Caminhos que descubro e em que (me) descubro

“Aqui em São Tomé, não tenho pressa de chegar. Sigo saboreando e agradecendo cada passo, ao ritmo do leve-leve”.

É cedo ainda, mas estou quase pronta para começar o dia. Ato os cordões das sapatilhas e sigo para a rua. Dou um passo, e outro, e outro.

Ando numa estrada larga de alcatrão, com carros e motas a passar a toda a velocidade.

Ando em caminhos estreitos no Bairro da Boa Morte, ladeados por chapas e árvores, e neles vou avançando e deixando que as cores, os sons, os cheiros desta ilha me surpreendam.

Gosto de caminhar, sempre gostei! Porque é a andar que chego a locais, a momentos, a pessoas. E é neste exercício de colocar um pé à frente do outro, simples e repetido, que tudo à minha volta avança, e eu avanço também.

Por estes caminhos, que vou percorrendo diariamente, reforço a certeza de que o destino é continuar a caminhar, e que o limite do percurso que os meus olhos conseguem ver dará lugar a mais estrada para andar, assim eu vá avançando.

Dou um passo, e outro e outro, e deixo-me levar pela cadência dos dias quentes. Muitas vezes acompanhada por conversas, por interpelações, pelo chamar do meu próprio nome vindo de rostos que se tornaram familiares. Aqui em São Tomé, não tenho pressa de chegar. Sigo saboreando e agradecendo cada passo, ao ritmo do leve-leve.

Aceitando que, este caminho que se vai desvendando a cada momento, não é sempre plano e com direito a brisa amena de mar, vou aprendendo a arte da confiança, e a rezar cada instante como tempo privilegiado que é.

Neste trilho, os cruzamentos têm nomes de pessoas, sorrisos rasgados e gestos que abraçam sem sequer tocar. Dou um passo, e outro, e outro, sem atalhar, porque conto com quem partilhar o ânimo e o cansaço, tantas vezes sem ter que o verbalizar.

Sem pressa, mas sem parar, continuo a caminhar até onde Deus me quiser fazer chegar.

Inês Sampaio
S. Tomé e Príncipe, 2020-2021