“Desculpem, sou um sortudo.”

“Desculpem, sou um sortudo.”

Sou um sortudo por tudo o que recebi e recebo todos os dias por ser Gambozino. Foi tão simples como: “se precisares de mim nos Gambozinos, diz”. É simples, é estar disponível! E depois, através do exemplo e garra dos que estão à nossa volta, vai-nos sendo pedido mais e mais compromisso. E continua a ser simples, porque encontramos na diferença a nossa maneira de estar.

Sou um sortudo porque pude fazer crescer esta bela associação numa missão não muito óbvia e, à partida, mais fora “do terreno”, que aparentemente não nos dá tempo para estar nos bairros, atividades, (mini) campos, etc. Antes pelo contrário: a única maneira de estar comprometido é estar presente, tanto nas coisas que são espetaculares como naquelas que nos custam mais.

Sou um sortudo porque (algumas vezes) deixei que Jesus fizesse grandes coisas do pouco que eu sou. Somos pequenos mas com Ele, através de nós, grandes coisas acontecem!

Agora pensem: como é que explicam a magia dum campo de férias, a energia que de lá vem, o poder que tem na nossa vida?!

Quantos amigos não temos que perguntam “mas que raio fazes nesses campos?”. E nós só sabemos falar sobre jogos e atividades que fizemos, mas no fundo o que mais tiramos do campo não é nada disso. É algo que não se explica.

Quem nunca fez acha que somos tolos. Quem faz ou passa a fazer, não quer outra coisa.

Deixem-se de tretas. Somos uns sortudos por sermos Gambozinos.

Gonçalo Mina,

Animador

De Gambozino e de louco, todos temos um pouco

De Gambozino e de louco, todos temos um pouco

Oh Gambozinos

Dizemos a toda a hora que somos loucos da cabeça, eu acho que somos mesmo. Estamos tão dentro deste desafio enorme e tão entusiasmados com a missão que nos é posta à frente que não reconhecemos quão louca é. Cada animador e cada animado que eu encontro nesta louca associação é um pouco (ou muito) louco. E os pais que não se preocupem, porque esta loucura não é daquelas que acaba com um braço partido, uma ida ao hospital ou um trauma de infância mas daquelas que nos confrontam com a verdade de quem nós somos, que nos desafiam a sair do nosso mundinho e a conhecer realidades opostas às nossas, que nos chamam a ir mais fundo, que nos pedem que nos entreguemos mais do que nós achamos que somos capazes, que destroem os nossos preconceitos, daquelas loucuras suficientemente loucas para ser encarada como missão.

Se chegassem a mim e dissessem: “Olha, temos aqui uma ideia: queríamos juntar miúdos de todo o lado que nunca se conheceram, uns de bairros, outros das grandes cidades, todos muito diferentes e com culturas e origens muito diferentes e misturá-los a todos. Queremos criar amizades profundas entre eles, queremos que se conheçam a si próprios, queremos pô-los a servir, isto e tanto mais a acontecer durante o ano todo e especialmente durante dez dias no verão no meio do nada! Ah e claro, isto tudo só é possível porque queremos que todos vejam a alegria que é conhecer Jesus”. Eu dizia: “man isso é meio louco, ou totalmente louco!”

Mas claro! Só resulta por ser tão louco! Senão não era uma missão para tantos de nós, senão não puxava tanto de nós próprios e não nos mostrava tudo o que podemos ser e fazer pelos outros. Eram só mais uns dias bem passados no verão ou umas atividades até giras de vez em quando. A exigência e intensidade que sentimos desta proposta gambozínica vem da loucura que é. E desta loucura vem também a profundidade e a beleza que acompanha tudo aquilo que é realmente bom e sério o suficiente para nos darmos todos e fazê-lo com tanta alegria.

Temos uma missão louca à imagem da loucura de Cristo. É esta a loucura que queremos imitar. Porque foi uma profunda loucura a Sua vida. A olhos vistos. A loucura de um Deus que nasce pobre numa manjedoura, que se baixa para nos lavar os pés e que morre na Cruz para nos salvar e salvar aqueles que o tinham negado e abandonado. A loucura de um Homem que viveu e morreu por nós. É Ele que seguimos nesta missão, é dele que somos embaixadores. Queremos dar testemunho da Sua vida aos outros e exprimentar da loucura que foi a Sua vida.

 

Como escreveu o Padre Pedro Arrupe sj:

 

“Senhor, dá-me o Teu amor, que me faça perder a minha “prudência humana” e me leve a arriscar a dar o salto, como S.Pedro, para ir para Ti: não me afundarei enquanto confiar em Ti.

Não quereria ouvir: “Homem de pouca fé, porque duvidaste?” Quantos motivos teológicos, ascéticos, de prudência humana, aparecem no meu espírito e tentam demonstrar-me “sob a aparência de bem” com muitas razões humanas, que o que Tu me inspiras e pedes é imprudente: uma loucura.

Tu, Senhor, segundo isso, foste o mais louco dos homens, pois inventaste essa insensatez da cruz.

