Uma pergunta, uma história, uma canção.

1.     Uma pergunta

Este ano as linhas de fundo são uma pergunta.  “Então, mas estas linhas não servem para nos orientar?”, perguntará o gambozino, e bem. “Como é que uma pergunta me orienta? Perguntas já eu tenho, e não são poucas.”

É verdade, sim senhor. Mas aqui esta pergunta não vem só. É uma pergunta que evoca uma canção, que tem sido hino do tanto que vivemos e desejamos viver nos gambozinos. E, acompanhada de um texto do Evangelho, serve para nos lembrar de procurar o que é realmente importante na nossa missão.

Dizia um senhor chamado Séneca (pouco mais velho que Jesus) e relembram-nos muitas vezes os jesuítas que nos acompanham, que “quem não conhece o porto que procura nunca encontrará ventos favoráveis”.

É disto que nos queremos lembrar quando fazemos a tal pergunta. De perguntar também: quais são os “ventos favoráveis”? No mesmo texto, Séneca acrescenta:

“Sempre que queiras saber qual a atitude a evitar ou a assumir, regula-te pelo bem supremo, pelo objetivo de toda a tua vida. (…)

Nenhum pintor, mesmo que tenha as tintas preparadas, consegue representar o que quer que seja se não tiver uma ideia definida do que quer pintar. (…)

O arqueiro, ao disparar uma flecha, deve conhecer o alvo que pretende atingir para poder apontar e regular a força do disparo.

As nossas deliberações serão vãs desde que não tenham um alvo preciso a atingir”.

Séneca, Cartas a Lucílio

Santo Inácio traduziu a mesma ideia em menos palavras, talvez mais certeiras ainda:

“(…) da nossa parte, (…) somente desejemos e escolhamos o que mais nos conduz para o fim para que somos criados.” [EE 23]

Não basta, então, saber para onde vou (o que quero pintar, qual é o meu alvo, para que fui criado, para que faço parte dos gambozinos, porque sou animador…), mas importa escolher o que mais me ajuda a chegar lá.

Para ser bom animador, preciso de saber para quê e por Quem o faço. De onde vem esta vontade de aproximar crianças e jovens de lugares e vidas tão diferentes, e para que serve estarmos a dar tantas horas da nossa vida (por si já tão ocupada) a esta cena? O que queremos com isto? Tudo nasce a partir dessa pergunta.

Na verdade, as linhas de fundo deste ano servem de antídoto para o esquecimento que nos faz perder a garra: para nos lembrar de procurar sempre o porquê de estarmos aqui, e para quê/onde queremos caminhar. Servem de lembrete, como um alarme no telefone: não faças ou decidas as coisas só porque sim, porque sempre se fez assim, porque alguém te disse ou porque te apetece nesse momento. Procura o melhor. Procura aquilo que melhor corresponde à missão que te foi confiada nos Gambozinos. E questiona tudo o resto – para onde te leva?

E o que é que nós, gambozinos, queremos, acima de tudo?

Há quem diga passar umas tardes fixes no P3, outros dirão fazer uns amigos improváveis a jogar à bola no Monte ou nas Andorinhas, outros ainda que somos loucos e gostamos é de ir para o meio do nada durante 10 dias e, quem sabe, encontrar Deus num survivor. Tudo uma maravilha. Mas tudo serve o mesmo propósito, que está acima de tudo e não podemos perder de vista: ajudar a construir o Reino já aqui, uma pedra de cada vez. O lugar onde há paz, justiça e alegria entre todos e que o nosso Gambozino nos veio mostrar na Sua vida. Com a imagem do que queremos e o alvo bem claros na nossa mira, seremos pintores e arqueiros cada vez mais habilidosos.

 

2.     Uma história

E como é olhando para a vida de Jesus que a nossa se torna clara, este ano seguimos de perto um texto do evangelho de S. Lucas, os discípulos de Emaús.

“Abriram-se-lhes os olhos e reconheceram-no, mas Ele deixou de lhes ser visível. Diziam, então, um ao outro: “Não nos ardia o nosso coração quando Ele no caminho nos falava e abria as Escrituras? E, levantando-se, nessa mesma hora voltaram para Jerusalém.”

Lc 24, 31-33

Neste episódio, dão-se três movimentos importantes na vida destes amigos de Jesus.

O primeiro: aproximam-se de Jesus; ou melhor, Jesus aproxima-se deles. Põe-Se a caminho com eles, conversa, ensina, senta-Se com eles à mesa.

O segundo: reconhecem-No, ao partir do pão. Recordam como o encontro com Ele os transforma.

O terceiro: “nessa mesma hora”, põem-se a caminho de Jerusalém, para anunciar que Jesus ressuscitou.

Este ano, nos gambozinos, procuramos também passar por estes três movimentos: deixar que Jesus se aproxime, reconhecê-Lo e ir anunciar o Evangelho com toda a pressa. Para onde vamos? Para onde formos chamados a anunciar que Jesus está vivo.

 

3.     Uma canção

P´ra onde é que eu vou?

Não sou cobarde,

não vou deixar a vida p’ra mais tarde.

Ponho-me a andar,

p’ra encontrar vida.

Se não sei onde vou, ando à deriva.