Um Livro Cinzento para tornar mais bela a eucaristia

Publicação teve origem no projeto LabOratório e apresenta música litúrgica influenciada por vários estilos, desde a Broadway a músicas próprias de uma catedral, ou melodias de timbre coral, erudito, indie e tradicional, fado, jazz ou pop.

A Editorial Frente e Verso acaba de lançar o Livro Cinzento, uma publicação que teve origem no projeto LabOratório, uma iniciativa de um conjunto de jesuítas e leigos, que consistiu numa semana intensiva de formação em música litúrgica, num espírito de oração e de vida comunitária.

Este livro reúne músicas de vários compositores, todos com o mesmo objetivo: ajudar a tornar mais belas, através da música, as celebrações da Eucaristia. O Livro Cinzento apresenta música litúrgica influenciada por vários estilos, desde a Broadway a músicas próprias de uma catedral, ou melodias de timbre coral, erudito, indie e tradicional, bem como composições dirigidas a um público infantil ou influenciadas por géneros musicais como o fado, o jazz e o pop.

Esta variedade de estilos pretende demonstrar como a diversidade não é um obstáculo para celebrar a unidade da fé no Deus uno e trino. Antes pelo contrário, a diversidade musical, se discernida dentro do espírito da liturgia, é condição de beleza e unidade.

O Ponto SJ publica agora a introdução deste livro, onde se expõem os propósitos da obra.

 

Introdução

A melodia está escrita no papel mas também no sentimento daqueles que a cantam. Por isso, a melodia não é apenas discurso musical, é também a voz que a canta e o mundo que dela se projeta. A partitura não se limita a um código ou expressão artística, é também um temperamento da vontade, uma impressão da imaginação. O mesmo acontece na liturgia. A liturgia não se limita a um conjunto articulado de palavras e gestos externos em tempos determinados, mas abrange também os ritmos do mundo invisível que a todos nos une, o mundo interior e anterior dos afetos. Há, portanto, uma relação profunda entre o som da palavra e o silêncio da intenção. Deste modo, a letra da liturgia é o berço onde se desenvolve o coração crente e vice-versa (cf. Dei Verbum 8). A Igreja resumiu esta colaboração na palavra ‘participação’.

Por esse motivo, o labOratório contou com a participação de vários músicos que, influenciados por diversos estilos musicais, compuseram as várias peças litúrgicas que integram este Livro Cinzento. Desde música que participa do estilo de Broadway a músicas próprias de uma Catedral, ou melodias de timbre Coral, Erudito, Indie e Tradicional, bem como composições dirigidas a um público Infantil ou influenciadas por géneros musicais como o Fado, o Jazz e o Pop… tudo isto integra o vasto mosaico de músicas que compõe este livro. Deste modo, estes estilos musicais, como representantes das várias culturas subjetivas do nosso mundo, participam da linguagem da fé e da cultura num clima de grande colaboração.

O que desejamos com esta variedade de estilos é demonstrar como a diversidade não é um obstáculo para celebrar a unidade da fé no Deus uno e trino. Antes pelo contrário, a diversidade musical, se discernida dentro do espírito da liturgia, é condição de beleza e unidade.

Em termos práticos, este cancioneiro organiza-se em duas partes. A primeira parte reúne um conjunto de sínteses de vários dos ateliês apresentados durante a 2ª edição do labOratório, em 2019. Deste modo, participantes e leitores poderão encontrar, em poucas linhas, o essencial dessas comunicações que, esperamos, servirá de incentivo para um aprofundamento posterior destas temáticas. De facto, o labOratório pretende estimular o desejo de mais formação, seja ela musical, teológica ou espiritual. Os textos aqui apresentados exploram, em jeito de aperitivo, a relação entre Liturgia, Poesia, Espiritualidade e a Música.

Em Portugal têm-se multiplicado ótimas publicações de música litúrgica. As revistas Salicuse Libellus, as antologias de música litúrgica de vários compositores recentes (Carlos Silva, Manuel Luís, apenas para mencionar alguns), os livros editados pelo Secretariado Nacional de Liturgia, assim como os cancioneiros lançados por diversas congregações e movimentos: tudo isto constitui um grande património que nem sempre chega aos ouvidos e vozes das comunidades. Contudo, por definição, um cancioneiro litúrgico será sempre um livro desatualizado: será sempre necessário procurar novas gramáticas para traduzir a experiência de Deus, pessoal e comunitária.

O (pequeno) contributo do labOratório tem dois eixos. De um ponto de vista prático, oferece-se aqui um repertório novo considerável. Realmente, a segunda parte do livro, mais extensa, reúne cerca de 90 composições, escritas por mais de 20 autores de idades e estilos musicais bastante diversificados. Trata-se, por isso, de um cancioneiro bastante eclético, que pode servir a públicos/ comunidades com sensibilidades musicais bastante variadas. Ainda assim, imaginamos que o contributo mais relevante do labOratório seja também o seu aspeto mais intangível: o de gerar entusiasmo para a procura de novas linguagens musicais e poéticas que nos ajudem a rezar, bebendo das fontes da tradição eclesial e artística (popular e erudita).

No fundo, este livro é sobretudo um convite para que também outros (movimentos, paróquias, dioceses) organizem os seus próprios laboratórios de música litúrgica, e que esses sejam lugares de uma experiência espiritual e eclesial alegre, profunda e aberta à diversidade.