A cultura, um caminho para chegar a algum lado

É uma fonte para a coesão, para a inclusão, para a educação, para a construção de um espírito crítico, para a capacidade de admiração e de ponderação, entre outros. A Cultura implica-nos para a vida.

Não tenho dúvidas de que todos temos sede de verdadeiros encontros com a beleza. Mas que beleza somos capazes de reconhecer? Para onde nos transporta? De que maneira é capaz de nos transformar?

A Cultura é uma porta para a beleza. Através dela, somos abraçados pela nossa humanidade. Através dela, é o mundo inteiro que se abeira junto a nós. É, por isso, que há livros que nos transformam, que há músicas que nos descansam, que há exposições que nos despertam, que há monumentos que nos maravilham. Ver e ser o mundo: quando a Cultura nas suas diversas formas nos invade os olhos, somos, simultaneamente, espectadores e criadores. Permitimo-nos contemplar a criação de alguém, mas, ao mesmo tempo, permitimo-nos, também, criar algo a partir do que nos é apresentado. É por isso que na Cultura podemos falar sempre de uma lógica de nascimento e de relação e é por esse motivo que é campo fértil.

A Cultura é uma porta para a beleza. Através dela, somos abraçados pela nossa humanidade. Através dela, é o mundo inteiro que se abeira junto a nós.

Sabemos bem como a Cultura, nas suas diferentes dimensões, é, frequentemente, esquecida. Não me refiro unicamente à forma como o próprio Estado a coloca nas prioridades do país, mas, sobretudo, à forma como olhamos, cada um de nós, para a dimensão cultural na nossa vida e como a valorizamos e a reconhecemos, enquanto fator importante de bem-estar, de encontro, de crescimento, de ligação. Veja-se o caso dos médicos no Alentejo que, em vez de fármacos, vão começar a prescrever Cultura. Curioso, mas não surpreendente, principalmente se olharmos, atentamente, à nossa volta e percebermos como a Cultura marca positivamente a nossa vida, até no mais pequeno detalhe. É uma fonte para a coesão, para a inclusão, para a educação, para a construção de um espírito crítico, para a capacidade de admiração e de ponderação, entre outros. A Cultura implica-nos para a vida.

Resistimos em valorizar a Cultura e em lhe atribuir um papel importante. Não permitimos, tantas vezes, que a beleza nos encontre. Não lhe damos tempo para nos falar. Não lhe oferecemos o nosso tempo para a podermos ouvir. O encontro com a beleza faz-nos mais humanos, porque nos faz aspirar mais alto, porque nos transforma. Uma ponte para o céu, talvez. Até um caminho para Deus. Uma oportunidade para contemplar, a única forma de nos ligarmos, verdadeiramente, ao mundo. Porque não podemos estar longe do mundo. Não podemos ignorar a sagrada criação. Não queiramos sofrer de miopia e não nos deixemos cristalizar nas nossas conceções. Abramo-nos à diversidade da Cultura e ao dom da Arte que fortalece
relações, valores e a própria existência.

O encontro com a beleza faz-nos mais humanos, porque nos faz aspirar mais alto, porque nos transforma. Uma ponte para o céu, talvez. Até um caminho para Deus. Uma oportunidade para contemplar, a única forma de nos ligarmos, verdadeiramente, ao mundo.

Desafiei a Leonor, a Clô e o Isaías a partilharem comigo os lugares para onde a Cultura os leva.

“A cultura é muito importante, porque leva consigo o melhor da humanidade”. As palavras são do Isaías, um jesuíta timorense, que partilhou, também, comigo a importância que a Literatura tem na sua vida: “a literatura manifesta a grandeza e a profundidade da alma humana. É, por isso, que ler um bom poema ou um romance é como entrar e mergulhar na grandeza e na profundidade do homem e da mulher. Fazem-me lembrar o Grande e o Profundo.”

Já a Leonor nasceu no meio dos pincéis do avô e, por isso, a sua vivência cultural é forte, desde criança. “Sem Cultura, a minha vida não tem moldura, nem reflexão”, diz a Leonor. Nunca diz que não a uma sugestão cultural, porque acredita que é importante “ver muito, ouvir muito e pensar muito para descobrirmos aquelas três obras que mudam a nossa vida. Já tive surpresas e desamores, mas é na descoberta e no espanto que assenta a minha relação com a Arte.” Disse-me, também, que “fico longos minutos a olhar para uma obra e aprecio o silêncio que se faz quando admiro um quadro.”

Para a Clô, a Cultura ajuda-a “a crescer com os pés assentes no mundo, porque permite olhar sobre o passado, ajudando a compreender o presente, mas, também, ajuda a questionar o presente para projetar o futuro.

“A cultura é essencial na minha vida não apenas porque me ensina e me ajuda a viver para fora, mas, também, porque me relaxa, sobretudo quando traz beleza e esperança ao mundo. Por isso, é, também, para mim, um excelente apoio na oração”, diz a Clô. Para si, são importantes momentos de Cultura “contemplar o Cristo Sorriso, enquanto que rezo a Paixão”, “visitar Património, obtendo informação importante que ajuda a compreender o mundo atual”, “procurar a cultura no terreno através do contacto com diferentes povos e realidades.” Em suma, “gosto de ser desinstalada e de ver mais longe do que o meu pequeno mundo.”

Procurei nesta diversidade de vozes reforçar o desafio de cada um de nós ir à procura da beleza e, também, ser criador de beleza. Independentemente da forma de aproximação da Cultura que cada um escolha, o belo será sempre belo. O meu desejo é que reconheçamos convictamente a importância da estreita ligação com a Cultura e com a Criação, na certeza de que é sempre caminho para chegar a algum lado. Sou o Caminho, a Verdade e a Vida, disse Jesus. Embarquemos no caminho da beleza, em busca da verdade e da vida.

PS: Obrigada aos amigos Clô, Leonor e Isaías pela partilha.

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.