O RAIO é uma atividade de formação dos Gambozinos que envolve todos os animadores, para que estes se conheçam melhor e cresçam juntos na missão de animar. Todos sabemos que não há melhor maneira para o fazer do que passar um fim de semana juntos em verdadeiro espírito gambozínico. Embora estes dias não tenham incluído nenhum “Survivor” ou “Tens Mira?”, vivemos em conjunto momentos de partilha e oração de modo a fomentar a união entre os muitos e espetaculares animadores.
Eu, tal como os meus companheiros de 2003, estamos a ser introduzidos aos poucos a esta nova etapa que é ser animador. Esta transição de animado para animador não é fácil e é exatamente por isso que o RAIO é tão importante! Neste fim de semana percebemos que não estamos sós neste percurso e que podemos sempre contar uns com os outros, pois este é um caminho partilhado e que não se faz sozinho. O apoio desta família que é os Gambozinos é crucial no nosso crescimento quer como animadores, quer como indivíduos.
O RAIO foi uma excelente oportunidade para voltar a ver tantas caras conhecidas e para conhecer muitas mais. Foi um fim de semana cheio de sorrisos, alegria, partilha e sobretudo de união. Desde a cantar a música “Pra onde é que eu vou” todos juntos numa roda, ao BDS em que escolhemos uma fotografia dos olhos de outra pessoa. Também vários animadores mais experientes foram dando testemunhos e conselhos para que nós um dia possamos vir a ser tão bons animadores como eles. São estes os momentos de que nos vamos recordar de cada vez que olharmos para trás e pensarmos neste fim de semana incrível.
O RAIO permitiu então o encontro entre os animadores mais novos e os animadores mais experientes, ou, por outras palavras, os “dinossauros”. Assim, conhecemo-nos todos melhor e fortalecemos relações. E como é que fizemos isso? Bem, não há melhor maneira do que um jogo em que o objetivo é rebentar os balões escondidos nas costas da geração oposta. E já todos sabemos quem ganhou…
A verdade é que depois do nosso campo de serviço, tivemos umas boas e longas férias de verão para recuperar forças para sermos ótimos animadores. Foi-me assim proposto um desafio: fazer parte do Núcleo Sul e de um novo grupo, o GADO. Talvez desafio não seja a palavra mais correta, mas sim uma aventura, pois acho que todos podemos concordar que o nosso primeiro ano a animar é, de facto, uma aventura, para a qual o RAIO nos prepara da melhor maneira possível. E é esse um dos objetivos destes três dias, ou seja, formar os novos animadores para que esta nova etapa corra da melhor forma possível!
Tenho a sensação de que atualmente buzzwords como sustentabilidade ou crise climática são códigos para se fugir a sete pés. Sim, o alarmismo e o moralismo cansam, mas há muitas outras maneiras de encararmos estes assuntos sem cairmos nesses tons “menos apetecíveis”. Aliás, enquanto gambozinos e cristãos é-nos tantas vezes pedido para refletir sobre o mundo que nos rodeia e em como somos chamados a viver à semelhança de Cristo. Não é preciso muito para reconhecermos que esse mesmo mundo em constante mudança tem impactos cada vez mais palpáveis nas nossas vidas. Seja a chuva que não vem, as inundações e os fogos um pouco por toda a Europa, a poluição que já não se deixa esconder debaixo do tapete. Se antes podíamos virar a cara, cada vez mais tudo isto nos assalta as casas e a vista, pressionando-nos para que não continuemos a ignorar esta ameaça à nossa Casa Comum. Seria redutor se, reconhecendo o problema, nos conformássemos com a ideia de que este apenas diz respeito aos cientistas que o estudam e às grandes empresas a quem deve ser exigido corrigir o mal feito. Para além de nos colocar no papel de espectador, lavando-nos as mãos da nossa quota parte de responsabilidade, esta perspetiva distancia-nos de um olhar compassivo para com as comunidades mais afetadas e vulneráveis, estas que são maioritariamente as mais pobres. Então, como pode um gambozino viver melhor esta realidade? Primeiramente, mantendo-se informado, procurando compreender e acompanhar as tendências atuais e futuras, informação não falta. Em segundo lugar, explorando pequenas e possíveis alterações aos seus hábitos. Mas fazê-lo de forma gradual e orgânica, sem se reter em perfecionismos que acabam por boicotar o progresso. Por último, e talvez mais importante, participando no diálogo e estando disposto a pôr os seus dons a render, ainda que à primeira vista pareçam nada ter a ver com o assunto em questão. Para dar resposta à exigência dos desafios que enfrentamos todos somos chamados a ser agentes de mudança, começando por dentro e expandindo para os nossos círculos de influência.
