«Trata bem dele!»

Compartilhar o sofrimento torna menor o sofrimento, assim como compartilhar a alegria a torna maior. Cuidar do outro é uma oportunidade de nos humanizarmos, de crescermos, de nos darmos ao outro.

Compartilhar o sofrimento torna menor o sofrimento, assim como compartilhar a alegria a torna maior. Cuidar do outro é uma oportunidade de nos humanizarmos, de crescermos, de nos darmos ao outro.

Ao ler a carta do Papa Francisco para o dia Mundial do Doente, 11 fevereiro 2023, esta fez-me lembrar o quanto o ser humano é frágil e necessita do outro. O quanto fomos cuidados e precisamos de cuidar. Nascemos dependentes dos outros e, em geral, também morremos dependentes. Sem sermos cuidados teríamos morrido à nascença. Por muito tempo fomos dependentes. Chegados à idade adulta declaramos-mos autónomos, autossuficientes e vivemos como se não fossemos morrer, ignorando as leis da natureza, e que a doença faz parte da condição humana. Temos medo do sofrimento físico e emocional e preferimos viver como se não existisse, afastando o que nos possa confrontar com a fragilidade humana.

“Todos somos frágeis e vulneráveis; todos precisamos daquela atenção compassiva que sabe deter-se, aproximar-se, cuidar e levantar” – diz o Papa na sua mensagem. Precisamos de aceitar a nossa interdependência e a nossa necessidade de cuidar e de nos deixarmos efetivamente cuidar.

Muitas vezes quando a adversidade surge gastamos a nossa energia em identificar as causas: “Porque é que a minha mãe morreu de repente?”, “Porque é que a minha prima tem esclerose múltipla?”, “Porque é que eu tenho cancro?” Perguntas que não
têm respostas fáceis. E mesmo que cheguemos a alguma resposta dificilmente aliviará a nossa angústia. Podemos acabar “devorados” pela desesperança, pelo medo ou pela tristeza.

Não podemos escolher sofrer ou não aquela adversidade, mas temos liberdade para podermos escolher que atitude tomar. Portanto, a grande questão diante da adversidade não é porque é que ela ocorreu, mas sim o “para quê” dessa morte, dessa doença…

Não podemos escolher sofrer ou não aquela adversidade, mas temos liberdade para podermos escolher que atitude tomar. Portanto, a grande questão diante da adversidade não é porque é que ela ocorreu, mas sim o “para quê” dessa morte, dessa doença… Em suma, perguntarmo-nos: “O que posso fazer nesta situação?”, ou melhor “O que a vida me pede nestas circunstâncias?”. Encontrar este significado é um processo lento, é como “descobrir a luz na imensa escuridão daquela adversidade”.

“Assim, a condição dos doentes, é um apelo que interrompe a indiferença e abranda o passo de quem avança como se não tivesse irmãs e irmãos., escreve o Papa, “que convida à proximidade com os que sofrem”.

Cuidar do outro é caminhar juntos, “segundo o estilo de Jesus, que é proximidade, compaixão e ternura” escreve o Papa. É assumirmos a fragilidade do outro, é fazermo-nos próximos, é acolher o sofrimento do outro com misericórdia. Compartilhar o sofrimento torna menor o sofrimento, assim como compartilhar a alegria a torna maior. Cuidar do outro é uma oportunidade de nos humanizarmos, de crescermos e de nos darmos ao outro.

«Trata bem dele!» (Lc 10, 35): é a recomendação do samaritano ao estalajadeiro. Mas Jesus repete-a igualmente a cada um de nós na exortação conclusiva: «Vai e faz tu também o mesmo».

Bibliografia:

Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial do Doente, 11 de fevereiro de 2023.
“Galgos ou podengos”, Revista HUMANIZAR, Alejandro Rocamora.
“Mais sentido e menos Orfidal”, Revista HUMANIZAR, Alejandro Rocamora,
Cuidar: Património Moral, Revista HUMANIZAR, José Carlos Bermejo.

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.