Senhor! Ensina-me que essa insensatez é a tua prudência, e dá-me tal amor à tua pessoa para que seja eu também outro louco como Tu.”

Kiko Cardoso da Costa, animador

No princípio era assim

No princípio era assim

«No princípio»… é assim que começa. Foi assim há sei-lá-quanto-tempo, quando Deus decidiu criar o mundo, o céu e a terra, a luz, o dia e a noite, o sol e a lua. Foi assim há dois mil anos, quando decidiu encarnar para nos salvar, quando viveu e comeu com os Seus amigos, quando morreu na cruz e ressuscitou. Foi assim em 1996 quando Se decidiu a criar os Gambozinos. «No princípio». Tal e qual. Porque haveria de ser diferente? Afinal, ser Gambozino é ser como Jesus – é morrer um bocadinho cada dia, é dar a vida, é tê-la nova.

 

É certo para todos os que são ou foram (pode deixar de se ser?) Gambozinos, que sê-lo é uma travessia. No princípio, pelo menos, custa horrores passar dez dias longe de casa. No princípio, pelo menos, a sujidade é uma chatice. No princípio, pelo menos, ser Gambozino dá cabo de nós – mata-nos.

 

O que tem ser Gambozino a ver com a Páscoa? Tudo.

 

É que começa assim mesmo! No princípio é preciso morrer. É preciso ser escravo no Egipto, como o povo Judeu. É preciso sair de casa, sair da tenda, e caminhar. Lá vem a peregrinação… Há que atravessar o mar vermelho. Há que atravessar Braga, Peniche e o Pragal. Há que atravessar Porto e Lisboa! Não chega. Há que atravessar o resto do mundo! Sabes, é isso mesmo que significa “Páscoa” – passagem. Há que passar por aquela fase tímida em que não sei onde me vim meter; há que atravessar os meus medos; há que cruzar o que nunca imaginei ser capaz. A única coisa que não podemos passar é mesmo pelo meio da roda.

É que, quando as mulheres foram ver o sepulcro, a roda que o fechava tinha rolado. E rolaram os BDSs, rolaram os Boas-Noites, rolaram as missas… No princípio, quando chegaste aos Gambozinos, havia uma porta fechada, uma tenda desconfortável, um aplauso ridículo que nunca irias fazer. Aí, no princípio, havia um mar entre ti e aquele outro animado que vem de uma realidade monstruosamente diferente. Mas isso, sei bem, foi só no princípio.

 

Onde é que eu ia? Ah!, sim, a roda rolou. Mas que volta a vida deu! A porta abriu-se. Talvez tenhas feito companhia a Maria Madalena e ficado a chorar à porta. Talvez tenha sido num sketch que viste Jesus vestido de jardineiro, ou talvez tenhas visto um anjo nos jogos da lama – vestido com uma «túnica branca» – que te contou tudo: o Senhor Ressuscitou! Aleluia! «Gambozino, porque choras»? Afinal, quem nunca chorou? Dizem que um homem não chora… isso é até Jesus nos falar. Depois disso, não somos mais homens nem mulheres, crianças nem adultos, animados nem animadores, PBPs nem LPRs… chegados ao ponto em que Jesus nos olha – a nós, particularmente, intensamente, docemente – já não há eu. Aí podemos chorar. Mas Ele, esse Deus tão bom que nos entrou pelo bairro adentro, que nos entrou pela vida adentro, que nos entrou pelo coração adentro… esse Deus que nos ensinou a chorar.. não nos deixa a chorar. Disse e repete: «Gambozino, porque choras»? E, quando não Lhe conseguimos responder, traz-nos chá e bolachas, um abraço, um sorriso, a Sua presença.

 

No princípio – vá, talvez durante – talvez até ao fim – é preciso morrer. A porta aberta mostra um túmulo vazio. Afinal, o que procuravas? Quem sabe seja essa a grande travessia, a grande páscoa: procurar algo diferente. Daí em diante, a vida é diferente. «Doravante, serás pescador de homens». Acabou o Campo; acabou o Dia-Fixe; acabou o Louco. E agora?

 

Sorri! Não é só uma nova vida, um recomeçar. É uma vida nova, um recriar. No princípio… Isto é a Páscoa.

O que é que isto tem a ver com os Gambozinos? Não sei, diz-me tu.

 

Gonçalo Costa, SJ

Não se pode viver sem os amigos

Não se pode viver sem os amigos

Mais tarde ou mais cedo, chegará o dia em que compreenderemos que o mais importante das nossas vidas é a forma como e com quem passamos o nosso tempo. Seja em família, em encontros de amigos, na vida profissional…

E então compreendemos verdadeiramente a importância da nossa família e de quem nos rodeia.

Mas é sobretudo sobre a amizade que gostaria de falar agora.

Nos Gambozinos encontrei uma fonte de inspiração. Permiti que integrassem a minha vida e passaram a ser, também eles, a minha família. Criei novos laços e amizades que perduram e sempre perdurarão na minha vida, que me inspiram, que me transformaram na pessoa que hoje sou.

