A primeira vez que vi um batalhão da PSP passar – numa fila, aos pares, todos pela avenida abaixo, a passo certo –, e os grupos de jovens – com as suas t-shirts coloridas, bonés, chapéus ou lenços nas cabeças, de bandeiras às costas ou seguras ao alto – começarem a bater palmas, confesso que estranhei: “por que razão estão a bater-lhes palmas?”, depois emocionei-me e vieram-me as lágrimas aos olhos.
Aliás, durante toda a semana da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), volta e meia as lágrimas lá apareciam, teimosas, quando eu precisava de estar concentrada a trabalhar. Foram sempre de alegria e comoção, como a de ver os agentes da PSP a serem saudados com palmas e “vivas”. Eles que também ficaram comovidos, conforme vi nos seus sorrisos (assisti várias vezes a este gesto da parte dos jovens), e conforme confirmou o seu director nacional, Magina da Silva, na última conferência de imprensa, a de balanço da JMJ, já na segunda-feira, dia 7 de Agosto.
Aliás, durante toda a semana da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), volta e meia as lágrimas lá apareciam, teimosas, quando eu precisava de estar concentrada a trabalhar.
Magina da Silva elogiou o civismo dos milhões de jovens que passaram por Lisboa e sugeriu aos adeptos desportivos que sigam o seu exemplo. Ouvia-o e não deixava de pensar na velha frase “comportamento gera comportamento”. Invariavelmente, nos grandes eventos desportivos vemos adeptos agressivos e agentes em estado de alerta e defensivos. E se todos sorrissem e batessem palmas?
Durante uma semana, partilhei a carruagem do metro com, nos primeiros dias, dezenas de peregrinos, nos últimos, com centenas, sempre alegres e esfuziantes. Riam, cantavam, faziam piadas, como o miúdo irlandês que, à entrada da carruagem, dava passagem aos companheiros e fazia-os rir: “Welcome to Ryanair, thank you for flying with us.” Na segunda-feira após o regresso do Papa a Roma, ao fazer o mesmo percurso, os sorrisos e a galhofa foram substituídos por rostos soturnos, no caminho para o trabalho, presos em silêncio aos seus telemóveis.
Na minha cabeça continuavam a bailar as palavras de Francisco, ditas durante toda a semana. Palavras que li e sublinhei para partilhar com os leitores do PÚBLICO. Palavras de motivação, de incentivo para que vivamos vidas diferentes, mais intensas, mais felizes, menos egoístas, mais plenas de amor ao outro. Palavras que plasmaram o que vi os jovens (e também os adultos) viver naqueles dias. Palavras transformadoras.
Palavras de motivação, de incentivo para que vivamos vidas diferentes, mais intensas, mais felizes, menos egoístas, mais plenas de amor ao outro. Palavras que plasmaram o que vi os jovens (e também os adultos) viver naqueles dias. Palavras transformadoras.
Presos em filas onde se dava um passo de cada vez e ninguém se empurrava ou se queixava, à torreira do sol, até conseguir entrar no recinto. Pacientes, à espera da sua vez para receberem o kit com a alimentação para aqueles dias. Solidários com os amigos que ficavam para trás, que não tinham água, que desfaleciam e precisavam de espaço para respirar. Prestáveis com os que não conheciam a língua e precisavam de uma indicação. Foram todos exemplares? Não sei, aqueles com que me cruzei sim e fizeram-me pensar: “A paz é possível. Por que não pode ser sempre assim?”
Anseio por que estes jovens (e adultos também) não deixem que as palavras do Papa caiam no vazio das nossas rotinas, que mantenham o coração cheio, não de boas intenções, mas de boas práticas, sempre, porque precisamos urgentemente de paz. Paz nas nossas vidas e, por consequência, paz no mundo.
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.