Josefina, a Soba que nos recebe

Todos os assuntos da comunidade dizem respeito ao Soba e a sua intervenção é constantemente solicitada e muitas vezes é necessário reunir com os envolvidos, com a comunidade e com os pares – outros sobas – para uma solução final.

Nascida em Katchiumgo, no Huambo, Josefina de 56 anos é Soba num Bairro da Ganda, o Alto da Catumbela, província de Benguela. Este cargo tem uma enorme relevância na gestão da comunidade sendo reconhecida como autoridade tradicional pelas populações e pelo Estado. A nomeação resulta do voto de outros sobas e da população. Já a sua avó tinha sido Soba em Cachiungo, uma vila e município da província do Huambo, Angola. Apesar de não ser comum em Angola, para a eleição de Soba os direitos são iguais, quer seja mulher, quer seja homem. E Josefina é disso testemunho.

Mãe de 4 filhos e já com seis netos, Josefina fez a 9ª classe já adulta, na escola da Ganda. Cultiva a sua pequena Lavra, a duas horas de caminho de casa, assegurando a base da sua alimentação, mas assume que a prioridade é a sua responsabilidade como líder comunitária que muito a ocupa: “Custa!! Ser Soba custa! Há trabalho! Tudo te chama! E você tem que responder.” Dos maus tratos aos roubos, todos os assuntos da comunidade dizem respeito ao Soba e a sua intervenção é constantemente solicitada e muitas vezes é necessário reunir com os envolvidos, com a comunidade e com os pares – outros sobas – para uma solução final.

Anualmente os sobas realizam os censos do Alto do Catumbela. Cada soba é responsável por saber, casa a casa, quantas pessoas habitam no seu bairro, e de as dividir nas faixas etárias (0 aos 5, 5 aos 12, adultos, maiores de 60 e maiores de 70). Os últimos censos apontavam para 17 mil habitantes.

A Soba do Bairro da Ganda veio para o Alto do Catumbela com 6 anos, numa longa viagem de comboio desde a terra natal. O seu pai trabalhava na fábrica de celulose que dava trabalho a muitos dos habitantes da região e que era fonte de prosperidade daquela zona “Aqui tava bonito, agora taá mal! Não há trabalho, as pessoas se vão no campo, o trabalho é pouco, não aparece emprego para as pessoas trabalharem. Agora aqui ficou feio, tá mal!”. Quando no Alto do Catumbela a fábrica de celulose estava em funcionamento o “comboio transportava os papéis, pastas e restos, tava bem! Dava luz aqui, luz em todo o bairro, água canalizada, tudo! Tava muito bonito! Mas a guerra mudou tudo”.

Hoje a falta de emprego é sem dúvida o maior problema. O cultivo de subsistência, os pequenos negócios e o emprego dos professores animam a economia do bairro. “De manhã cultivam, de tarde vão à praça. Mesmo assim está mal, não está bom”, diz Josefina, revelando que os jovens são obrigados a ir para Luanda e Benguela para melhorar a vida, amealhar algum dinheiro e depois regressar para apoiar a família.

São grandes as expectativas de Josefina para o trabalho dos Leigos para o Desenvolvimento na Ganda. A par do desemprego e desocupação dos jovens, as necessidades ao nível da saúde e da salubridade (lixos, águas paradas) são as que identifica como as mais prementes. A dinamização do Grupo Comunitário, o envolvimento e o compromisso dos membros da comunidade são o desafio que a Soba da Ganda espera conseguir vencer com o apoio dos nossos voluntários.