Crescemos a ouvir que educar um filho não é tarefa fácil. É um caminho repleto de decisões que carregam um peso imenso: a responsabilidade de moldar um ser humano. Hoje, mais do que nunca, os pais enfrentam um desafio adicional – um coro de vozes externas que opinam sobre cada escolha, cada método, cada valor transmitido. Entre tendências modernas, teorias da educação e movimentos sociais, surge uma pergunta essencial: como educar da maneira que acreditamos ser a melhor?
Educar é um ato profundamente pessoal e, ao mesmo tempo, universal. Cada pai e mãe carrega as suas vivências, os valores com que foram criados e as suas convicções. Isso molda a forma como escolhemos orientar os nossos filhos. Mas vivemos tempos em que essas escolhas parecem estar constantemente sob escrutínio. Ser mais tradicional é visto por alguns como rigidez ou falta de atualização; ser mais permissivo pode ser entendido como ausência de limites. E assim, muitos pais sentem-se pressionados a seguir modas ou a adotar práticas que não refletem o que realmente acreditam.
O problema é que educar não pode ser um ato de imitação. Não há fórmulas mágicas, nem soluções universais. O que há, ou deveria haver, é autenticidade. Se acreditamos que ensinar a importância do respeito, da responsabilidade e do esforço exige, por vezes, firmeza, não há vergonha nisso. Se entendemos que dizer “não” é tão essencial quanto incentivar a liberdade, estamos a ser fiéis ao que julgamos ser o melhor para os nossos filhos.
Se acreditamos que ensinar a importância do respeito, da responsabilidade e do esforço exige, por vezes, firmeza, não há vergonha nisso. Se entendemos que dizer “não” é tão essencial quanto incentivar a liberdade, estamos a ser fiéis ao que julgamos ser o melhor para os nossos filhos.
Educar é uma construção, pedra sobre pedra. Ensinar-lhes valores como empatia, integridade e resiliência não é algo que se possa terceirizar para a sociedade ou para modismos. É um trabalho que requer consistência, paciência e a coragem de tomar decisões que, muitas vezes, não serão populares.
No entanto, educar não é apenas formar, é também preparar para o momento de deixar partir. Não educamos para o nosso conforto, mas para que os nossos filhos possam caminhar sozinhos. Isso significa que, quando os deixamos ir, estamos a confiar não só neles, mas também no trabalho que fizemos. E se esse gesto já é, por si só, exigente, torna-se ainda mais corajoso num mundo que se mostra cada vez mais duro, competitivo e complexo. Um mundo onde crescer pode ser um processo inquietante, como tão bem nos recorda a série Adolescência, lançada este ano na Netflix — um retrato cru e realista dos desafios que os jovens enfrentam hoje, desde as pressões sociais às angústias silenciosas. É por isso que acredito ser necessário educar com exigência e proximidade.
Há quem veja contradição em educar com rigor para depois soltar. Eu vejo complementaridade. Porque educar com propósito é dar aos nossos filhos o que eles precisam, não o que desejam, para que possam enfrentar o mundo com coragem e consciência. E soltar não é abdicar, é o reconhecimento de que criámos alguém capaz de seguir o seu próprio caminho.
Não precisamos de nos sentir culpados por educarmos com base nas nossas convicções. A nossa tarefa é prepará-los para a vida, da forma que acreditamos ser a melhor.
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.