Pequena Teresa, aquilo que aprendo de ti

Que amor é dar tudo e depois, tendo nada, dar-se. Dar-se até ao lugar das mãos vazias. Que o colo é o lugar da subida. Lugar onde escolho o amor à virtude. Que é fácil ser santo: basta a pequenez.

Que amor é dar tudo e depois, tendo nada, dar-se. Dar-se até ao lugar das mãos vazias. Que o colo é o lugar da subida. Lugar onde escolho o amor à virtude. Que é fácil ser santo: basta a pequenez.

Pequena Teresa, aquilo que aprendo de ti, vejo-o, não é meu. Ultrapassa-me e contraria-me, mas é um nó cego dado entre as minhas mãos instáveis e as tuas mãos vazias. Inesperadamente vejo que a tua amizade é uma força misteriosa e, sem compreender os caminhos daquele que os amanhece, dispõe e aponta, vejo como Ele te ofereceu a mim. Mais ainda, como ele me oferece o teu abrigo. Como mostras estar perto e guardar aqueles que amo. Acredito na tua promessa de passares o céu a fazer o bem na terra. Nas tuas palavras quando, perto de encontrares aquele que o nosso coração ama, disseste que estava agora para começar “a missão de dar às almas o meu pequeno caminho”.

Tenho aprendido de ti que há esse “pequeno caminho muito direito, muito curto; um pequeno caminho completamente novo”. “Caminho de confiança e amor” onde pus um pé e outro pé. Onde devo agora perder os passos e estender os braços para que só o pai me leve ao colo.

Que não ver nenhuma luz é como quando o silêncio basta. E que aquilo que basta pode ter o peso de uma falta, reclamar uma ausência. Aí, nesse tempo obscuro em que a tempestade atinge a barca e o Amado dorme à proa dos destinos, a fidelidade é o lugar de ser posto no crisol. A perseverança é ser consumido até ao ouro.

Mas o Amado está no crisol e está no ouro. No crisol, oculto e silencioso. No ouro do mesmo modo: só os meus olhos aprenderam a arder.

Há quem siga pela escada das virtudes, a esforço, na ilusão de ganhar o céu a músculo. Não, não devo. Devo, sim, a confiança e o abandono: a queda como lugar de ascensão.

Que um dia semeei uma lâmpada: agora preciso escavar a luz – há um fruto que cresce encoberto e pode bem ser o suor dos dias.

Que o colo é o lugar da subida. Lugar onde escolho o amor à virtude.

Há quem siga pela escada das virtudes, a esforço, na ilusão de ganhar o céu a músculo. Não, não devo. Devo, sim, a confiança e o abandono: a queda como lugar de ascensão.

Imagino então a extensão dos braços, uma criança erguida como quando a chuva regressa ao berço das graças depois de regar a terra. Uma criança embalada na torrente que sobe.

Que virtude, que músculo ou que grandeza tem ela? No entanto, sobe. Mais veloz que os homens pesados pela fibra da virtude. Sobe porque o pai a eleva. Que mal há no cansaço de trocar as escadas pelo ascensor? “O ascensor que me eleva ao céu são os teus braços, ó Jesus!”

Que o Amado não vem procurar a nossa virtude. Seria como se a Fonte viesse matar a sede a um poço seco. Tudo o que podemos é o amor do cântaro vazio. E isso basta.

Que o Amado não vem procurar a nossa virtude. Seria como se a Fonte viesse matar a sede a um poço seco. Tudo o que podemos é o amor do cântaro vazio. E isso basta.

“É fácil agradar a Jesus, encantar o seu coração. Basta amá-lo sem olhar para nós mesmos, sem examinar demasiado os nossos defeitos”. Que erro seria contar as minhas obras como quem guarda notas na carteira. Sei como Ele te ensinou a não contar, “a fazer tudo por amor, a não lhe recusar nada, a ficar contente quando ele me dá uma ocasião para lhe mostrar que o amo”. E que isto se faz no abandono. “É Jesus que faz tudo e eu não faço nada.”

Que amor é dar tudo e depois, tendo nada, dar-se. Dar-se até ao lugar das mãos vazias.

Tu tens-me mostrado como a glória da árvore é não guardar frutos.

Que o caminho da vida é ser desfolhado como quem floresce.

Que se não tiver onde reclinar a cabeça posso ser o ombro.

Pouco a pouco percebo, amiga, porque me dizes para ser pequeno. Que é fácil ser santo. “Basta reconhecer o próprio nada e abandonar-se como uma criança nos braços de Deus.”

Basta a pequenez: ela atrai os braços do Amado.

Que um dia posso entrar pela tua mão no reino dos pequenos. Passar à larga pela porta estreita. É larga a porta para quem deixa que o amor consuma a vida.

Que aí terei, junto a ti, um lugar como um degrau de mármore onde nos sentarmos aos pés do pai. Lugar onde ele há-de descansar a mão nas nossas cabeças como quem desenha tranças e bênção.

 

* As citações entre aspas (“”) são retiradas de textos de Santa Teresa do Menino Jesus, presentes em Santa Teresa do Menino Jesus, Obras Completas (Edições Carmelo, 1996).

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.