertam ou simplesmente porque te sentes mais em baixo.
Um dia destes, quando me ia deitar e fazia o exame de consciência do meu dia, enquanto dava graças por todos os bons momentos do dia, pensei para mim mesma, hoje foi o dia mais feliz da minha missão, dos quase 5 meses desde que aqui cheguei. Uma combinação de bons momentos em comunidade, de um passeio pelo território, dos projetos estarem a correr bem e ainda de convívio com a população local, fizeram daquele dia, o dia mais feliz em missão.
Certamente terei outros “dia mais feliz em missão”, mas para já, este já fez valer todos os esforços, todo o trabalho, todas as saudades, todos os erros e acertos, todos os momentos de desolação. Estes ficaram em segundo plano e finalmente percebo…
Finalmente percebo, todos os anciãos (1), quando os ouvia, com um sorriso nos lábios, que o tempo em missão foi, por um lado, o tempo mais difícil, mas por outro lado, o mais feliz da vida deles. Sim, é difícil, ninguém diz o contrário, mas são dias como este, que fazem-me perceber que tomei a decisão certa, em confiar e em aceitar este desafio de ser missionária na agora minha margem.
Ana Teresa Oliveira
Caparica-Pragal, 2018-2019
(1) Ex-Voluntários dos Leigos para o Desenvolvimento