“João, acorda! Está na hora… não te atrases”
“Hummm… mãe, só mais um bocadinho…”
“Que seca… Porque é que temos que ir já para as aulas? As férias foram tão curtas… parece que começaram ontem… Será que vou ter os mesmos professores? Até era bom que mudassem a stôra de Inglês… e como estará a DT? Espero que venha mais animada, porque no final do ano passado estava mesmo farta de nos aturar… vamos ver se este ano alinhamos um pouco mais nas propostas que ela nos faz… até é fixe! Será que arranjaram as persianas que estavam estragadas? Ficava mesmo calor dentro da sala… Ainda não tenho os livros todos… quando será que já veio o livro de história? E começar outra vez a ter TPCs…”
“João, despacha-te! Queres chegar atrasado, logo no primeiro dia!?”
“Vi no Insta que a Maria está mais alta e o Rafael mais cabeludo… Será que haverá apresentação em todas as aulas? Alguns professores começam logo a abrir, a dar matéria!… Nem nos deixam respirar. Estou com vontade de voltar à Matemática, espero que este ano avancemos mais depressa… o Diogo está sempre a atrasar, com dúvidas… vai ser fixe ver a malta outra vez, saber o que fizeram nas férias… E voltar a combinar jogos online! Vou insistir com o pai para me dar o novo comando da Play… Será que continuam os mesmos no futebol? O Paulo, da C, tem a mania que é craque e nunca passa a bola… espero que este ano ganhemos mais jogos. O ano passado foi um pouco desastre. E voltar a almoçar no refeitório… bahhh…”
Passam ao lado do João e dos colegas todas as questões políticas que, em cada novo ano letivo, assombram os estabelecimentos de ensino: a falta de professores, a inovação pedagógica, a construção dos horários, a alteração dos currículos… para o João e os seus amigos, o que querem é voltar a encontrar-se, nesse espaço onde podem conviver, partilhar, brincar.
O João regressou às aulas. Como tantos alunos e alunas de norte a sul do país. A ansiedade com “o primeiro dia” é sempre uma constante… reencontrar os colegas, os funcionários e os professores, depois de um tempo longo sem se verem. Por um lado, sente-se a necessidade de uma nova rotina diária, por outro, deixar o tempo livre infinito, custa sempre! As dúvidas de como será a organização escolar do novo ano é a grande incerteza: como se organizam as turmas, que professores mudam, como serão os horários, se renovaram a sala de aula… entre a curiosidade e o tédio, lá vão todos de volta a essa comunidade de aprendizagem que, para uns, será a mesma, e, para outros (os que mudam de ciclo, ou de escola) terá novas turmas e professores. As dúvidas sobre as relações, os amigos, os grupos… já que a socialização é um dos aspetos centrais da vida escolar.
Passam ao lado do João e dos colegas todas as questões políticas que, em cada novo ano letivo, assombram os estabelecimentos de ensino: a falta de professores, a inovação pedagógica, a construção dos horários, a alteração dos currículos… para o João e os seus amigos, o que querem é voltar a encontrar-se, nesse espaço onde podem conviver, partilhar, brincar.
Já os pais também têm adaptações a fazer. O regresso às rotinas diárias, as quais dão estrutura ao dia-a-dia familiar, está entre as mais importantes. Voltar aos horários, às boleias para as atividades, a uma articulação equilibrada entre o trabalho e a família… A escolha das atividades extra-curriculares dos filhos é sempre um quebra-cabeças, desde a catequese à música, do desporto ao inglês… Muitos pais mais atentos preocupam-se também com as alterações propostas pelas escolas, algumas do seu agrado, outras nem tanto. De facto, muitas vezes, confia-se na escola para que “eduque” os filhos, confiando cegamente nos seus critérios e organização. Outras vezes, é necessário marcar uma entrevista com o(a) Diretor(a) de Turma, para resolver algum problema… mas, se tudo correr bem, nem é necessário conhecê-lo(a).
No primeiro dia de aulas, há um misto de ânimo e curiosidade, de perplexidade e temor. Na cabeça dos mais novos pairam sobretudo aquelas relações que os inquietam, seja de colegas, seja de adultos, as quais não os deixam em paz. Mas pairam igualmente aquelas relações que lhes dão segurança, os seus amigos. O convívio diário com eles acaba por fazê-los tolerar e ultrapassar aquilo que não corre tão bem. As batalhas com o estudo irão gerar igualmente algum stress, pela competitividade das notas e pelo esforço que sabem ser necessário para alcançar o sucesso escolar. Porém, no primeiro dia, há um mundo de novidades que os alienam desses problemas, sabendo que, no fundo, aquela continuará a ser a sua comunidade de aprendizagem, para o melhor e para o pior. Aí continuam a ser chamados a crescer, a aprender coisas novas, a lidar com os fracassos e a alegrar-me com as vitórias!
“João!! Quantas vezes preciso de te chamar! Começamos mal…”
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.