Afinal, também nesta perspetiva podemos ver novas todas as coisas em Cristo.
Fazer campos de verão e ir às atividades ao longo do ano é sempre entusiasmante e voltamos com o coração cheio de alegria e de vontade de fazer mais e melhor. E, é mesmo bom, perceber que maravilhas é que Jesus faz em nós durante os campos e que depois se transpõem para o nosso quotidiano. Por isso, perguntámos a duas gambozinas, a Francisca e a Nádia, como é viver o espírito gambozínico na sua rotina diária e o que é que os gambozinos significam para elas!
1) Como é que é ser gambozino no teu dia-a-dia?
Nádia Santos: Ser gambozino no meu dia-a-dia é mega bom. A experiência de ter entrado nos Gambozinos foi incrível.
Francisca Pedrosa: Ser gambozino é querer ser mais e mais um exemplo de Jesus. Para mim, é conseguir ser um porto seguro para os outros e estar disponível para qualquer um.
2) Qual foi o momento gambozínico que mais te marcou?
Nádia Santos: O momento gambozínico que mais me marcou foi o fim-de-semana no GAP! Esse fim-de-semana foi o mais marcante, porque fiz várias amizades e aproximou-me mais dos gambozinos. A partir daí, reabri-me mais às pessoas.
Francisca Pedrosa: Enquanto gambozina, já fiz dois campos e outras atividades, mas o momento que mais me marcou foi, sem dúvida, quando voltámos ao campo depois da caminhada deste ano. As caminhadas são sempre um momento de grande reflexão e descoberta e, nesta caminhada, apercebi-me de que há vários aspetos dentro de mim que me impedem de crescer enquanto pessoa/filha/irmã/amiga e que para ser capaz de dar o melhor de mim preciso de as enfrentar.
3) O que é que te surpreende mais nos gambozinos e te faz continuar a vir às atividades?
Francisca Pedrosa: O mais surpreendente para mim é que todas as atividades são diferentes e isso faz-me querer ir sempre! É o facto de não saber o que esperar, mas saber que me vou divertir e, além disso, nos gambozinos há lugar para todos, sem ser preciso fingir que somos outras pessoas para nos integrarmos.
Nádia Santos: O facto de os Gambozinos estarem sempre lá para nós! É incrível ver a maneira como os gambozinos lidam com cada coisa que acontece. O que me faz querer ir às atividades é poder estar com amigos e amigas que fiz nas atividades, nos mini-campos e nos campos e poder fazer novas amizades. Ir às atividades também me faz aprender coisas novas com os gambozinos.
Este ano as linhas de fundo são uma pergunta. “Então, mas estas linhas não servem para nos orientar?”, perguntará o gambozino, e bem. “Como é que uma pergunta me orienta? Perguntas já eu tenho, e não são poucas.”
É verdade, sim senhor. Mas aqui esta pergunta não vem só. É uma pergunta que evoca uma canção, que tem sido hino do tanto que vivemos e desejamos viver nos gambozinos. E, acompanhada de um texto do Evangelho, serve para nos lembrar de procurar o que é realmente importante na nossa missão.
Dizia um senhor chamado Séneca (pouco mais velho que Jesus) e relembram-nos muitas vezes os jesuítas que nos acompanham, que “quem não conhece o porto que procura nunca encontrará ventos favoráveis”.
É disto que nos queremos lembrar quando fazemos a tal pergunta. De perguntar também: quais são os “ventos favoráveis”? No mesmo texto, Séneca acrescenta:
“Sempre que queiras saber qual a atitude a evitar ou a assumir, regula-te pelo bem supremo, pelo objetivo de toda a tua vida. (…)
Nenhum pintor, mesmo que tenha as tintas preparadas, consegue representar o que quer que seja se não tiver uma ideia definida do que quer pintar. (…)
O arqueiro, ao disparar uma flecha, deve conhecer o alvo que pretende atingir para poder apontar e regular a força do disparo.
As nossas deliberações serão vãs desde que não tenham um alvo preciso a atingir”.
Séneca, Cartas a Lucílio
Santo Inácio traduziu a mesma ideia em menos palavras, talvez mais certeiras ainda:
“(…) da nossa parte, (…) somente desejemos e escolhamos o que mais nos conduz para o fim para que somos criados.” [EE 23]
Não basta, então, saber para onde vou (o que quero pintar, qual é o meu alvo, para que fui criado, para que faço parte dos gambozinos, porque sou animador…), mas importa escolher o que mais me ajuda a chegar lá.
