O GRAPA dos colégios jesuítas: um genuíno caminho de santidade

No GRAPA estes alunos cresceram por dentro e por fora. Tudo de maneira orgânica, sem grandes quês nem porquês. E assim deve ser a ação pastoral: mais do que planos, criar relação e comunhão. Mais do que ideias, atenção à realidade.

Nos dois anos que passei no Colégio das Caldinhas, tive a oportunidade de conhecer alguns dos antigos alunos que fizeram parte do primeiro GRAPA (Grupo de Apoio à Pastoral). E, a tempo e a destempo, ia-lhes perguntando pelos inícios desta discreta pérola da pastoral dos colégios jesuítas.

Ainda que as memórias divirjam nos pormenores, a história é simples: tudo começa com um grupo de alunos que ficaram amigos do (António) Valério, o jesuíta “a caminho de padre” que então andava pelos corredores do colégio. Esta “malta” aparecia na sala da pastoral para dar duas de treta, para picar alguma coisa – às vezes até se assava um chouriço –, para passar o tempo. Entre guitarras e anedotas, lá surgia uma ou outra conversa mais séria.

Uma manhã, todos receberam um papel do Valério em que se lia: ‘10:07 lata de Coca-cola, Pátio de Nossa Senhora’. Ninguém percebeu o que era nem para que seria, mas foram todos. Chegaram aos poucos e foram formando uma roda à volta da lata. Cantou-se uma música… e o GRAPA nasceu.

A identidade original do GRAPA era clara, apesar de não estar formalmente estabelecida: servir o Colégio e fortalecer laços.

Mas será que nasceu naquele momento? Eu creio que o GRAPA, tal como a pescada, «antes de ser, já o era». A identidade original do GRAPA era clara, apesar de não estar formalmente estabelecida: servir o Colégio e fortalecer laços. Não foi uma ‘equipa’ de escolhidos formada para responder a uma necessidade. A amizade, de maneira natural e cheia de graça, deu resposta a várias necessidades, algumas mais do interesse dos seus membros, outras de toda a comunidade do Colégio.

No GRAPA estes alunos cresceram por dentro e por fora. Ganharam consciência de si mesmos e do que estavam a viver, bem como do outro que estava a seu lado e de Deus. E isto deu-se através do que iam falando, de como falavam, do que iam rezando, do que iam cantando. Tudo de maneira orgânica, sem grandes quês nem porquês. E assim deve ser a ação pastoral: mais do que planos, criar relação e comunhão. Mais do que ideias, atenção à realidade.

Falar, servir, seguir. Com maior ou menor consciência, os membros do GRAPA davam os primeiros passos no caminho da santidade. Não pelas coisas que faziam acontecer, mas pela forma como viviam o que acontecia. Não graças aos grandes planos, fantásticas atividades e aos sonantes desideratos plasmados numa folha de missão, mas pela disponibilidade para escutar Deus, em si e nos outros.

Quase sempre tentamos trilhar – ou impingir a outros – um caminho de santidade que não vai além do fazer: há que fazer coisas boas, como voluntariado; há que fazer retiros; há que fazer festas; há que fazer partilhas em grupo; há que participar em tudo. E isto é um equívoco! A santidade não pertence ao domínio do fazer, pertence ao domínio do ser.

Há que servir, sim, mas como resposta a um amor maior, não a partir da autossuficiência. Há que seguir, sim, mas não colocando a confiança num conjunto de regras na pedra, mas numa pessoa, Jesus. Há que conversar, sim, mas não ‘sobre’ coisas profundas, mas de maneira profunda.

A santidade não pertence ao domínio do fazer, pertence ao domínio do ser.

Para entrar na aventura que é o caminho da santidade, há três atitudes-base a exercitar: agradecer, pedir perdão, assumir. De que forma? Agradecer a graça que Deus nos oferece em todas as situações; pedir perdão pelas cegueiras e coxeios próprios; assumir que não somos o centro da história, mas sim Jesus e a sua presença santificante, o Espírito.

Agradecer. Pedir perdão. Assumir. Três atitudes a exercitar todos os dias para santificar e viver a graça. Como se fossemos uma árvore no jardim original, devemos lançar raízes através do agradecimento, fertilizá-las com a nossa miséria-feita-nova-vida na misericórdia de Deus, e esticar os nossos ramos para os céus, não por nós, mas para que os fatigados possam descansar à sua sombra, os famintos alimentar-se dos seus frutos, e para que os demais se deixem guiar pela direção que os nossos ramos apontam ao buscar o alto: o caminho para o Céu.

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.