Oração: Aprender a proximidade de Deus

No dia mundial da criança publicamos um texto que pode ajudar pais, avós ou outros adultos na arte de ensinar uma criança a rezar. Pequenas ajudas que podem ser inspiradoras. Um texto escrito por mãe e filho.

No dia mundial da criança publicamos um texto que pode ajudar pais, avós ou outros adultos na arte de ensinar uma criança a rezar. Pequenas ajudas que podem ser inspiradoras. Um texto escrito por mãe e filho.

Um bom improviso dá muito trabalho. Assim o experimentam muitos atores. Há muitas horas de trabalho, muito treino e hábitos adquiridos até que um improviso possa surgir com toda a naturalidade. Quando é que se começa a ensinar uma criança a rezar? Ainda antes de ela nascer, quando a oração se vai tornando um hábito da família, que no momento certo é transmitido com naturalidade à criança.

Acolhida num ambiente sereno e alegre, onde pode ver os pais a rezar e a viver com confiança e alegria, um ambiente onde há espaço para o silêncio, a criança vai pressentido a presença de Deus.

A problemática familiar e profissional nos nossos tempos é um desafio diário que se reflete na dificuldade em encontrar espaços e momentos de oração. Por isso mesmo, é tão importante que ela se vá tornando algo natural, inserido nas práticas do dia a dia.

Tudo pode começar no princípio. Que pais não têm, com o filho recém-nascido nos braços, a primeira atitude de oração ao agradecerem a Deus o filho que acaba de lhes confiar? E porque não segredá-lo como música de embalar? Deus e o amor podem ser, desde o começo, palavras familiares. E esta oração pode ser diária, quando, à noite, forem pôr o bebé a dormir e, diante dele, agradecerem mais um dia de alegria que Deus lhes deu com a oferta da vida dele. A criança vai crescendo e, em breve, começa a interagir com os adultos, a prestar atenção e a perceber o que os pais fazem e dizem. Logo, logo, faz gracinhas, mima canções e começa a fascinar-se com as histórias que os pais lhe contam.

Tudo pode começar no princípio. Que pais não têm, com o filho recém-nascido nos braços, a primeira atitude de oração ao agradecerem a Deus o filho que acaba de lhes confiar? E porque não segredá-lo como música de embalar?

Domingas e José Maria Brito

Em breve, os pais, no momento da oração, poderão pedir à criança que atire um beijinho de boa-noite a Jesus, que gosta muito dela. Mais adiante, a criança já pode ser capaz de cruzar os bracitos no peito e apertá-los com força para dizer a Jesus: «Gosto muito de Ti». Sendo o gesto uma forma de linguagem da criança mais pequena, é bom usá-lo como forma de oração.

Nesta fase, pequenas orações feitas pelos pais podem ser repetidas pela criança e acompanhadas de gestos simples e significativos. A oração também se expressa pelo corpo.

Exemplos de propostas gestuais para a criança ir aprendendo a rezar:

– Mãos juntas (significam: súplica, pedido).

– Mãos estendidas para os lados, para a frente e para cima.

– Mãos dadas aos outros e colocar os braços nos seus ombros (gestos de ajuda, apoio, fraternidade e união).

– Dobrar os joelhos, inclinar o corpo, baixar a cabeça (gestos de adoração, humildade, respeito e veneração).

– Fazer orações dando-se as mãos e andando em círculos (gesto de alegria, união e comunidade).

– Sugerir à criança que encontre o gesto que melhor expresse a Deus o que sente.

Por volta dos três anos, a criança gosta de rezar com a família e em grupos maiores. Esse é um ótimo desejo que deve ser acalentado. No entanto, ajuda muito que os pais recorram a algumas estratégias para que a criança seja capaz de se integrar num ambiente de silêncio, tão difícil nesta idade. Há exercícios de domínio corporal que se podem fazer com o objetivo de educar para o silêncio. No silêncio, a criança pode descobrir o seu mundo interior, o lugar onde, mais cedo ou mais tarde, poderá encontrar Deus.

Para que a criança possa ir compreendendo que pode encontrar Deus em todas as ocasiões, em cada festa ou encontro é muito importante que a oração esteja ligada ao ritmo diário e aos acontecimentos do dia a dia, dos mais banais e rotineiros aos mais significativos e inesperados.

Para que a criança possa ir compreendendo que pode encontrar Deus em todas as ocasiões, em cada festa ou encontro é muito importante que a oração esteja ligada ao ritmo diário e aos acontecimentos do dia a dia, dos mais banais e rotineiros aos mais significativos e inesperados.

Domingas e José Maria Brito

Que momentos são bons para rezar e como rezar?

Ao acordar: a mãe ou o pai, depois de dar um beijinho de bons dias fará, com a criança, uma pequena oração de agradecimento: pela boa noite, pela cama quentinha; podem também pedir pelos que não têm um quarto e uma cama e para que todos saibamos partilhar com os que precisam. Pode rezar-se por um amigo que faz anos ou por um tio que vai fazer uma viagem. Uma oração semelhante pode ser feita no carro, ao ir para a escola…

Antes de uma refeição em família: dizer obrigado a Deus pelos alimentos e por quem os preparou para nós. Pedir que saibamos estar atentos aos que têm fome e para que não nos esqueçamos de os ajudar.

Em viagem: pedir pelos que estão na estrada, para que a viagem seja segura, e agradecer o passeio, tempo de férias, visita que vamos ter ou fazer.

Ao deitar, de preferência, com a mãe e o pai (e irmãos, se os houver) a oração deve demorar mais um bocadinho, procurando que o ambiente seja sereno e silencioso. Agradecer o dia e tudo o que viveram de bom; pedir desculpa pelas asneiras que possam ter feito; pedir pelo amigo com quem se zangou ou com quem brincou, pela família, doentes. Pedir a ajuda de Jesus para ser melhor no dia seguinte. Se a criança já for capaz, pode conversar um bocadinho, sozinha, com Jesus sobre alguma coisa que a preocupa ou sobre alguma coisa de que queira falar.

Antes ou depois de um momento importante: pedir ou agradecer a festa ou aniversário importante, a prova de desporto de um irmão mais velho…

Tempos litúrgicos especiais (Advento, Quaresma, Natal, Páscoa): muitas vezes, nestas ocasiões as paróquias ou escolas fazem propostas especiais de oração para a família. É muito bom que a família possa seguir estas propostas ou encontrar uma forma especial de assinalar estes tempos.

 

Para além de tudo isto, é muito importante que se vá criando um ambiente de confiança na família. Bastam palavras simples como: «Obrigado»; «Boa, muito bem! Parabéns!»; «Amanhã fazes melhor»; «Estás desculpado». Experimentando-se acolhida pelos pais, sabendo que pode confiar neles, a criança aprende a apoiar-se em Deus, aprende a Fé que vai expressando através de uma oração simples e próxima.

 

Artigo originalmente publicado em março de 2017 na Revista Mensageiro.
O Ponto SJ agradece a possibilidade de republicar este texto.

 

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.