Para ser bom animador, preciso de saber para quê e por Quem o faço. De onde vem esta vontade de aproximar crianças e jovens de lugares e vidas tão diferentes, e para que serve estarmos a dar tantas horas da nossa vida (por si já tão ocupada) a esta cena? O que queremos com isto? Tudo nasce a partir dessa pergunta.
Na verdade, as linhas de fundo deste ano servem de antídoto para o esquecimento que nos faz perder a garra: para nos lembrar de procurar sempre o porquê de estarmos aqui, e para quê/onde queremos caminhar. Servem de lembrete, como um alarme no telefone: não faças ou decidas as coisas só porque sim, porque sempre se fez assim, porque alguém te disse ou porque te apetece nesse momento. Procura o melhor. Procura aquilo que melhor corresponde à missão que te foi confiada nos Gambozinos. E questiona tudo o resto – para onde te leva?
E o que é que nós, gambozinos, queremos, acima de tudo?
Há quem diga passar umas tardes fixes no P3, outros dirão fazer uns amigos improváveis a jogar à bola no Monte ou nas Andorinhas, outros ainda que somos loucos e gostamos é de ir para o meio do nada durante 10 dias e, quem sabe, encontrar Deus num survivor. Tudo uma maravilha. Mas tudo serve o mesmo propósito, que está acima de tudo e não podemos perder de vista: ajudar a construir o Reino já aqui, uma pedra de cada vez. O lugar onde há paz, justiça e alegria entre todos e que o nosso Gambozino nos veio mostrar na Sua vida. Com a imagem do que queremos e o alvo bem claros na nossa mira, seremos pintores e arqueiros cada vez mais habilidosos.
2. Uma história
E como é olhando para a vida de Jesus que a nossa se torna clara, este ano seguimos de perto um texto do evangelho de S. Lucas, os discípulos de Emaús.
“Abriram-se-lhes os olhos e reconheceram-no, mas Ele deixou de lhes ser visível. Diziam, então, um ao outro: “Não nos ardia o nosso coração quando Ele no caminho nos falava e abria as Escrituras? E, levantando-se, nessa mesma hora voltaram para Jerusalém.”
Lc 24, 31-33
Neste episódio, dão-se três movimentos importantes na vida destes amigos de Jesus.
O primeiro: aproximam-se de Jesus; ou melhor, Jesus aproxima-se deles. Põe-Se a caminho com eles, conversa, ensina, senta-Se com eles à mesa.
O segundo: reconhecem-No, ao partir do pão. Recordam como o encontro com Ele os transforma.
O terceiro: “nessa mesma hora”, põem-se a caminho de Jerusalém, para anunciar que Jesus ressuscitou.
Este ano, nos gambozinos, procuramos também passar por estes três movimentos: deixar que Jesus se aproxime, reconhecê-Lo e ir anunciar o Evangelho com toda a pressa. Para onde vamos? Para onde formos chamados a anunciar que Jesus está vivo.
A Direção Nacional é, muitas vezes, um “mistério” para quem não faz parte dela. Sabemos que estão sempre cheios de trabalho, mas não percebemos bem o que é de facto fazer parte dessa equipa. Por isso, pedimos aos vários membros para nos mostrarem um bocadinho do que por lá se faz.
O que é que significa para ti fazer parte da direção nacional?
Afonso Santos – Esta resposta foi mudando muito ao longo dos anos que estive na Direção Nacional. Se ao início era a oportunidade de pensar mais fundo os Gambozinos através de ideias novas, muito bem pensadas, ao chegar ao quarto e último ano, percebo que, mais importante do que esse pensar (que é importante!), fazer parte da Direção Nacional significa coordenar corações. Esta frase foi roubada de um grande animador que a usou para descrever um coordenador, mas penso que pode, muito bem, ser extrapolada para qualquer membro da direção. Coordenar corações significa servir e guiar pessoas concretas, num momento concreto (e não ideias, planos ou desejos abstratos). Significa acompanhar animadores, participantes e famílias tendo sempre como ponto de partida o cuidado personalizado por cada um, à maneira de Jesus.
António Martins – Pertencer à direção deste movimento é, para mim, uma responsabilidade muito grande, mas também uma grande alegria, é quase como se estivesse sempre para acontecer uma grande festa e eu pudesse ajudar a planeá-la com o meu grupo de amigos. Sinto que é uma graça muito grande poder pertencer a este grupo de pessoas que dão o seu tempo e disponibilidade para que muitas ideias ganhem vida e a associação continue a crescer dia após dia. Estar na Direção Nacional é, para mim, um desafio constante, mas relembra-me todos os dias do amor que eu tenho por esta associação.
