DICIONÁRIO DE LÍNGUA GAMBOZÍNICA

DICIONÁRIO DE LÍNGUA GAMBOZÍNICA

Gam·bo·li·ga

1. Maior liga de futebol da história

2. A Gamboliga é um grande torneio de futebol que, no início, só acontecia durante o campo, mas que tem ganho dimensão ao longo dos anos. Quando a joguei pela primeira vez, senti que era um tipo de futebol diferente do que estava habituado, não só porque jogávamos com raparigas na mesma equipa, mas também porque havia várias culturas de futebol bem diferentes da minha, rivalidades futebolísticas. Era engraçado!

Era, é e será sempre uma grande confusão. Não basta seres um grande jogador do teu bairro ou o melhor do teu colégio, se jogas num clube que passa por dificuldades financeiras ou mesmo se jogas no melhor sintético de Lisboa. Lá não importa o talento, sendo-se bom ou mau pode-se sempre ganhar uma gamboliga.

Uma das coisas que mais gosto num campo de gambozinos é acordar, sair da tenda, ir para a roda, ver a tabela de tarefas e ter a felicidade de não ter de fazer o pequeno-almoço ou lavar a louça para poder jogar a gamboliga e, melhor ainda, ter dois jogos numa manhã!

3. A Gamboliga, para mim, sempre foi um dos pontos altos dos campos, seja pelo futebol, pela emoção das apostas ou por ser um momento importante para crescer em equipa.

Não sei se por se tratar de futebol, ou por ser um jogo que dura o campo inteiro, mas sempre vi a gamboliga como o jogo mais importante do campo, aquele que mais queria vencer e ainda hoje sei em que posição a minha equipa ficou nos vários campos que fiz.

Ao longo dos anos, fui-me apercebendo de que a gamboliga não é um jogo de estrelas em que no final a equipa que tiver o maior craque ganha, mas sim um jogo de equipa, em que ganha aquela que conseguir ser mais equipa, a que tiver todos os membros a remar para o mesmo lado.

Ver também: Roda, BDS, Super-boi

Carlos (Filipino) Rodrigues & Zé Burguete

Como arranjar tempo para Jesus na confusão do dia-a-dia?

Como arranjar tempo para Jesus na confusão do dia-a-dia?

De Sophia de Mello Breyner Andresen:

“Se tanto me dói que as coisas passem,

É porque cada instante em mim foi vivo

Na luta por um bem definitivo

Em que as coisas de amor se eternizassem.”

Seguir Jesus, e, sobretudo, viver com Ele o dia-a-dia, não é fácil. É essencial tomarmos consciência desta condição, para que a fé não se limite a um adereço ou qualidade superficial. Só procurando o encontro íntimo e verdadeiro com Jesus, quer interior, quer nos outros, é que vivemos plenamente. De facto, de que vale falar, cantar ou berrar o Amor do Pai (como autênticos Gambozinos), se não temos o nome de Jesus gravado no coração?

Consola-me acreditar que esta não pode ser a questão central na construção do Reino. Somos amados por um Pai que não nos cobra em tempo, ações ou pecados. Não caiamos na tentação de dificultar a relação com Jesus, martirizando a aparência de um Deus exigente, que nos suplica o sacrifício de “arranjar tempo para Jesus na confusão do dia-a-dia”.

Este Amor, que nada pede em troca e é loucamente mais forte que tudo, convida-nos, mais do que a reservar tempos fixos de oração no caótico do quotidiano, a viver com Ele, vivê-Lo e a deixar que Ele viva em nós cada segundo, por mais insignificante que pareça. Só assim é que cada instante em nós é vivo, sempre com Jesus e para Ele, para que tudo se eternize em Amor.

Lucas Gonçalves

O poder da música nos campos

O poder da música nos campos

Animei este ano pela primeira vez e foi maravilhoso poder ver melhor que, aqui, quem quer, pega numa guitarra, num jambé ou na voz e experimenta, com a certeza de que pode tentar e falhar sem ser olhado de lado. Não é preciso saber de música para fazer música. Ou, pelo menos, é assim que se faz nos Gambozinos.

Cheguei à conclusão de que, para mim, a música une o campo de uma forma mesmo inesperada. Há tantas formas de nos deixarmos tocar pela música ao longo de um campo, que acabo sempre por me surpreender pela forma sincera como cada um encontra naturalmente a sua, e em como isso reflete a sua personalidade. Mas, no fundo, somos todos iguais. Podermos cantar algo que sentimos é libertador, sobretudo quando ao nosso lado estão mais 50 pessoas que sentem e estão a viver o mesmo que nós. Foi absolutamente magnífico quando num BDS me deixei levar pela força da música e me calei para ouvir as 46 vozes que estavam ao meu lado cantar estes versos:

“Ensina-me a ver, eu quero aprender

Sou pequeno, preciso de Ti

Dá-me a mão, canta esta canção”

