Porque é que corro a abrigar-me no smartphone mal fico desocupado? Porque é que dedico tanto tempo a bagatelas? Porque é que, ao pensar no dia que acaba, tenho a impressão de que o tempo me escapou, de que fui um fantasma entre as solicitações do presente? Porque é que é difícil enfrentar com inteireza cada desafio que a vida impõe? Embora a máxima “Conhece-te a ti mesmo” seja profusamente citada, a existência parece muitas vezes comandada pelo apelo contrário: “Desconhece-te a ti mesmo”. O objetivo deste curso — com a ajuda de textos como o Livro da Sabedoria, os Pensamentos de Pascal e o Spleen de Paris de Baudelaire — é perceber o que está na base da tendência para vivermos em fuga de nós mesmos.
Programa do curso
Ter 5 jul
A vida feliz
É um lugar-comum dizer que todos queremos ser felizes. Mas o que significa isso? Nesta sessão mostra-se quão peculiar e desconcertante é esse dado básico da nossa existência. Dois aspectos serão focados: o extraordinário ponto de referência da vontade humana e o facto de não nos podermos escusar a um diagnóstico da situação em que nos encontramos.
Qua 6 jul
O assalto do amor-próprio
Não aterramos na vida de mão no queixo, a ponderar a partir do zero qual será o caminho para a felicidade. Há paixões que nos puxam. Segundo a tradição agostiniana, a mais universal e relevante chama-se amor-próprio. A partir das Máximas de La Rochefoucauld, tentaremos descrever alguns aspetos e algumas consequências deste apego a uma imagem lisonjeadora de si.
Ter 12 jul
O poder limitado
“Sou quem falhei ser”, escreve Álvaro de Campos. Empurrados para a frente pela vontade de alguma coisa grande, damos por nós constantemente rechaçados pela frustração de isto não ser como gostaríamos. Nesta sessão procura-se pôr em evidência que a culpa não é do patrão chato, nem da ruga precoce, mas de uma limitação de poder mais profunda.
Qua 13 jul
A distracção como modo-de-vida
Depois de terem sido apresentados os termos do problema, explora-se a teoria do divertissement desenvolvida por Pascal. Trata-se de chamar a atenção para a possibilidade de a existência humana, marcada pelo conflito entre querer e poder, encontrar na distração — sob formas mais ou menos refinadas — uma maneira de proteger o interesse do amor-próprio, não se confrontando com a sua própria miséria.
Simão Lucas Pires
Simão Lucas Pires escreve sobre livros no jornal Observador. Trabalha no Colégio de São Tomás. Foi bolseiro da Fundação para a Ciência e Tecnologia e é doutorando em Filosofia, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, com uma tese a partir dos Pensamentos de Blaise Pascal. Venceu o Prémio Ensaio Filosófico Manuel Barbosa da Costa Freitas em 2019, é investigador do Instituto de Estudos Filosóficos da Universidade de Coimbra e faz parte da equipa de A Gazeta. Tem artigos publicados sobre aspetos do pensamento de Leibniz e Pascal; deu conferências sobre Epicteto, Gógol e Machado de Assis, entre outros.
Local: Brotéria – R. São Pedro de Alcântara 3 e online.
Duração: 1h30
Preço: 15€
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.
Sugestão Cultural Brotéria
Esta secção é da responsabilidade da revista Brotéria – Cristianismo e Cultura, publicada pelos jesuítas portugueses desde 1902.
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