Mariana Mello e Castro – Quando entrei na direção assumi muito a idade dos porquês, para perceber o porquê de cada coisa e ir percebendo todo o background desta associação! Após saber os porquês, passei à fase em que estou agora, que é a de poder sonhar com a garra toda, ao longo do ano, todos os caminhos e todas as coisas que podem ser feitas pelos gambozinos, e qual delas é a melhor e que vai mais de encontro ao que achamos que os Gambozinos precisam, tentando garantir sempre que o conceito da ALEGRIA GAMBOZÍNICA nunca falte!
Pe. Lourenço Eiró– Primeiro que tudo, é uma Missão, que me foi confiada por Deus, enquanto Jesuíta, através do Padre Provincial (Superior dos Jesuítas em Portugal). Faço parte da Direção dos Gambozinos na qualidade de Assistente Espiritual. Devo contribuir para que os trabalhos e decisões da Direção estejam em sintonia com a vontade de Deus para a Associação. Para isso ser possível, proponho momentos de oração entre os membros da Direção, assim como tenho a pasta da vida espiritual da GBZ: Capelães dos Campos de férias e outras atividades; cuidar da vida espiritual dos sócios e animadores; presidir às Eucaristias da GBZ; Etc. Tenho a responsabilidade de acompanhar e cuidar da vida espiritual do Movimento. Ao cumprir esta missão, devo apoiar o(a) coordenador(a) da GBZ, assim como os restantes membros da Direção, nas decisões difíceis que temos que tomar, garantindo que nos mantemos fiéis aos valores cristãos que orientam a nossa Associação.
Qual o maior desafio que sentes enquanto diretor da tua pasta?
Maria Coimbra – Provavelmente a resposta a esta pergunta muda de mês a mês. Neste momento seria equilibrar cuidar e acompanhar cada membro da Direção Nacional sem que sintam que não confio a 100% e sem me sobrepor. No geral, diria que o meu maior desafio é gerir inseguranças (minhas e da Direção Nacional) com as expectativas e opiniões de todos, sabendo sempre que no fundo queremos todos o mesmo: o melhor para os Gambozinos.
Lucas Gonçalves – Ter crescido nos Gambozinos e, especificamente, no Núcleo Norte, juntou-me a muitas vidas diferentes e, com elas, a muitos exemplos do que é ser gambozino. Cada uma destas vidas fez (e ainda faz) de mim melhor animado, melhor animador e melhor diretor. É, também, olhando para estes modelos que surge o meu maior desafio enquanto diretor do Núcleo Norte: aceitar a fragilidade e humanidade deste papel. Facilmente me deixo levar pela procura do diretor ideal entre estes testemunhos, e não do diretor que sou chamado a ser. Apesar disso, este desafio foi-se tornando consolador na Missão que me vai sendo confiada pela direção, pelos animadores, pelos gambozinos e pelo Senhor.
Pedro Lynce – Enquanto diretor da pasta das Finanças, sinto que o maior desafio consiste em conciliar a disciplina e rigor com que devem ser tratados os fundos da associação, e a capacidade de alterar planos em prol do que melhor servir os Gambozinos.
Pedro Silva – Na minha pasta, a maior dificuldade que sinto é conseguir, no meio de brainstormings e das ideias loucas e fora da caixa que vamos tendo, pôr os pés na terra e parar para perceber o que faz ou não sentido no momento, e concretizar de maneira prática aquilo que vamos construindo nas reuniões!
Francisca Granjeia– Talvez seja não me perder da verdadeira missão nos afazeres diários da pasta, e no dia-a-dia da Comunicação. Estar na Direção Nacional, implica não só um olhar para as tarefas que temos de fazer na nossa pasta, mas uma preocupação de olhar à volta e ter uma visão de como está tudo nos Gambozinos. Às vezes torna-se desafiante, conseguir conciliar as tarefas objetivas que temos de fazer, com a missão de ter tempo de qualidade e tranquilidade para sonhar os Gambozinos!
Gonçalo Marques de Almeida – O maior desafio que tenho na pasta do núcleo Oeste é conseguir acompanhar os animadores que fazem parte do núcleo. O núcleo Oeste tem muitos animadores, cada um com um papel muito importante, se há uma coisa que é certa é que são os animadores que fazem o núcleo Oeste avançar. Para mim o papel do Diretor do Oeste é acompanhar estes animadores, e isto tem sido um grande desafio, pois um acompanhamento bem dado é sempre difícil, mas vale muito a pena.
Bia Medina– Para mim, o maior desafio que sinto é o de cuidar e o deixar-se cuidar. Um diretor de pasta não é um membro isolado da Direção Nacional, estamos todos juntos, todos os meses, e é importante que nos deixemos cuidar e que estejamos atentos uns aos outros, o que na avalanche de dia-a-dia acaba por ser um grande desafio.