O estado do Estado

A destruição de riqueza tem sido e continua a ser enorme, em Portugal. Destruímos mais riqueza do que aquela que conseguimos construir.

Olhamos para trás e nem queremos acreditar naquilo que vemos no espelho retrovisor da vida social, política e económica de Portugal, nas últimas décadas: corrupção omnipresente e impune; enorme destruição de valor, através do desmantelamento de grandes empresas; crimes e gestões danosas em bancos, com grave prejuízo de investidores e de contribuintes; líderes políticos indiciados e condenados por crimes graves; gestores e banqueiros que agiram criminosamente.

Na realidade, quando nos pomos a pensar no que tem ocorrido em Portugal e tem contribuído para atrasar o nosso desenvolvimento e para nos empobrecer, lembramo-nos de tanta coisa negativa: o desmantelamento da Portugal Telecom, uma empresa portuguesa, com conhecimento e tecnologia portugueses, que se encontrava na vanguarda da investigação e da inovação; a diluição da Cimpor, uma companhia multinacional, de base portuguesa, na área do cimento; os crimes cometidos nos Banco Privado Português, Banco Português de Negócios, Banco Espírito Santo e Caixa Económica Faialense; as gestões danosas na Caixa Geral de Depósitos, Banco Internacional do Funchal e Banco Comercial Português; o que se está a passar na TAP e na EDP e se passou na CP; a gestão dos financiamentos europeus, desde a adesão de Portugal à, então, Comunidade Económica Europeia; a gestão da nossa dívida pública; etc.

Quando utilizamos uma máquina de calcular e adicionamos todas as parcelas relativas às consequências que aqueles (e outros) exemplos tiveram, têm e continuarão a ter, para os contribuintes portugueses, facilmente chegamos a um valor astronómico de dezenas e dezenas de milhares de milhões de euros.

Quando utilizamos uma máquina de calcular e adicionamos todas as parcelas relativas às consequências que aqueles (e outros) exemplos tiveram, têm e continuarão a ter, para os contribuintes portugueses, facilmente chegamos a um valor astronómico de dezenas e dezenas de milhares de milhões de euros. Números que não cabem no mostrador de qualquer máquina de calcular, tal é o número de zeros que comportam.

Por outro lado, verificamos que muitos daqueles que nos lideraram, nas política, economia e sociedade, estão, hoje, confrontados com a Justiça.

A destruição de riqueza tem sido e continua ser enorme, em Portugal. Destruímos mais riqueza do que aquela que conseguimos construir. Nestas circunstâncias, por vezes, pensamos no que poderia ter sido feito com tantos milhares de milhões de euros que deitámos para o lixo da incompetência, da corrupção e do crime organizado: (i) construídas habitações condignas para todos os portugueses; (ii) garantir um médico de família a cada cidadão; (iii) edificar uma rede de hospitais modernos, diferenciados e qualificados; (iv) aumentar o apoio social escolar, no sentido de garantir que ninguém deixe de estudar por não ter condições económicas; (v) construir um aeroporto internacional na zona de Lisboa; (vi) estabelecer a ligação ferroviária de alta velocidade entre Lisboa e Porto e entre Portugal e Espanha; (vii) equipar todas as escolas com uma infraestrutura tecnológica e digital adequada aos dias que vivemos; (viii) aumentar as pensões de reforma mais baixas; (ix) investir em programas de transição energética que garantam a autonomia do país, com base em fontes renováveis; (x) garantir o ensino da língua portuguesa a todos os que a queiram aprender e residam fora de Portugal….

O dinheiro perdido dava para financiar todas as propostas anteriores e ainda sobraria uma parte muito significativa para outras áreas não referidas (defesa nacional, segurança interna, agricultura, ciência, etc.)

Foi aqui que chegámos e foi desta forma que hipotecámos, de forma séria, o futuro do nosso país. O que sobrou de tudo isto? Uma dívida pública gigantesca, a perda de soberania política e económica, uma emigração muito grande que nos levou os mais jovens e mais qualificados e, consequentemente, um sentimento de descrença na população portuguesa. Estamos mal e, quando deixamos de olhar no retrovisor, para olharmos para a frente, o que vemos? Nada de bom…

Portugal está, pois, numa coordenada negativa: chegámos aqui mal e daqui seguiremos mal. Para complicar ainda mais, as más previsões, juntou-se um vírus que poderá ter criado a maior crise económica e social das nossas vidas.

Este é o estado a que o Estado chegou…

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.