No reinado de D. João V era enorme a importância diplomática que tinha a relação com a hierarquia máxima da Igreja Católica. A música foi utilizada como um meio de fazer diplomacia, são disso exemplo obras musicais patrocinadas pelas autoridades portuguesas radicadas em Roma. A música foi um dos meios utilizados para promover e consolidar o poder da Dinastia de Bragança.
O célebre compositor italiano Alessandro Scarlatti (Palermo, 1660 – Nápoles, 1725) compôs em 1721 a cantata Lavirtùnegliamori, patrocinado pelo embaixador português em Roma, André de Mello e Castro. A encomenda a Alessandro Scarlatti teve como objetivo celebrar a recente nomeação do Papa Inocêncio XIII, que vivera em Portugal entre 1697 e 1710, onde desempenhou funções de Núncio Apostólico. De entre muitas outras composições de Alessandro Scarlatti, importa referir a cantata La Ninfa delTago (A Ninfa do Tejo), também datada de 1721, encomenda do cardeal D. Nuno da Cunha de Ataíde. Nesta cantata, a figura da ninfa representa a relação próxima entre Lisboa e Roma, entre o Tejo e o Tibre. Estas composições transportam-nos até à corte de D. João V, o rei que em 1709 desposou Maria Ana de Áustria e que tomou Itália como principal referência no domínio da música.
Domenico Scarlatti (Nápoles, 1685 – Madrid, 1757), filho de Alessandro Scarlatti, acabou por usufruir dos contactos do pai e do interesse da corte portuguesa pela música e músicos italianos. Domenico nasce no mesmo ano em que nasceram dois outros grandes mestres da música, J. S. Bach e G. F. Händel. Domenico foi o sexto de dez filhos. Entre 1701 e 1709 foi organista na capela Real de Nápoles, em 1709 muda-se para Roma paras servir a rainha Polaca que aí se encontrava em exílio. No mesmo ano, 1709, propuseram a Scarlatti uma competição com Händel, ambos os músicos demonstraram tanto virtuosismo que o concurso terminou com um empate. O virtuosismo de Scarlatti era tal que um ouvinte de um dos seus concertos afirmou que dentro do cravo se encontravam mil diabos, tal era a chama que saía daquele génio. No final do ano 1719 Domenico vem para a corte portuguesa para ensinar a infanta Maria Bárbara, filha mais velha do rei D. João V, e as aulas tinham lugar no Paço da Ribeira em Lisboa. No ano de 1728 foi nomeado Mestre de Capela da Corte Portuguesa.
À semelhança do pai Alessandro, Domenico dedicou a sua atividade inicial de compositor ao género operático. A sua carreira começou aos dezasseis anos, em Nápoles, com a produção das óperas Ottavia Restituita al Trono e Il Giustino. Hoje é sobejamente conhecido como compositor de música para tecla. As suas mais de quinhentas sonatas testemunham a extraordinária capacidade de composição e de execução que fizeram dele um dos mais virtuosos cravistas do chamado barroco tardio e uma das maiores influências do classicismo. Scarlatti foi o criador da técnica moderna dos instrumentos de teclado e a sua influência prolonga-se até Liszt. Chopin, Brahms, Bartok e Shostakovich citaram as sonatas de Domenico Scarlatti como uma enorme influência de inspiração.
Hoje é sobejamente conhecido como compositor de música para tecla. As suas mais de quinhentas sonatas testemunham a extraordinária capacidade de composição e de execução que fizeram dele um dos mais virtuosos cravistas do chamado barroco tardio e uma das maiores influências do classicismo.
Além de cerca de 555 sonatas para instrumentos de tecla, escreveu 12 óperas e um intermezzo, uma missa a 4 vozes, alguns motetes, oratórios, serenatas e cerca de 50 cantatas de câmara.
A Infanta Maria Bárbara casa em 1729 com o príncipe das Astúrias (filho de Filipe V), Scarlatti aceita acompanhar a Infanta e passa o resto dos seus dias em Madrid na qualidade de Mestre de Capela (1729 – 1757). Durante os vinte e oito anos que viveu em Espanha, apesar da proteção de Maria Bárbara, a sua vida material foi complicada devido à sua paixão pelo jogo.
A importância da passagem de Domenico Scarlatti por Portugal foi tão marcante que José Saramago fez dele personagem do seu livro “Memorial do Convento”.
Hoje ainda vivem em Portugal descendentes de Domenico Scarlatti.
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* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.