O Dia Internacional dos Museus é celebrado anualmente a 18 de maio. É um dia de festa para os museus, suas comunidades e patrimónios culturais. Crianças, famílias e adultos participam em atividades organizadas pelos serviços educativos e orientados por técnicos especializados do museu. Durante os 10 anos (de 2005 a 2015) que fiz parte do serviço educativo do Museu Nacional de Etnologia, lembro-me desses dias de festa e dos efeitos de luz e sombra dos objetos das colecções, a emoção das visitas guiadas às Reservas Internacionais e o afeto e entusiasmo à volta dos ateliers…
Os museus são um espaço ativo de intercâmbio cultural, desenvolvimento e cooperação, mas, nem sempre foi assim.
Falar de museus é, de uma forma geral, falar de instituições onde são apresentadas aos visitantes, coleções de objetos. Como sabemos, as coleções dos museus, são a sua essência. E nesse sentido, até há bem pouco tempo, os museus centravam as suas preocupações na recolha e na preservação do seu espólio. A sua história recente tem sido marcada por novos conceitos de público e inevitavelmente a consciência de que os museus podem e devem participar no processo de educação e formação dos cidadãos. Embora as coleções continuem a ser a sua essência, importa pensar como mostrá-las de forma mais estimulante, capaz de fomentar práticas, ideias e sensibilidades.
A complexidade do mundo atual mais globalizado e por sua vez os fluxos migratórios transformaram as cidades, obrigando estas instituições a repensar estratégias e práticas para a captação de públicos. Neste contexto, o multiculturalismo ofereceu renovados desafios aos museus, sobretudo os etnográficos com colecções multiculturais. Estes puderam e podem fazer a diferença sobretudo a partir de práticas que vão para lá do seu modelo e funções tradicionais, arriscando novos desafios.
O Museu não pode modificar a sociedade, mas pode modificar-se a si próprio. Contribuirá, assim, para a consciencialização e modificação da sociedade como um todo,
A coabitação nas escolas de jovens de diferentes culturas e identidades provenientes do tecido social existente fez repensar os serviços educativos dos museus, o que significou questionar ”como estruturar serviços e práticas pedagógicas que favoreçam processos de aprendizagem num contexto de diversidade cultural”?
Assim, os serviços educativos são estimulados a participar em metodologias de ensino diversificado, através da criação de práticas de experimentação artística (os ateliers), que se revelam como um método de sucesso, sobretudo entre aqueles que não se identificam com o ensino tradicional.
Um museu do século XXI é porventura aquele que celebra a diversidade e a identidade cultural. O seu compromisso revela-se fundamentalmente nas estratégias de uma programação museológica, que as reflita e represente com visibilidade, nos novos campos de representação das exposições. E teremos assim, o museu como “espaço contacto”, onde pessoas, geográfica e ideologicamente separadas, se encontram, comunicam e participam.
Todos os anos a ICOM (Conselho Internacional dos Museus), lança um tema orientador para as comemorações do 18 de maio e 2020 tem como tema: Museus para a Igualdade, diversidade e inclusão.
No âmbito da dimensão social do museu, recordo o 18 de maio de 2005 e o de 2011. Ambos relacionados com o programa de inclusão e cidadania: o primeiro, tem como fio condutor o projeto da exposição Através dos Panos e a integração da comunidade Africana; o segundo tem como objetivo combater o absentismo escolar, através da reinserção de jovens da comunidade cigana do Bairro do Casalinho da Ajuda. Através do serviço educativo, foi possível elaborar um programa de formação em contexto museológico, no sentido de contribuir para uma aprendizagem não formal, mas inclusiva. A utilização dos ateliers artísticos como método de organização permitiu o diálogo, a familiarização com o museu, a exploração e recriação de temáticas presentes nas exposições e a participação nas actividades do 18 de maio.
O meu último 18 de maio no serviço educativo do MNE foi em 2015 e lembro-me do tema, Museus e sustentabilidade.
A exposição permanente O Museu, muitas coisas, já tinha sido inaugurada. É uma exposição que reflete as coleções do museu. A estética e a qualidade dos objetos é valorizada e a diversidade dos povos e culturas, está presente.
Propus-me construir um tipi (tenda cónica emblemática dos povos das primeiras nações, outrora chamados de índios) a que chamámos Casa das Nações, lugar de encontro. A estrutura foi construída em canas de bambu e foi instalado no jardim interior do museu. Para a sua cobertura foi desenhado um pano em algodão, que serviu de suporte ao atelier com famílias. Na sequência da programação das atividades do 18 de maio, o atelier aconteceu após a visita guiada à exposição O Museu, muitas coisas. Materiais e técnicas de artes plásticas foram utilizados na decoração do pano, tendo como motivação a exposição.
A indagação que permanece após “dez anos de museu” é saber se os museus de uma forma geral estão prontos a permitir mudanças reais para se tornarem acessíveis. E será que conseguem sair das suas posturas muitas vezes elitistas, frias e distantes?
O Museu não pode modificar a sociedade, mas pode modificar-se a si próprio. Contribuirá, assim, para a consciencialização e modificação da sociedade como um todo, fornecendo os instrumentos necessários para o exercício de uma cidadania responsável. Atuando através de uma crítica construtiva, ajudaria a combater as desigualdades e participaria na construção da Paz.
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.