O que é a Eucaristia?
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A Eucaristia é «fonte e cume de toda a vida cristã» [Lumen Gentium 1], o sacramento que completa a nossa iniciação na fé [CIC 1322], e é nela que a Igreja verdadeiramente se constitui.
O mistério da salvação por inteiro concentra-se na Eucaristia, pois esta é:
- memorial atualizante da Páscoa de Cristo (que aconteceu uma só vez para sempre na história, mas que a transcende);
- é presença de Cristo (na comunidade reunida, na Palavra, na pessoa do ministro, mas de forma particular no pão e no vinho consagrados – Sacrosanctum Concilium 7);
- e é mesa da comunhão, antecipação do futuro, seja o futuro próximo (dimensão ética), seja o mais longínquo (dimensão escatológica).
O que significa "Eucaristia"?
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A origem da palavra é grega e significa “ação de graças”. Desde a primeira comunidade que o termo está ligado à celebração dominical, e o facto de que se centre numa refeição tem uma força antropológica particular: é um proto-símbolo do comer, em que partilhar mesa com outros se torna um banquete sagrado. Graças à sua riqueza teológica, a Eucaristia recebeu ao longo do tempo diversos nomes: Fração do Pão, Ceia do Senhor, Memorial, Santo Sacrifício.
A sua divisão em duas partes – Liturgia da Palavra e Liturgia Eucarística – abre pistas para a nossa própria vida como cristãos: precedência da escuta da voz de Deus, que nos chama à mesa, seguida do reconhecimento de tudo como dom de Deus para todos e sua consagração.
Qual a sua origem?
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O testemunho constante da Escritura, da Tradição e do Magistério é a de que a vida, a Última Ceia e a Páscoa de Jesus estão indissoluvelmente unidas. Durante muito tempo, a nossa atenção esteve centrada na Última Ceia, o que é um empobrecimento exegético e teológico.
É mais fiel falar de uma tríplice origem bíblica: as refeições do Jesus histórico com os pecadores, que são signo e antecipação do banquete do Reino; a Última Ceia, momento antes da sua entrega, onde se recolhem as palavras e gestos de consagração; as refeições do Ressuscitado com os discípulos, em que os dispersos e confusos se reúnem em comunidade (experiência convivial e eucarística), em que reconhecem Cristo após um gesto ou uma palavra, e em que recebem a sua paz.
Quando se celebrou a primeira Eucaristia?
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A Eucaristia é explicitamente instituída por Cristo na Última Ceia (Lc 22,19; 1Cor 11,26), pelo que é esta a primeira. A Última Ceia é síntese e cume da vida de Jesus, sendo celebrada na véspera da sua morte e marcada pelo apelo a o fazerem “em memória de Mim”; é o culminar das refeições de Jesus com os pecadores ao longo da sua vida, um gesto altamente disruptivo, uma forma concreta de indicar o acolhimento gratuito e generoso de Deus.
Qual o sentido da Última Ceia?
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É através de quatro simples palavras e gestos que encontramos o sentido da Última Ceia: tomou, partiu, deu graças e deu aos seus discípulos. É assim que Jesus dá sinal de que é consciente da sua morte iminente, e é assim que atribui um duplo significado a este momento: um significado salvífico, em que o pão, que é o seu corpo, é partido e entregado em favor dos outros; um significado expiatório, em que o vinho derramado que é o seu sangue expia os nossos pecados e restaura a comunhão com Deus.
Através das suas palavras e gestos, podemos dizer que o corpo é entregue para nossa salvação, e que ao beber do cálice – em consonância com a mentalidade judia – assumimos o mesmo destino e vida de Jesus.
É a Eucaristia um mero símbolo ou recordação?
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A Eucaristia não é uma recordação subjetiva. Quando celebramos, o tempo cronológico e o tempo da salvação fundem-se no momento que transcende toda a história: a Ressurreição, dando-se uma atualização salvífica do mistério pascal. Por isso podemos afirmar a presença real de Cristo no pão e no vinho após a consagração, apodada “real” porque esta presença permanece uma vez finda a celebração.
Esta verdade de fé é incrivelmente difícil de conceptualizar, e é por isso fundamental distinguir entre a presença real – em que cremos – e a sua formulação teológica – que pode mudar. No sec. XX avançaram-se alternativas (como transsocialização ou escatologização dos dons), mas é o termo clássico transubstanciação que se tem revelado o mais adequado.
O que é a transubstanciação?
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S. Tomás é quem melhor “traduz” este mistério: a transubstanciação não é aniquilação, degeneração, nem criação de uma realidade nova, mas uma “mudança para melhor”. Isto é, o pão e vinho mantêm a aparência, mas em substância são corpo e sangue de Cristo. A realidade muda em profundidade, mas a presença do corpo e sangue de Cristo só é apreensível por nós através da fé, numa ação divina que a razão humana não pode inteiramente explicar.
A Igreja sempre defendeu a presença real, mas transfiguração é um termo medieval, que é adotado como forma de evitar extremos realistas e simbolistas, ou seja, defender a diferença entre o corpo do Jesus histórico e o Cristo sacramental, enquanto se postula uma efetiva mudança na substância da matéria.
Que diferença faz nas nossas vidas?
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A nossa vida cristã não é adequadamente representada num gráfico, cheio de altos e baixos e planaltos; a vida espiritual é uma espiral em torno de Deus, em que nos vamos movendo em profundidade e em amplitude, em proximidade e afastamento.
A Eucaristia é uma força transformadora, onde o crente que, não somente “vai”, mas que verdadeiramente celebra, se incorpora cada vez mais no Corpo de Cristo que é a Igreja, se identifica cada vez mais com a vida de Jesus, com o seu estilo de estar com os outros, e cresce, cada vez mais, em audácia e vontade de se entregar pelo Reino. E a Eucaristia não só nos cristifica, como cristifica o mundo, pois nela nos juntamos aos Santos e aos Anjos na sua intercessão pela Criação.