Aprendi a valorizar os momentos vividos de forma pura e saudável, geradores de verdadeiras amizades, e hoje sou uma pessoa melhor.

Sinto que viver esses momentos em alegria, entre verdadeiros amigos, é viver mais perto de Deus e dos seus valores.

Efetivamente, os valores transmitidos – para alguns meramente teóricos ou apenas estratégicos -, professados por Deus, pela religião apostólica romana, são aqui materializados nas atividades, princípios e vivências que desenvolvemos enquanto grupo que se rege ou está orientado por objetivos e princípios comuns.

E partilhar essa Alegria é viver como Deus nos ensina.

A vida é feita de ciclos. Neste, estou a usufruir da minha juventude e o que talvez me possa distinguir de outros jovens é o desejo da Entrega.

Acredito na plenitude dos valores, da amizade e dos momentos que, juntos, partilhamos.

Os Gambozinos são a semente de todos os tempos. E porque a regamos com a transparência da ética, da pureza e da lealdade, colhemos valores e ensinamentos que não mais alguém nos retirará.

Agradeço a Deus e aos Gambozinos a sua presença na minha vida. Agradeço, também, a todos quantos apoiam e integram as atividades que empenhadamente continuamos a desenvolver. Disso exemplo foi o grande evento Gambozinos by night, jantar de angariação de fundos. Agradeço a solidariedade, a dedicação e o amor demonstrados para que nós, gambozinos, possamos enriquecer as nossas personalidades, tornando-nos adultos mais responsáveis, preparados para uma vida cheia de Graça. A Graça de Deus!

 

Carmo Oliveira, animadora, Lisboa

“EMBAIXADORES DE CRISTO!” Linhas de fundo 2018/2019

“EMBAIXADORES DE CRISTO!” Linhas de fundo 2018/2019

“EMBAIXADORES DE CRISTO!”

Um embaixador é alguém que representa, e que têm como função dar a conhecer e defender a mensagem do seu representado. O poder de um embaixador é, por isso, sempre dependente do poder do seu representado, visto que na verdade é este último que está no centro.

 

Ser representante de Cristo significa então tê-Lo no centro da nossa vida. É Jesus que nos chama a esta missão, e esta só faz sentido com Ele. É um convite universal – quer eu viva no Bairro Branco, Peniche 3, Lumiar ou Bairro das Andorinhas -, porque a todos é capaz de chegar o amor de Cristo. Não há amor maior!

 

É também uma proposta exigente, porque implica o nosso “sim” contínuo e comprometido. Jesus promete-nos a felicidade, não a facilidade. Convida-nos, pelo contrário, a saber aceitar quem somos com humildade, procurando sempre ser melhores. Para além disso, ao aceitar esta responsabilidade de transmitir a misericórdia e o amor de Jesus, devemos ter noção de que é um trabalho a tempo inteiro. Devemos ser embaixadores em todos os momentos da nossa vida: quando janto com os meus pais, quando vou beber um copo com amigos ou estou a falar com o meu chefe no trabalho. Jesus está a contar connosco, para que sejamos, nas múltiplas situações do nosso dia, sinais da sua alegria e consolação. Para nos ajudar e fortalecer, Ele promete-nos que nunca nos abandona e nunca estaremos sós. Ele está sempre connosco, desde que arrisquemos crescer na intimidade da relação com Ele.

 

Estas são as linhas de fundo para o novo ano que começa. Que em todas as atividades, encontros, e descansos Jesus esteja presente através da nossa disponibilidade, paciência e amor. É uma missão difícil, e que “não é pra meninos, é pra Gambozinos”!

Sofia Bandeira Costa

Sei o que viste no verão passado!

Sei o que viste no verão passado!

Sei o que viste no verão passado

 

Ai sim? Então deves saber que cacei, finalmente, gambozinos!

 

Já sabia que eles andavam por aí e até tinha muita curiosidade de os conhecer, mas não sabia como apanhá-los (principalmente porque não os conhecia). O mais curioso é que os encontrei no mesmo lugar onde tenho descoberto as coisas mais maravilhosas da minha vida: num campo de férias.

 

Quando aceitei o convite, não sabia o que ia ver e achei desde o início que devia deixar-me surpreender. E que surpresa! O que vi foi uma família feita de amigos que quer crescer pacientemente num ritmo comum, mas respeitando até às últimas consequências o ritmo de cada um. Vi nesta família uma capacidade de acolhimento ímpar! Vi também que os gambozinos não estão à procura da diferença, ainda que a encontrem e que saibam cuidar muito bem dela.

 

Fiquei especialmente a pensar que nos gambozinos o animador não é como um “irmão mais velho” que espreita curioso a vida do mais novo, dá conselhos de vida e ajuda a fazer caminho com respostas, mas é o “irmão mais novo” que observa deslumbrado e preocupado a vida dos outros irmãos e que ajuda a fazer caminho com perguntas.

 

Sei o que vi no verão passado: afinal eu é que fui caçado pelos gambozinos. Ainda bem!

João Melo

animador