Oh Gambozinos

Dizemos a toda a hora que somos loucos da cabeça, eu acho que somos mesmo. Estamos tão dentro deste desafio enorme e tão entusiasmados com a missão que nos é posta à frente que não reconhecemos quão louca é. Cada animador e cada animado que eu encontro nesta louca associação é um pouco (ou muito) louco. E os pais que não se preocupem, porque esta loucura não é daquelas que acaba com um braço partido, uma ida ao hospital ou um trauma de infância mas daquelas que nos confrontam com a verdade de quem nós somos, que nos desafiam a sair do nosso mundinho e a conhecer realidades opostas às nossas, que nos chamam a ir mais fundo, que nos pedem que nos entreguemos mais do que nós achamos que somos capazes, que destroem os nossos preconceitos, daquelas loucuras suficientemente loucas para ser encarada como missão.

Se chegassem a mim e dissessem: “Olha, temos aqui uma ideia: queríamos juntar miúdos de todo o lado que nunca se conheceram, uns de bairros, outros das grandes cidades, todos muito diferentes e com culturas e origens muito diferentes e misturá-los a todos. Queremos criar amizades profundas entre eles, queremos que se conheçam a si próprios, queremos pô-los a servir, isto e tanto mais a acontecer durante o ano todo e especialmente durante dez dias no verão no meio do nada! Ah e claro, isto tudo só é possível porque queremos que todos vejam a alegria que é conhecer Jesus”. Eu dizia: “man isso é meio louco, ou totalmente louco!”

Mas claro! Só resulta por ser tão louco! Senão não era uma missão para tantos de nós, senão não puxava tanto de nós próprios e não nos mostrava tudo o que podemos ser e fazer pelos outros. Eram só mais uns dias bem passados no verão ou umas atividades até giras de vez em quando. A exigência e intensidade que sentimos desta proposta gambozínica vem da loucura que é. E desta loucura vem também a profundidade e a beleza que acompanha tudo aquilo que é realmente bom e sério o suficiente para nos darmos todos e fazê-lo com tanta alegria.

Temos uma missão louca à imagem da loucura de Cristo. É esta a loucura que queremos imitar. Porque foi uma profunda loucura a Sua vida. A olhos vistos. A loucura de um Deus que nasce pobre numa manjedoura, que se baixa para nos lavar os pés e que morre na Cruz para nos salvar e salvar aqueles que o tinham negado e abandonado. A loucura de um Homem que viveu e morreu por nós. É Ele que seguimos nesta missão, é dele que somos embaixadores. Queremos dar testemunho da Sua vida aos outros e exprimentar da loucura que foi a Sua vida.

 

Como escreveu o Padre Pedro Arrupe sj:

 

“Senhor, dá-me o Teu amor, que me faça perder a minha “prudência humana” e me leve a arriscar a dar o salto, como S.Pedro, para ir para Ti: não me afundarei enquanto confiar em Ti.

Não quereria ouvir: “Homem de pouca fé, porque duvidaste?” Quantos motivos teológicos, ascéticos, de prudência humana, aparecem no meu espírito e tentam demonstrar-me “sob a aparência de bem” com muitas razões humanas, que o que Tu me inspiras e pedes é imprudente: uma loucura.

Tu, Senhor, segundo isso, foste o mais louco dos homens, pois inventaste essa insensatez da cruz.

Senhor! Ensina-me que essa insensatez é a tua prudência, e dá-me tal amor à tua pessoa para que seja eu também outro louco como Tu.”

Kiko Cardoso da Costa, animador