Ser missão: de braços abertos

A certeza de que uma vida em Missão nos faz crescer enquanto pessoa e nos revela o que de melhor existe na Humanidade, deixa-me com o coração a transbordar.

Este ano faz 5 anos que cruzei olhares com África pela primeira vez! Costumo ouvir que quem conhece este continente, nunca mais é o mesmo. E realmente foi o que aconteceu! Regressei a Portugal em agosto de 2019, com a certeza de que ao fim de 5 anos estaria de volta. E não foi preciso tanto tempo para que este desejo se concretizasse.

Depois de um longo ano de formação com os Leigos para o Desenvolvimento, fui enviado em missão com o lema “onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estarei no meio deles” (Mt 18, 19-20). De braços abertos e com uma vontade grande de me deixar surpreender, aterrei em Angola.

Hoje escrevo-vos ao fim de uma mão cheia de meses em missão e com dezenas de mãos cheias de memórias criadas, sonhos partilhados, sorrisos roubados e com uma bagagem que já começa a ganhar o peso daquilo que me deixa feliz significa: fazer os outros felizes!

Vir em Missão com os Leigos para o Desenvolvimento é saber que cá somos um mero instrumento de Deus e que Ele opera através de nós, quer seja nos projetos que acompanhamos, quer seja nas nossas partilhas e nos encontros diários que vamos tendo com a comunidade da Ganda e do Alto Catumbela. Apesar desta missão ser relativamente recente, teve início em 2019, sente-se o legado já deixado pelos outros voluntários LD e queremos muito em cada dia honrar esse esforço e continuar a construir caminho e a deixar a marca LD.

Se existem duas coisas que me ficaram do tempo de passagem com as voluntárias que estiveram cá antes de mim, é que o mais previsível na missão, é o imprevisto e que Deus tem um sentido de humor muito caricato. E tudo isto tem-se revelado bastante verdadeiro ao longo deste tempo nesta terra. Nestes meses de Missão, a nossa comunidade LD já se moldou várias vezes. Fomos 3 durante 2 meses, passámos a 2 durante 3 meses e recentemente voltámos a ser 3 com a chegada do Nico. Todas estas mudanças fizeram-me perceber que viver em missão é estar comprometido com Deus em cada dia, mas sabendo que Ele se vai revelando de várias formas e também nos vai trocando as (nossas) voltas a cada passo. Talvez isso seja para nos desinstalar ou um simples teste para nos interrogarmos e nos pôr à prova, contado que o resultado seja percebermos que somos tão mais capazes do que muitas vezes achamos e que os altos e baixos da vida nos ensinam sempre alguma coisa.

Em missão, vive-se ao sabor do vento. Não vale a pena correr e ter pressa! No final do dia, a certeza de que uma vida em Missão nos faz crescer enquanto pessoa e nos revela o que de melhor existe na Humanidade, deixa-me com o coração a transbordar!

 

Roberto Torres
Ganda (Angola), 2023-2024