Há uma luz que nunca se apaga – o tema para este ano Inaciano que começou a 20 de maio, que não podia ser uma descrição mais fiel do ano que passou. Este ano celebra-se os 500 anos desde que Santo Inácio foi ferido em combate e foi, enquanto soldado, derrotado em batalha, destruindo todos os seus sonhos, planos e certezas. Mas, como sabemos, Deus tinha para ele um plano maior e após 9 meses de convalescença (e muitos tantos à procura) Inácio juntou-se finalmente à guerra certa.
Para muitos (arrisco dizer todos) também este ano que passou pareceu uma bala de canhão que arrasou as nossas expectativas e planos (9 meses de convalescença para o Santo, ano e meio para nós), mas tal como não foi tempo perdido para ele, também cada um de nós aproveitou (ou ainda vai a tempo de aproveitar!) para, largando os mapas, acertar a direção junto de quem realmente sabe o caminho.
O Santo precisou de ficar de cama, mas aos Gambozinos foi quase preciso prendê-los em casa. Porque já faz parte do nosso dia-dia ler sobre Jesus e sobre os Santos e um gambozino não fica o dia todo em casa. Acreditávamos que não precisávamos de ficar de cama porque já estávamos curados. Certo é que aquele que nasce em Deus não precisa de grandes conversões, mas por vezes iludimo-nos e esquecemo-nos que faz sempre falta a tão essencial conversão do dia-dia, que nasce da confiança de quem sabe ser guiado.

Confiar. Deixando que, por um segundo, não sejamos nós a decidir o que vai acontecer, mas deixar acontecer o que foi decidido. Para Santo Inácio, foi deixar o burro decidir, por um momento, que rumo iria seguir e se tanto bem saiu dessa decisão (quantos campos talvez não teriam acontecido se fosse Inácio a decidir) então podemos apenas imaginar o Bem que faríamos e seríamos se fosse Deus a decidir, em todos os momentos, aquele que é o nosso rumo. Sem dúvida que planear é bom, mas confiar é certo.
Quantas vezes não somos como o soldado Inácio e tentamos seguir a nossa própria luz, tal e qual pirilampo atrás do seu próprio rabo. Bom, este ano o propósito é seguir o verdadeiro sol, por mais assustador e ofuscante que seja, com a certeza de que este ano não há Icarus, apenas conversão. Deixemo-nos cegar (afinal de contas, se funcionou para S. Paulo, funciona para nós) e deixemo-nos converter por este fogo verdadeiro.

Neste tempo de grande ansiedade e entusiasmo, em que já sonhamos com os aplausos e jogos, missas e BDS’s, com a comidinha da Mamã e os tempos de amizade com aqueles que não vemos há demasiado tempo, recordemo-nos da chama que acende toda esta Alegria e deixemo-nos incendiar com este fogo que, para além de alegria e entusiasmo, é, antes de tudo, confiança.

Miguel Santos