No caminho que me foi proposto percorrer como missionária, procuro entender o que tal significa, e neste campo de incerteza, é olhar cada pessoa e cada situação como única, que crio espaço para a descoberta sobre cada um, que tento semear com generosidade, e dessa forma colher com clareza aquilo a que sou chamada.
Nesta missão, é a Igreja que nos convida a estar aqui, e o percurso pastoral fazemo-lo junto com a comunidade de Freis Capuchinhos, que tal como tantas outras congregações, são diariamente desafiados a permanecer na sua vocação missionária.
No Sul de São Tomé, o trabalho pastoral não é óbvio, de entre tudo o que me é pedido, é certamente o mais exigente, o mais difícil de se definir em ações e de compreender qual o processo. Num lugar onde a nossa Igreja Católica há muito que deixou de ocupar uma presença maioritária, enfrenta um longo caminho pela frente na evangelização. Neste desafio partilhado, de entender qual o que é de facto o percurso que podemos seguir, procuro o dom da fé e da perseverança para que consiga a cada momento responder ao que Ele me pede.
O Frei Ademario, o responsável pela nossa comunidade em Porto Alegre, transporta consigo o criolo das suas raízes cabo-verdianas, e entre gargalhadas alimenta conversas com aqueles mais velhos, que sentados nos bancos da nossa igreja, partilham com ele dessas mesmas raízes e alegria. Que Graça é poder ficar a assistir! É sentada num desses bancos, que os meus pensamentos por vezes me colocam numa bolha onde cabem as mais fáceis conclusões sobre como poderia a Igreja atuar neste lugar, e neste mesmo contexto sou surpreendida pela beleza nem sempre óbvia, deste testemunho que o Frei me vai mostrando sobre a sua exigente missão. Permito-me assim descobrir sobre este homem, que enfrenta esta sementeira em terra de baldio, sempre com um sorriso tão genuíno e carregado de esperança.
Este homem consagrado ao Senhor, é uma fonte de inspiração pela sua capacidade de continuamente partir do essencial em cada obstáculo, procurando no meio da confusão de que se faz a vida o tesouro mais precioso de todos, o testemunho de Jesus. É ainda no seu cavaquinho que coloca o dom da música, e em criolo cantarola, “quem mostra’bo, ess caminho longe? Ess caminho pa são Tomé”. Olho com admiração sobre esse caminho longe e exigente, que enfrentaram todos os seus antepassados, e que agora de um modo bem diferente, o colocam também nesta terra. Testemunho a presença de um homem simples, guiado pelo Espírito Santo, que a cada encontro trás consigo todas as pequenas esperanças e sonhos que nos levam às nossas aspirações maiores.
Num tempo em que somos chamados a semear o bem, sou eu também chamada a saborear a leveza que este Frei transporta, que me faz ser grata pela exigente caminhada pastoral, e de encontrar nela a sua essência, e acolhê-la tal como ela própria é.
Virgínia Gabriel
São Tomé e Príncipe – Porto Alegre, 2021-2022