Redes sociais: “O fruto proibido, é (…)”

Se estão constantemente preocupados em “fazer conteúdo” para os seus seguidores — sejam dez, sejam 100 mil —, quando têm tempo para olhar com olhos de ver? Quando têm tempo para contemplar?

“(…) o mais apetecido”, já diz o ditado e serve que nem uma luva à questão da proibição das redes sociais, que a Austrália aprovou recentemente, para os menores de 16 anos. De que serve proibir?

Uma conhecida contava-me que a filha, no último fim-de-semana, passara 12 horas no TikTok, por isso, decidiu mudar-lhe as funcionalidades, de maneira a que a pré-adolescente não conseguisse entrar naquela rede social. Pouco depois, recebeu uma notificação no seu telefone que mostrava que a miúda lá estava. “Mas precisa da minha autorização…”, balbuciava, incrédula.

Eles são mais espertos do que nós, pelo menos nisto das novas tecnologias. Graças a nós, eles podem nascer com o telefone praticamente acoplado ao braço. Por isso, não é com proibições que lá vamos mas com… educação. Muita educação, muito acompanhamento, muitas conversas, muita presença.

Os ecrãs são um óptimo meio de os manter ocupados, mas são também um óptimo meio de os levar à depressão e ao suicídio, basta ler Jonathan Haidt e o seu livro A Geração Ansiosa. Neste, o autor junta dezenas de estudos que comprovam uma série de medos que temos e que se estão a concretizar na vida dos mais novos. Os miúdos têm baixa auto-estima ao estarem a ser constantemente bombardeados com imagens de belezas perfeitas; mimetizam os seus ídolos, aderem a jogos perigosos e começam a ter ideias politicamente perigosas.

Estamos felizes, editoras e livreiros incluídos, porque os adolescentes e jovens lêem mais, graças à rede social TikTok. As influencers de lifestyle (duas palavras em inglês seguidas, desculpem) não foram substituídas pelos influenciadores que mostram a quantidade de livros que dizem ler por mês, mas estes ganharam o seu espaço.

Mas já os espreitaram? Já viram o que lêem ou já ouviram como falam? Porque eu já espreitei e há gente que dá vergonhosos pontapés na gramática. Uma das razões serão precisamente as suas leituras, livros levezinhos, com histórias de enredos simples — when boy meets girl (desculpe o inglês) — , com personagens sem profundidade. Por isso, o vocabulário que utilizam anda pelo “pessoal, maltinha, adorei, vocês vão amar”.

“Bom, mas pelo menos estão a ler e, quem sabe, daqui passam para O Crime e Castigo”, dir-me-ão desse lado. Concordo, estão a ler, mas estão a fazê-lo porque é uma moda, como é viajar, tirar fotografias e fazer vídeos para pôr nas redes sociais, sem entrar num monumento, numa igreja, num museu. Já passaram a Europa (e Nova Iorque e Miami, não esquecer) a pente fino, mas não fazem ideia da história dos povos e dos lugares, do que pensam, com o que sonham.

Se estão constantemente preocupados em “fazer conteúdo” para os seus seguidores — sejam dez, sejam 100 mil —, quando têm tempo para olhar com olhos de ver? Quando têm tempo para contemplar? É a mesma superficialidade com que passam os dedos com rapidez pelo ecrã, e tudo o que exija atenção, eles mostram desinteresse. E, por isso, a sensação de vazio, a falta de empatia pelo outro. E, por isso, a necessidade das sensações fortes que podem reflectir-se no ódio que sentem pelo que é diferente.

Nestas férias, altura em que haverá maior disponibilidade para estarmos em família, altura em que aproveitamos para sair, seja para a aldeia dos avós (ainda há aldeias com avós), seja para visitar uma capital que esteja na moda, o desafio é: menos tempo de ecrã e mais conversas, mais atenção à música que ouvem, aos influencers que seguem, às leituras que fazem, porque tudo isso os está a formar e a cimentar os homens e mulheres que serão amanhã. E nós só queremos que eles sejam os melhores do mundo, os mais humanos! Boas festas.

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.