Web Summit 2017: Igreja e cultura empreendedora

Para a sociedade portuguesa em geral, e para cada um de nós em particular, o Web Summit é um convite a olhar para o futuro como algo que espera de nós.

Podemo-nos orgulhar do nosso país quando Lisboa se torna no palco de um evento com a importância do Web Summit. Mas seria pouco, se nos ficássemos apenas pelo orgulho. Descontando a fachada própria do mediatismo inevitável em eventos desta dimensão, há ali uma cultura empreendedora que nos desafia positivamente.

O sucesso de algumas starts-up portuguesas, que se fizeram presentes, pode ser um estímulo para que cada um assuma a sua quota parte de responsabilidade na construção do futuro. Criando novos produtos e novas atividades económicas, estas pequenas empresas provam que há lugar para novos projetos, cuja realização envolve e afeta positivamente muitas pessoas. Não que esse lugar esteja já lá, a priori, sem que nada se faça para o encontrar. Não se trata, aliás, de encontrá-lo, mas sobretudo de o criar, de o construir.

Para a sociedade portuguesa em geral, e para cada um de nós em particular, o Web Summit é um convite a olhar para o futuro como algo que espera de nós. Algo que espera os frutos dos talentos, da originalidade e do esforço de cada um. O Web Summit está cheio de pessoas que não ficam apenas à espera que as coisas aconteçam, que a riqueza se produza e que a justiça se faça. São homens e mulheres que têm a ousadia de fazer tudo isso por si mesmos, unindo-se em torno de projetos comuns, sem se refugiarem em paternalismos que nos desresponsabilizam.

Se esta cultura empreendedora pode estimular positivamente a sociedade em geral, os crentes, em particular, também podem tirar dela muito fruto. Para quem acredita na presença e na ação de Deus no mundo, esta cultura empreendedora poderá contribuir para uma certa purificação da noção de Providência. Deus não nos oferece apenas o futuro. Ele confia o futuro nas nossas mãos a partir do presente em que nos situamos.

Segundo uma célebre máxima atribuída a Santo Inácio de Loiola, cada um de nós é chamado a agir como se tudo dependesse de si mesmo, tendo porém consciência que, na verdade, tudo depende de Deus. A cultura empreendedora estimula-nos a pôr em prática esta máxima: empenhar-nos como se a construção do futuro dependesse apenas de nós, e confiar como se dependesse totalmente de Deus; é Ele que nos confia a vida, os projetos, os talentos e assim o futuro. Confiar em Deus desta forma anima-nos a acreditar nas nossas capacidades e a realizar os nossos projetos.

Nesse sentido, é justo referir o Click To Pray, da Rede Mundial de Oração do Papa (Apostolado da Oração). Esta aplicação original teve direito a ser apresentada no palco principal do Web Summit, em conjunto com duas centenas de projetos premiados. Eis um exemplo de uma Igreja que procura acompanhar o progresso social e tecnológico. Uma Igreja que, pela criatividade dos seus membros, consegue habitar o mundo digital, criando novas formas para a prática religiosa a partir das novas tecnologias.

Desde que seja vivido pela positiva em busca da afirmação de valores próprios, desde que se evite uma concorrência negativa que procura, sobretudo, bloquear alternativas de outros agentes económicos, o espírito empreendedor pode e deve ser fonte de novos lugares por onde passa o futuro.

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.