Ad Maiorem Dei Gloriam

Neste período da história, torna-se mais acessível o uso dos meios que temos à nossa disposição para promoção pessoal, para nos auto gloriarmos, do que para dar testemunho da Fé em Jesus Cristo, ou para dar Glória a Deus.

Na era da comunicação simples, rápida e eficaz assusta-me a facilidade com que a nossa Fé se desloca para o encanto da segunda tentação de Cristo, a do poder e da glória (Lc. 4, 5-8).

Neste período da história, torna-se mais acessível o uso dos meios que temos à nossa disposição para promoção pessoal, para nos auto gloriarmos, do que para dar testemunho da Fé em Jesus Cristo, ou para dar Glória a Deus. Esta velha realidade não “vende”, dá poucas visualizações, poucos likes, afasta seguidores e, sobretudo, frustra-nos, porque ninguém nos ouve e liga ao nosso trabalho. Já a nova realidade, da promoção pessoal, só no entretanto ou muito vagamente nas entrelinhas fala de Cristo ou da Glória de Deus, mas é muito mais “lucrativa”. Likes e seguidores, vindos de todo o lado, deixam-nos o ego afagado e alimentado. Aquilo que dissermos (sobretudo se for fora da caixa) é partilhado por todos e, com um pouco de sorte, ainda passamos a escrever umas coisas num jornal nacional, ou vamos à televisão falar “com sabedoria”, mesmo que o que for dito não corresponda à verdade. E quando vier o contraditório já ninguém se lembra do que ficou para trás, porque a instantaneidade da televisão gera o esquecimento e o que importa é o momento.

Falar da Fé é fácil. Praticá-la no dia a dia é muito difícil. Colocar Cristo, a Sua Igreja e a Glória de Deus como a referência na totalidade da nossa vida, por oposição aos nossos egos e vontades de afirmação, é extraordinariamente árduo. Praticar essa Fé num mundo absolutamente comunicacional e onde tudo depende dessa capacidade e acessibilidade constantes, onde o ato de comunicar já não só é global, como globalizante, trendy, focalizado no que é fácil e imediato, agir com Fé e Identidade Cristã implica uma constante ligação entre o céu e a terra através de nós. Implica verdadeira humanidade, aquela que Cristo experimentou ao nascer e viver entre nós, uma humanidade que nos faz ver o outro como filho do mesmo Pai e não como caminho para o germinar e florescer do nosso próprio orgulho.

Para isso, é preciso cumprir o que o Papa Francisco nos disse nesta última mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, ao chamar a atenção precisamente para esse aspeto, ou seja, para a necessidade de uma consciência crítica que nos guie e que promova, em cada um de nós – pois todos somos comunicadores, ou se quiserem, como dizia Alvin Tofler, “prosumers” (produtores e recetores) – uma capacidade permanente de discernimento e de compreensão dos diversos ambientes nos quais comunicamos e de nós mesmos: «Uma tal consciência crítica impele-nos, não a demonizar o instrumento, mas a uma maior capacidade de discernimento e a um sentido de responsabilidade mais maduro, seja quando se difundem, seja quando se recebem conteúdos. Todos somos responsáveis pela comunicação que fazemos, pelas informações que damos, pelo controlo que podemos conjuntamente exercer sobre as notícias falsas, desmascarando-as. Todos estamos chamados a ser testemunhas da verdade: a ir, ver e partilhar».

Somos, usando esta linguagem do mundo comunicacional, também mencionada pelo Papa Francisco, “testemunhadores” e se não o formos não estaremos a cumprir o nosso papel de batizados, de filhos que amam o Pai e dele falam com carinho e respeito, pondo em prática o valor maior: o do amor ao próximo.

Enfim, cabe-nos olhar para o mundo e para todas as capacidades que soubemos desenvolver através da graça de Deus para, por meio delas, Lhe darmos maior gloria!

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.