A alegria é a coisa mais séria da vida

Não compreendo um cristianismo que não reconhece a paz e a alegria não só como frutos da ressurreição, mas também como caminho direto para o encontro com Cristo.

Não compreendo um cristianismo que não reconhece a paz e a alegria não só como frutos da ressurreição, mas também como caminho direto para o encontro com Cristo.

Bigodaram o Almada. Houve alguém que não percebeu que a coisa, essa coisa da alegria, era séria. PIM

Vamos por partes. Vamos ao fundamento.

Jesus ressuscitou! E isso traz frutos deliciosos que não podemos descurar.

Entre muitos, o Senhor da vida traz-nos a paz e a alegria.

Foi isso que mais uma vez confirmei em dois momentos.

O Cantinho da Paz

Fui no outro dia em regime de Sábado Santo ao túmulo de Jesus. É em Lisboa e é cantinho de paz. Come-se muito bem, em tom goês, e vale a pena uma visita. Daquelas com boa companhia, como se faz quando se vai visitar Jesus.

Assim foi.

Íamos em busca não sei bem de quê. De encontro certamente. E a pergunta era como é que realmente iríamos tirar a pedra que sabíamos existir para que encontrar a ressurreição fosse possível. Entrámos e fomos acolhidos pela Ana, toda ela delicadeza natural, fruto de uma genética bem desenvolvida por muitos anos. “Esse é o cantinho de paz que vos está destinado” – disse ela.

E foi, como fruto da ressurreição, o que nos foi concedido. Contámos a cada um a sua versão da história, sem esconder a dor, o abandono, a fragilidade. Vimos a cruz. Apareceu outra. Trocámo-las, deixámos que o outro a contemplasse. Foi possível tocar na cruz de cada um. Na dor, mas sobretudo na doação.

“A bebinca é prova da existência de Deus, sabias?” Não sabia, mas fiquei a saber porque é experiência de ressurreição e isso transforma a cruz em sentido. Sentido para acolher a paz do cantinho. Por isso, Jesus ressuscitado insiste tantas vezes: “A paz esteja convosco!” E repete a doação: “A paz esteja convosco.”

Recebemo-la como fruto daquela refeição. Pudemos deixar o Cantinho da Paz porque aí há vida, porque a Lina corta a cebola ao mesmo ritmo que bate o coração, porque aí não se esquece a história, nem a sabedoria acumulada, nem a dor. E porque essa paz se estende ao mundo inteiro.

Onde há paz, aí está o Senhor a ressuscitar.

Viva Jesus Cristo, Senhor e Rei da Paz!

A Arcada da Alegria

Dias mais tarde passei diante do Almada que dizia que a alegria é a coisa mais séria da vida. Não o levaram a sério. E PIM!

Pensaram que uma graçola, feita à conta de um bigode mal aparado com lata de spray, iria trazer muita alegria. Mas não. Porque essa não é a alegria do ressuscitado. A alegria de Jesus é serena e profunda, e não prefere as vias jocosas. Vem de uma promessa que se faz presença de quem nos precede na Galileia. E isso é coisa muito séria.

Por isso, não compreendo um cristianismo que não reconhece a paz e a alegria não só como frutos da ressurreição, mas também como caminho direto para o encontro com Cristo. Um cristianismo de fiéis trombudos, pessimistas, causadores de divisão, que deixam pior do que quando chegaram quem esteve na sua presença. Não levam a sério o sepulcro vazio. Não deixam que os frutos da ressurreição entrem na sua vida.

É que a ressurreição apesar de ser uma realidade que se impõe, pode ser ignorada ou menosprezada. Por isso, para ser assumida, tem de se optar pelos seus frutos. A alegria e a paz não são só graças que caem do céu. São opções de quem quer viver a ressurreição de Jesus. E isso é a coisa mais séria da vida.

Boa Páscoa! Boas opções!

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.