Uns gritavam a letra, outros emocionavam-se, alguns sorriam uns para os outros e, os que estavam mais à vontade, cantavam de olhos fechados. Olhava à volta incrédula e com vontade, também, de cantar por ver este espetáculo de alegria e vulnerabilidade. Para mim, são estes momentos, em que a presença da música se torna um meio para sermos mais alegres e verdadeiros, que eu percebo que tudo isto só pode vir de Deus. E o melhor é que a música perdura. Acho que uma das melhores formas de guardar e lembrar um período de tempo é através da música. E durante o ano, depois de voltarmos dos campos, as músicas ficam-nos na cabeça e no coração durante semanas e semanas a fio e cantá-las é sentir o que sentimos ao longo daqueles dias. É do embalar do Boa Noite, ao fim de um dia cheio, de que sentimos saudades. Foi aquele momento contemplativo, na nossa inigualável capela, em que rezámos ao som de um dedilhado calmo, onde sentimos a Sua presença como nunca. Sonhamos voltar a estar com outros gambozinos para poder cantar mais uma vez todas as músicas que se foram cantando durante a caminhada ou no meio da roda. Queremos voltar para aqueles 10 dias em que não fomos julgados por cantar mal na missa, mas encorajados a cantar mais alto!

É realmente bom escrever e dizer que o poder da música num campo é quase inexplicável. A música está por todo o lado! Como dizia, rezamos a cantar nos tempos de oração, festejamos a cantar no meio da alegria da roda, agradecemos a cantar depois de um sketch, abençoamos as refeições a cantar, revemos e agradecemos o dia a cantar, relembramos o campismo a cantar o hino de campo, etc. Muito do património dos Gambozinos só o encontramos nestas letras que passam de geração em geração, de campo em campo e que vão deixando para trás o nome do autor, que passa a ser, simplesmente, “Gambozinos”. Não fazemos músicas para que saibam quem as fez, mas para construirmos relação, fomentarmos a liberdade, criarmos memórias e, quem sabe, mais um bocadinho de história.

Branquinha Cunha Ferreira

Noite de Fados 

Noite de Fados 

Se há evento dos Gambozinos onde se demonstra a beleza de fazer muito com pouco, esse evento é a Noite de Fados. Um clássico da associação, faz com que mais velhos e mais novos, gambozinos ou não, se juntem para um jantar bem servido, ao som de boas vozes e boas guitarras. Este ano, não fugindo à regra, a noite só foi possível graças à boa vontade de tantas pessoas e empresas que se disponibilizaram, de tantos que se quiseram sentar à mesa, e dos sempre incansáveis animadores. Foi uma daquelas noites em que a alegria de poder fazer parte foi sempre maior do que o peso da responsabilidade, maior do que aquilo que podia correr mal, maior do que os problemas que iam surgindo.

Na noite deste ano, tive a sorte de ter sido convidado para apresentador, fazendo a introdução e a conclusão, entregando os prémios das rifas – grandes prémios esses – e ir marcando os tempos do serão. Mais do que as tarefas que me foram destinadas, o grande privilégio foi poder ver de perto o amor das pessoas por este movimento. Foi poder ver a quantidade de vidas que aqui foram transformadas.

“Porque, onde estiverem dois ou três reunidos, em meu nome, aí estou eu no meio deles (Mt 18:20)”. É em Seu nome que partilhamos desta alegria, e é Ele que se faz presente há 25 anos, em cada um, naquilo que cada um tem para dar. A grandeza dos GBZ foi vista nesta noite. Não tanto no glamour da sala, do vinho, ou dos fadistas, mas mais na simplicidade e prontidão daqueles que pude ver,  na entrega e energia de todos, e nos sorrisos dos que eram servidos. De alguma forma ou de outra, mais ou menos cientes, as pessoas foram aos Fados para  “encontrar vida”. Tudo o que aconteceu nos Fados deste ano foi um espetáculo de Vida, exemplo de algo que não morre. A Vida é criada quando pessoas se juntam, celebram, cantam, saltam. A Vida não olha a critérios para quem a cria – venham todos, de onde forem!

Os Gambozinos criam e dão Vida há mais de 25 anos. Depois desta noite magnífica, não se vão ficar por aqui. Venham mais 25, mais 50, noites destas.

António Serrano

Preparação do campo serviço

Preparação do campo serviço

O fim de semana de preparação do campo é a primeira vez que os animadores sonham em conjunto o campo e é o momento em que, sem os gambozinos saberem, começa a contagem decrescente para aquele que é o ponto alto de todos os nossos verões. Pode parecer um grande clichê, mas acho que é o que melhor descreve estes dias, ou pelo menos o propósito destes.

Os animadores juntam-se durante um fim de semana para, no meio de apresentações e reencontros, se darem a conhecer uns aos outros, para perceber o que de melhor cada um tem para dar e para acima de tudo definir como acham que faz mais sentido estruturar aquele que vai ser o plano de campo. E o nosso fim de semana de serviço não foi diferente.

