“Temos de valorizar a paz”

O sacerdote Jesuíta Andriy Zelinskyy, coordenador dos capelães militares da Igreja Católica Ucraniana, entende que a sua missão é a de ajudar a preservar a humanidade dos soldados.

O sacerdote Jesuíta Andriy Zelinskyy, coordenador dos capelães militares da Igreja Católica Ucraniana, entende que a sua missão é a de ajudar a preservar a humanidade dos soldados.

Nota: Este pequena entrevista foi originalmente publicada a 15 de fevereiro de 2022 (antes do começo da Guerra) pelo Catholic News service da Conferência Episcopal dos Estados Unidos – https://www.catholicnews.com/. A tradução apresentada foi feita com a permissão desse portal.

Para o sacerdote jesuíta Andriy Zelinskyy e para os soldados que ele acompanha na Ucrânia, a ameaça de uma guerra com a Rússia não é uma novidade; “a guerra começou há oito anos”, afirma.

O que é novo, disse ele, é que os Estados Unidos e a União Europeia estão a levar a ameaça a sério.

O P. Zelinskyy é coordenador dos capelães militares da Igreja Católica Ucraniana. Acompanhou a tempo inteiro as tropas na frente na Ucrânia Oriental de 2014 a 2018, antes de assumir o papel de coordenador.

Falando de Kyiv com o Catholic News Service, no dia 14 de fevereiro [antes do início da invasão russa] o P. Zelinskyy considera que enquanto as manchetes globais estão cheias de pavor sobre a mobilização russa de tropas e armamento na fronteira da Ucrânia, a maioria dos ucranianos estão apenas a tratar dos seus assuntos, e isso é ainda mais verdade para as tropas.

“Vejo o meu papel como ajudar a inclinar o céu para os soldados.”

Uma novidade para o jesuíta é que em dezembro, o parlamento ucraniano aprovou uma lei estabelecendo uma estrutura de capelão militar no seio das forças armadas do país. Antes de 2016,  afirma, todos os capelães eram voluntários; durante os últimos seis anos alguns deles foram funcionários civis, mas a partir de julho serão considerados membros das forças armadas.

Zelinskyy fez parte de um grupo de trabalho ecuménico e inter-religioso que pressionou para que a lei fosse aprovada, mas que se confrontava com uma “mentalidade pós-soviética” que via os capelães militares como desnecessários ou como uma violação da separação da igreja e do estado. Agora está envolvido no desenvolvimento de programas de formação para os capelães militares.

“Vejo o meu papel como ajudar a inclinar o céu para os soldados”, diz Zelinskyy

“Devemos ajudá-los a escolher o bem, procurar a verdade, promover a justiça e contemplar a beleza”, continua. “Tudo isto  é essencial para preservar a sua humanidade”. Podemos resolver tantos problemas se conseguirmos preservar a nossa humanidade, especialmente no caos da guerra”.

“Devemos ajudá-los a escolher o bem, procurar a verdade, promover a justiça e contemplar a beleza”.

E enquanto recorda que a sua memória mais viva da frente é de “dezenas de quilómetros de lama”, o jesuíta insiste que a beleza também pode ser encontrada ali.

O P. Zelinskyy recorda a história da mudança  de um posto para outro perto de Donetsk, juntamente  com um oficial, no Outono de 2018. “Mudávamo-nos muito cedo de manhã, porque normalmente não havia combates”. A zona era industrial, cheia de fábricas extintas e abandonadas. Entraram numa que estava cheia de milhares de buracos de balas e mísseis.”

“O sol estava apenas a nascer”, recorda, “era como estar num planetário e ver um céu estrelado”. “Era realmente lindo. Não é preciso inventar, só é preciso ver.”

É claro que preservar a humanidade na guerra também significa sentir dor.

Antes do início da guerra na Ucrânia Oriental, o P. Zelinskyy estava envolvido num programa de capelania que trabalhava com cadetes militares em Lviv, na Ucrânia Ocidental.

Quando a guerra começou, em 2014, aqueles jovens estavam na frente de batalha.

“Era muito difícil ver os amigos morrer”, disse ele. “Não eram apenas dois ou três. Eram muitos.”

“Não há nada pior do que a guerra”, disse ele. “Temos de valorizar a paz porque, se a perdermos, é muito difícil trazê-la de volta”.

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P. Andriy Zelinskyy com com colegas em 2018.

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.