Aprender a ler continua a ser o aquele momento de magia em que todos os signos passam a fazer sentido. E, a partir dali nada nos pode parar. Podemos juntar as letras que vemos por cima das montras, as que o professor nos põe à frente, as que os pais nos mostram antes de dormir. Letras e mais letras que ganham significado.
Não é fácil aprender a ler e nem todos o fazemos num ápice. O trabalho começa em casa, desde o primeiro dia — não será exagerado dizer, desde o dia em que nascemos — com os livros de pano, sem uma única palavra escrita, mas cujas figuras nos permitem criar histórias, fazer perguntas, folhear de forma correcta e ir familiarizando o bebé com aquele objecto que o irá acompanhar pela vida fora.
Continua com as histórias para adormecer, um momento de intimidade e de relação entre pais e filhos, quando eles nos pedem para repetir, repetir, repetir, até saberem de cor e, com os seus dedinhos rechonchudos, apontarem para as palavras, “lendo-as” com todo o afinco.
E as sementes estão lançadas para que aprendam efectivamente a ler porque o prazer, à partida, já lá está, é só não estragarmos com a introdução demasiado precoce dos ecrãs nas suas vidas. Agora, cabe à escola fazer o resto, primeiro com um pré-escolar criativo, depois com um 1.º ciclo formativo. E, por aí fora!
E as sementes estão lançadas para que aprendam efectivamente a ler porque o prazer, à partida, já lá está, é só não estragarmos com a introdução demasiado precoce dos ecrãs nas suas vidas.
É preciso estarmos atentos e acompanharmos a evolução dos nossos filhos, sem demasiada ansiedade, com calma, mas atentos não porque estamos focados no sucesso, mas porque queremos que a escola seja uma boa experiência — afinal as próximas duas décadas serão passadas nessa instituição…
Sabemos — porque nos diz a investigação — que os estudantes com os melhores desempenhos são os que têm mais confiança nas suas capacidades, nomeadamente na leitura. Muitas vezes, são miúdos oriundos de famílias com mais recursos educativos — e estes não têm de ser a última versão do iPad, iMac ou outro iQualquer coisa, mas podem e devem ser livros, claro, mas também cadernos, lápis, guaches, jogos de construção, etc., e tempo. Tempo para estarmos com eles, para brincarmos, para criarmos juntos. Disponibilidade.
As competências de leitura são essenciais para o sucesso escolar. Mas é preciso ir mais longe. Nos dias de hoje, o maior desafio da escola — para lá de manter as portas abertas, sem greves de professores e funcionários, que impactam com maior gravidade os mais pobres — é oferecer mais do que o debitar da matéria.
Nos dias de hoje, o maior desafio da escola — para lá de manter as portas abertas, sem greves de professores e funcionários, que impactam com maior gravidade os mais pobres — é oferecer mais do que o debitar da matéria.
Com a Internet e os seus motores de busca é fácil para os alunos saberem em que ano foi fundado o reino de Portugal ou o que é o bosão de Higgs — eles sabem ler! Mas, difícil é saberem se o que lêem está correcto. Difícil é interpretarem o que lêem.
E, por isso, é engraçado ver a profissão de professor entre as que estão em risco de extinção por causa da inteligência artificial, nomeadamente do famoso ChatGPT. Quem faz estas listas nada percebe sobre a importância não só da aprendizagem da leitura, mas da compreensão daquilo que se lê.
Quem faz estas listas pouco percebe sobre a importância do espírito crítico, algo que se obtém através do diálogo, do questionamento, da insistência, da tentativa e erro; e que se faz, de preferência, com outras pessoas, com adultos preparados para tal.
As escolas podem apetrechar-se de computadores de última geração, de quadros interactivos, de sala de aulas do futuro, com cadeiras com rodinhas e ecrãs incorporados, mas se não tiverem professores, bons professores, que mais do que debitar matéria, ensinam a pensar, a ter espírito crítico, a ter autonomia, então, esses estabelecimentos de ensino serão espaços vazios, sem futuro.
As escolas podem apetrechar-se de computadores de última geração, de quadros interactivos, de sala de aulas do futuro, com cadeiras com rodinhas e ecrãs incorporados, mas se não tiverem professores, bons professores, que mais do que debitar matéria, ensinam a pensar, a ter espírito crítico, a ter autonomia, então, esses estabelecimentos de ensino serão espaços vazios, sem futuro.
Os professores que questionam, que fazem perguntas incómodas, que tiram os alunos do conforto e os confrontam são os que fazem a diferença, são os que ajudarão os nossos filhos a manter a humanidade. Não precisamos de autómatos que debitam fórmulas de sucesso, mas de seres pensantes e empáticos.
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.