Juntámo-nos em casa da mamã (Joana Ló de Almeida) e no meio de muito convívio, conversas e dinâmicas começámos a pensar na melhor forma de poder fazer chegar aos miúdos o tema do ano: “ver novas todas as coisas em Cristo”. Definimos os objetivos que queríamos que definissem o campo, que fossem práticos e que fossem facilmente avaliáveis. Pensámos, em conjunto, se achávamos se fazia ou não sentido ter imaginário e novela e, se sim, de que forma é que poderíamos tornar ambos em algo que marcasse o campo e que não fosse apenas um momento de “entretenimento”, visto se tratar do último campo como animados para estes miúdos e, por isso, algo que queremos que seja memorável.

Tentámos perceber o que é que a equipa de animados mais precisava que o campo de serviço lhe desse e de que forma é que poderíamos planear cada dia de modo a poder conciliar o grande propósito deste campo – O Serviço – com as restantes dinâmicas (BTS’s, jogos, sornas, banhos no rio, caminhada, missas, momentos da noite, entre outros) que tão bem caracterizam os campos de verão e os gambozinos, sem nunca esquecer (claro) os temas que a Companhia definiu como sendo as diretrizes para cada dia.

Chegámos a domingo, dia em que cada um voltou para casa, com um plano de campo desenhado, com muitos momentos de riso, partilha e de dedicação e com uma equipa de animadores cheia de vontade para fazer este campo de serviço acontecer.

Que venha mais um verão cheio de campos de gambozinos e que consigamos ser instrumentos de Deus para ajudar os gambozinos a “verem novas todas as coisas em Cristo”.

Maria Portugal

Minicampo Norte

Minicampo Norte

O minicampo do Norte, mais do que divertido, foi algo necessário tanto para animadores como animados, podendo-se até dizer que foram uns 5 dias terapêuticos.

Com a quarentena as nossas interações socias tornaram-se muito fracas e até os mais novos parece que se esqueceram de como se brinca. Então, com esse foco, este campo foi muito valioso porque, mais do que amizades e aventuras, eles reaprenderam a socializar e a brincar.

Contudo e felizmente, não foi apenas isso. Nestes 5 dias, Deus esteve presente de uma maneira fantástica quando a decisão de separar os momentos de oração em dois “escalões” – os mais velhos (14-17) e os mais novos (8-13) – deu liberdade a descobertas e partilhas que alguns de nós não estariam à espera de ouvir vindas de miúdos tão novos. Foram partilhas e momentos assim que nos mostraram que hoje em dia estes miúdos já têm uma certa maturidade que não estaríamos muito à espera. Ao mesmo tempo, vemos também que são tão loucos da cabeça quanto são maturos pois, quando chega a hora de ir para a roda lançar um aplauso ou jogar, eles participam como doidos e jogam, cantam, saltam e acabam com um sorriso que não dá para medir nem para olhar sem sorrir também. E essa é uma das partes mais gratificantes de ser animador, podemos estar estafados com apenas um punhado de horas de sono e a cabeça a mil, com barulho e músicas cantadas a plenos pulmões, contudo, quando vemos um sorriso assim ou um miúdo vem ter connosco e nos agradece pelo jogo e pede “só mais um”, isso faz com que tudo valha a pena. Foram pequenos momentos assim que me marcaram no meu primeiro minicampo como animador, a visão de inúmeros campos como animado mudou completamente após ver o outro lado, depois de 5 dias finalmente percebi o porquê de escolher os Gambozinos, o porquê de escolher ser animador. Os pequenos momentos foram os mais importantes e acho que isso marca tanto animados como animadores: uma conversa na roda, um comentário durante um jogo, um aplauso lançado, um momento alternativo ou talvez o “Boa Noite” cantado com mais força que eu já vi em 12 anos de Gambozinos.

Para não esquecer, foi também o Domingo de Ramos e a Via Sacra, dois momentos em que Deus se fez sentir, desde o empenho e dedicação que os Gambozinos mostraram a preparar espaços para a missa ou a ensaiar as estações da Via Sacra, até à própria Via Sacra e a missa celebrada pelo nosso querido Missé que acho que deixou nos a todos a ver o Domingo de Ramos de uma maneira com mais amor e alegria, a que Jesus tinha por nós.

Na última noite, um arraial do Norte foi preparado por equipas de animados e animadores que em poucas horas montaram uma festa que me lembrou as noites de arraial na aldeia. O orgulho com que os mais novos mostraram as suas bancas ou os sketches que prepararam, com as piadas que inventaram, mostraram que até os mais reservados estavam numa alegria demasiado grande para conter, e isso mostrou-se quando as luzes apagaram e o espetáculo de luzes feito pelos animadores começou. O que era para ser uma dança com “glow sticks” acabou por parecer um “concerto néon” em que toda a gente cantava o hino do minicampo enquanto abanava as luzes e saltava de um lado para o outro. Enquanto todos esperávamos o cansaço, os gambozinos mostraram o contrário e em uma só voz cantavam com toda a energia que tinha e provaram a todos que os gambozinos são mesmo “locos de la cabeça”.

E foi assim que, desde Gamboligas agitadas a histórias partilhadas, o minicampo do norte de 2022 se tornou um momento para guardar no coração.

João Macieira