“Mundo pedagógico consome muito e reflete pouco.”

Novo livro sobre a pedagogia da Companhia de Jesus, lançado pela Axioma, quer contrariar o modo impreciso como se pensa o ser humano e contribuir para a inovação educativa.

A Axioma – Publicações da Faculdade de Filosofia acaba de lançar um novo livro: “A Pedagogia da Companhia de Jesus – Contributos para um Diálogo”. Coordenada pelo P. José Lopes, sj esta obra parte das fontes que têm inspirado os jesuítas na ação educativa ao longo dos séculos, mostrando o modo como essa tradição continua a inspirar respostas adequadas ao atual contexto social e educativo.

Contando com um prefácio do Professor Joaquim Azevedo, a obra fica também marcada pelo contributo de vários jesuítas, bem como de outros educadores e investigadores. Os temas são variados passando, entre outros, pela autobiografia de Santo Inácio de Loiola, a pedagogia que resulta dos Exercícios Espirituais, o lugar do corpo na espiritualidade e na educação, a presença da música e do teatro na escola jesuítica ou a educação na fé.

Quatro perguntas ao P. José Lopes, coordenador da obra

O Ponto SJ fez uma pequena entrevista ao coordenador desta obra, P. José Martins Lopes, que explica os seus objetivos e fala da importância de uma inovação que se mantenha fiel à tradição educativa da Companhia de Jesus.

De onde surgiu o desejo de editar este livro? 

Este livro surge de uma preocupação e de uma possível resposta a essa preocupação. Na nossa época, como se diz na apresentação, a ideia de ser humano parece ter contornos cada vez mais imprecisos e confusos. Acreditamos que a vida e obra de Inácio de Loyola e a tradição da Companhia de Jesus, em termos educativos, poderão ajudar a clarificar o que identifica e dá carácter ao ser humano.

Que importância pode ter para a atual reflexão sobre educação? 

As fontes educativas da Companhia de Jesus são um inesgotável manancial de uma pedagogia que foi construída a partir da pessoa e a pensar na pessoa. O que está escrito, e que tão bons frutos tem dado ao longo da História, é o resultado de muita reflexão, experiência, vivência e avaliação no campo educativo, a nível universal.

O mundo pedagógico atual consome muito e reflete pouco. Ora, esta obra tem um objetivo muito claro: deixar uma proposta educativa que assumimos como válida e que pode ajudar o mundo da educação a ir discernindo o essencial do acessório, na construção de uma pessoa educada, isto é, de uma pessoa que faz um correto uso da razão e do coração, porque sabe e é!

Como é que esta obra reflete o processo de renovação pedagógica pelo qual estão a passar os colégios dos jesuítas em Portugal? 

Os três colégios dos jesuítas em Portugal (Colégio das Caldinhas, em Santo Tirso; Colégio São João de Brito, em Lisboa: Colégio da Imaculada Conceição, em Cernache) estão num processo forte de inovação e renovação. Como se escreve no livro: «A autêntica inovação é renovação dentro da tradição, da fidelidade a uma identidade». O conhecimento das fontes ajuda-nos a, num processo de inovação e renovação, nunca deixarmos de ser nós próprios. É precisamente esta a linha do livro.

A pedagogia inaciana, a pedagogia da Companhia de Jesus, não é melhor ou pior do que muitas outras: é diferente. E é nesta diferença, como proposta, que está a sua riqueza. Perdê-la, significaria um empobrecimento para o mundo da educação.

Há alguma coisa que se possa dizer sobre esse processo de renovação? 

Mais do que um processo de renovação, trata-se, portanto, de um diálogo entre o que nos identifica, nas tradições espiritual e pedagógica inacianas que inspiram a inovação, e  os desafios que a sociedade contemporânea nos coloca.

Trata-se também de uma tarefa permanente de trabalho colaborativo entre todos os atores da ação educativa, interpelando a sua capacidade de adaptação, a sua abertura ao Outro, ao mundo e aos outros, com tudo o que isso implica de transformação humana e pedagógica.

 

Para conhecer melhor o livro A Pedagogia da Companhia de Jesus – Contributos para um Diálogo clique aqui