O tema da conciliação família trabalho é, provavelmente, um dos mais “quentes” para pais com filhos pequenos. A nossa geração padece de um mal de querer fazer tudo bem – queremos ser bons profissionais, subir na carreira e ter sucesso, chegar a cargos de responsabilidade enquanto somos igualmente excelentes líderes, e ao mesmo tempo queremos ser pais e mães ultra dedicados, sempre presentes e atentos aos seus filhos, sem falhar nenhuma reunião da escola, festa ou momento importante das suas vidas.
O justo equilíbrio entre o tempo que investimos no nosso trabalho e o tempo que dedicamos aos nossos filhos e família é dos malabarismos mais complexos que temos de executar nas nossas vidas. Mas, ao menos, sabemos que uma coisa é certa: não há fórmulas exatas e não há modelos perfeitos.
O justo equilíbrio entre o tempo que investimos no nosso trabalho e o tempo que dedicamos aos nossos filhos e família é dos malabarismos mais complexos que temos de executar nas nossas vidas. Mas, ao menos, sabemos que uma coisa é certa: não há fórmulas exatas e não há modelos perfeitos.
Na nossa família temos um pequeno laboratório de experiências onde pudemos e quisemos testar vários formatos. Nos últimos 10 anos, e com o nascimento de cada um dos nossos filhos, experimentámos ter uma pessoa contratada em casa para cuidar de um, uma ida para a escola mais cedo de outro, pousámos um tempo no formato “mãe a tempo inteiro” (à falta de melhor expressão, porque todas as mães são mães o tempo todo), depois foi modelo de mãe em part-time, até voltar ao mercado de trabalho e estar agora como a maioria das mães, a trabalhar a full-time e a gerir as mil-e-uma tarefas de casa e da escola, além do trabalho. E a pergunta que não quer calar é: qual correu melhor? Pois bem, nem eu sei responder.
Acontece que acredito em soluções à medida de cada momento, do que me é pedido e da situação que vivo. Nem a vida é estanque nem as nossas decisões têm de o ser. Nos vários momentos experimentei grande felicidade e encontro, mas também me questionei muito sobre as decisões tomadas, sobretudo a de deixar de trabalhar para acompanhar durante um tempo os meus filhos. A sociedade é dura com quem sai do percurso normativo e a solidão de quem está em casa pode ser avassaladora. Acabei por perceber que uma mãe desencontrada, com muito tempo e disponibilidade, era pior que uma mãe feliz e realizada com pouco.
Decidi regressar ao trabalho, arregaçar mangas e encontrar o meu lugar no mundo profissional. E, quando começaram a surgir dúvidas se conseguiria acompanhá-los da mesma maneira e ter a mesma disponibilidade para as necessidades deles, tropecei num estudo que me apaziguou e fez perceber que estava no caminho certo.
O artigo “Como as nossas carreiras afetam as nossas crianças”, publicado na Harvard Business Review por Stewart D. Friedman, fala-nos sobre o impacto das nossas carreiras na saúde mental e, consequentemente, na felicidade dos nossos filhos.
Grande parte da investigação avalia aspetos relativos à vida profissional dos pais: se trabalham ou não, se trabalham a full ou part-time, quanto tempo passam no trabalho, entre outros. No entanto, também foram avaliadas questões como a importância dada pelos pais à carreira e à família, a interferência psicológica do trabalho na vida familiar (ou seja, os pais estarem a pensar em trabalho enquanto estão com os seus filhos), o envolvimento emocional nas suas carreiras e o controlo que os pais têm acerca das suas condições de trabalho. Todos estes aspetos se relacionam com problemas comportamentais que as crianças podem apresentar, indicadores chave da sua saúde mental.
De entre várias descobertas e informação relevante, referem que a saúde emocional das crianças é maior quando os pais e mães acreditam que a sua prioridade é a família, independentemente da quantidade de tempo que passam no trabalho. O mesmo acontece quando os pais acreditam que o trabalho é uma fonte de desafios, criatividade e prazer, novamente independentemente do tempo que passam a trabalhar. E, não surpreendentemente, indicam que as crianças também apresentam melhores avaliações quando os pais são capazes de estar fisicamente com elas. Ou seja, pais que conseguem estar presentes, sem distrações e sem interferências externas.
De entre várias descobertas e informação relevante, referem que a saúde emocional das crianças é maior quando os pais e mães acreditam que a sua prioridade é a família, independentemente da quantidade de tempo que passam no trabalho. O mesmo acontece quando os pais acreditam que o trabalho é uma fonte de desafios, criatividade e prazer, novamente independentemente do tempo que passam a trabalhar.
Percebeu-se que as crianças têm, no entanto, maior probabilidade de apresentar problemas de comportamento quando os seus pais estão muito envolvidos psicologicamente nas suas carreiras, trabalhem ou não muitas horas. Também a indisponibilidade cognitiva durante os tempos de família e de descanso – ou a distração digital com dispositivos que nos ligam ao trabalho – foi relacionada com crianças com maiores problemas emocionais e comportamentais.
Por último, o estudo refere a importância de outros aspetos, como a satisfação e bom desempenho dos pais no trabalho ou o tempo que dedicam ao autocuidado, que têm mais relevância e impacto no bem estar dos seus filhos do que necessariamente o tempo que lhes dedicam.
Nem sempre nos sentimos realizados nos nossos trabalhos. Muitas vezes os problemas ou preocupações absorvem-nos e é difícil desligar quando estamos com os nossos filhos. Há dias em que a exigência da responsabilidade absorve-nos tanto que confundimos o que é prioritário. Mas podemos e devemos lembrar-nos que a família é a nossa maior missão e os nossos filhos o maior e melhor legado que deixamos no mundo. O resto é apenas a espuma dos dias. Concentremo-nos, por isso, em dar a importância adequada às nossas carreiras, a investir em formas criativas de estarmos com os nossos filhos e de nos fazermos verdadeiramente presentes.
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.